MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

terça-feira, 8 de março de 2016

Dia da mulher - História da mulher na FESTA...

Hoje é dia da mulher

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A Mulher Na Festa

Vou abordar o tema “A mulher e a FESTA”, no toureio apeado, no toureio a cavalo, no apoderamento e na critica, onde nem sempre tiveram a vida facilitada bem pelo contrário.
Mas, como já alguém escreveu “O toiro jamais pediu o bilhete de identidade; jamais quis saber se pela frente tem uma mulher ou um homem; o que sempre pediu foi valor, mais valor e muito valor e depois técnica.

Começo pelo toureio apeado.

Entre os primeiros nomes femininos que apareceram no mundo do toiro há a  destacar três:
No último quarto do século XVIII, uma mulher atreveu-se a rivalizar, com os nomes mais sonantes da época. Nicolasa Escamilla, La Pajuelera, chamou à atenção pelo seu invulgar valor.
Goya viu-a tourear em Zaragoza, onde  lidou um toiro, e imortalizou-a nas suas pinturas dedicadas à tauromaquia.  

O caso mais célebre e insólito, foi protagonizado por Maria Salomé, La Reverte. Dizem que foi valente, hábil com as bandarilhas, e eficaz com o estoque, e que a partir de 1908 assegurou que era um homem de nome Agustín Rodríguez para burlar a proibição do toureio para as mulheres, e continuar nas arenas.
La Reverte apresentou-se na praça de toiros do Campo Pequeno na temporada de 1902 toureando ainda em Algés e na Figueira, e segundo as prosas de então, agradou pela decisão e elegância como bandarilhou, e pelo bom estilo com o capote e muleta.
Com estas mudanças de sexo sem cirurgia, La Reverte não escapou á humilhação, de lhe chamarem Hemafrodita.

Um outro episódio singular foi passado com Juanita Cruz, também muito marginalizada pela lei.
A sua primeira actuação aconteceu em Cabra (Córboba) no ano de 1933, fazendo o paseíllo ao lado de Ramón Lacruz e de um então desconhecido Manuel Rodríguez Manolete como sobresaliente, numa tarde em que cortou os rabos dos seus dois novilhos, e que lhe valeu somar 33 novilhadas nessa temporada.
Juanita Cruz debutou em Madrid a 2 de Abril de 1936, com novilhos da viúva de Garcia Áleas.
Após a Guerra Civil foi viver para a Venezuela, e mais tarde converteu-se, na primeira mulher a receber a Alternativa, a 17 de Março de 1940 em Fresnedilla (México), tendo como padrinho Heriberto García com toiros de Cerro Viejo
 Ao longo da sua carreira participou em cerca de 700 festejos, dos quais 460 foram na América, e nunca vestiu taleguilla, usando vestidos de tourear com “saia – calça” bordada.
Juanita Cruz apresentou-se ao público português, no Campo  Pequeno, a 11 de Junho de 1933.
Como dado curioso regista-se o texto inscrito na lápide do seu mausoléu, do cemitério de La Almudena, em Madrid (uma escultura de tamanho natural, em que a toureira, aparece a brindar) e  onde se lê: A pesar del daño, que mi hicieron en mi pátria, los responsables de la mediocridad del toreo de 1940 a 1950 Brindo por España!.
Mais recentemente lembro-me de Mari Cruz que vi tourear em Queluz nos anos setenta, que veio depois a ter uma relação amorosa com o bandarilheiro e atleta celebre de luta livre António Augusto “El Indio Apache” de quem teve um filho.    Este Ant Augusto foi cabeça de cartaz, nos Espectáculos tipo recortadores organizados pelo Sr. Alfredo Ovelha.
Mari Cruz era uma toureira de sentimento e com certeza uma pessoa excelente, que alicerçou uma sólida amizade com a sr. dª Isabel Palha R. Telles, que eu testemunhei de uma vez que fui com mestre David e os filhos a França ver um cavalo, enquanto a srª de Ribeiro Telles ficou em Madrid com Mari Cruz para irem no domingo a uma Feira tipo Feira da Ladra, o que fazia com uma certa assiduidade, como me apercebi no decorrer da viagem.
Em Portugal distinguiu-se Ana Maria d’Azambuja, que conheci bem nos seis anos que trabalhei na casa Ortigão Costa e vivi em Azambuja. Ana Maria chegou a ser apontada como a grande revelação do toureio a pé.
 Foi a única mulher em Portugal a obter a carteira profissional, mas a sua carreira durou apenas dois anos. Ana d’Azambuja foi pressionada a abandonar um mundo onde havia apenas lugar para os homens.
. A mágoa de uma curta carreira, que durou pouco mais de dois anos, e que terminou depois de muitas pressões, de um meio proibido a mulheres, ainda se sente no olhar de Ana Maria.
Disse-me um dia: “Conheço a Cristina Sanches. Uma mulher matadora de toiros em Espanha que tinha todas as condições para ser uma grande toureira. Ela desistiu há menos tempo que eu e pelas mesmas razões. Para as mulheres o mundo dos toiros é um objectivo quase impossível”.
Ana Maria confessou-me que, ainda hoje não percebe a relutância de alguns homens do meio, em aceitar uma mulher na arena.
Se hoje ainda há alguns entraves na entrada das mulheres no Mundillo, há quatro décadas a situação era muito mais dramática. “O mundo dos toiros é complexo e difícil, mesmo para os homens, ainda mais para as mulheres!”.
Em 1968, altura em que Ana Maria entrou na actividade do toureio, empresários e toureiros preparavam autênticas armadilhas às mulheres que se aventuravam na arte. Os Matadores, recusavam-se a participar nas mesmas corridas, e chegavam ao ponto de armar ciladas, lançando na arena toiros já mexidos (já lidados), e colocando em perigo a vida de quem toureava. “E se a mulher mostrava que tinha valor era ainda mais difícil”, garantiu-me.
Ana Maria acredita que a forma como o público a acarinhava, incomodava os seus pares,    que sentiam o prestígio roubado por uma mulher.
Apesar dos entraves que já pressentia ao longo do seu percurso entregou-se de corpo e alma à arte.
Foi o meu amigo António Salema, seu professor e apoderado, que acreditou nela  incondicionalmente . Ensinou-a, e conduziu-a até ao limite possível da sua carreira. Na última corrida no Montijo, momento em que o mestre… a aconselhou a abandonar o toureio, Ana Maria foi colhida e quase perdeu a vida, depois de ter sido vítima de uma troca propositada de toiros. António Salema, um apaixonado pela festa brava, para quem o talento se sobrepõe ao sexo, lamenta a época em que Ana Maria apareceu nas lides, e disse-me uma vez ao serão, na já desaparecida tasca azambujense que curiosamente se chamava , Leitaria ideal, repito, Salema disse-me um dia: “Teve o azar grande de ser mulher, e de aparecer no mundo dos toiros em 1968”.
Dos exemplos mais recentes o destaque maior vai para Cristina Sanches.

No toureio a cavalo a história é substancialmente mais rica.
Em Portugal começa com Maria Mil Homens, que diz quem a conheceu, que com o capote e a muleta em tentadero demonstrava igualmente jeito e valor.
Com vossa licença vou ler um extracto de uma um trabalho meio entrevista, que foi feito por Mário Gonçalves para um jornal Ribatejano. Escreveu o autor:
Maria Mil Homens Chaparro, uma antiga cavaleira tauromáquica de Samora Correia, foi criada pelos avós no meio do campo, onde sempre teve contacto com os cavalos. Maria Mil Homens cedo percebeu o gosto que tinha pelo toureio a cavalo. Com 10 anos de idade já montava a cavalo. Era este o meio de transporte que utilizava quando tinha de ir fazer alguns recados aos avós. Conta que para conseguir subir para o cavalo precisava, muitas vezes, de se apoiar num banco de madeira.
Mas tudo terá começado, verdadeiramente, aos 15 anos de idade. Um dia, foi convidada para ir assistir a uma brincadeira com touros numa pequena arena existente na Herdade da Baracha (onde decorreu a Quinta das Celebridades).
Mal chegou ao local, foi logo convidada para ir tentar, tourear um pequeno garraio.
Inicialmente, diz que hesitou, até porque não tinha cavalo, nem roupa adequada. Rapidamente, lhe emprestaram um cavalo, uns sapatos e umas esporas. “Foi o primeiro ferro que espetei na minha vida”.
O sucesso do momento parece ter sido tão grande que o nome de Maria Mil Homens rapidamente se espalhou pelo meio taurino português. A cavaleira foi quase sempre uma auto-didacta. O facto de não ter dinheiro para pagar a quem lhe pudesse ensinar, levou-a a aprender quase sempre sozinha. A aprendizagem foi tão rápida que os convites para actuar, começaram a surgir de imediato. Participou em muitas dezenas de corridas nas principais praças portuguesas. “Lidei touros do Minho ao Algarve, sempre com praças cheias de gente”.
Maria Mil Homens chegou a actuar muitas vezes “de borla”. Era convidada a participar em corridas de beneficências para algumas instituições mais carenciadas do país. Sempre que a convidavam, respondia com agrado. “As pessoas não devem só pensar em ganhar dinheiro. É importante ajudar quem precisa”, defendeu.
. Os avós que a educaram dedicavam-se muito ao trabalho de campo, e não tinham muito tempo para acompanhar a neta. Diz recordar-se como se fosse hoje que “chegava na altura a ganhar dois mil escudos por corrida”. “Era muito dinheiro”. E só assim conseguiu comprar dois cavalos.
Apesar de todo o sucesso alcançado, esta samorense de gema, nunca fez do toureio a sua profissão exclusiva. Na altura em que não actuava, trabalhava no campo ao lado dos seus avós.
O grande momento da sua curta carreira, aconteceu em 1951. Nesse ano, foi convidada a participar em várias corridas de touros, que se realizaram em Angola. A sua actuação foi tão brilhante, que só conseguiu deixar o continente africano, ao fim de cinco longos meses de corridas. Conta que as suas grandes actuações foram em Benguela e Lobito.
Mas, na altura em que estava no apogeu da sua carreira prometedora, Maria Mil Homens acabou por desistir. “Aos 23 anos apareceu o casamento, e como o meu marido não via com bons olhos este meu sonho, acabei por desistir”. Diz que se fosse hoje, teria continuado. Mas, na altura, as raparigas não podiam sair de casa como acontece hoje. Logo depois do casamento, surgiram os filhos. “Foi o fim da minha carreira”, adiantou.
Logo depois de Maria ou mesmo em simultâneo surgem, Maria Da Graça, Nazaré Felicio e a seguir, Elisa Raposo, Dália Cunha ( destacada atleta do Sporting) e Gina Maria. Por fim aparece Conchita Citron, de todas a que mais se destacou no mundo, e que acabou por ser considerada Portuguesa por adopção.
Nos últimos Vinte anos Surgem: Marta Manuela, Mónica Monteiro (história do desastre – Hoje cavaleira dressage Paraolimpica) Ana Batista, Sónia Matias e mais recentemente Joana Andrade, Ana Rita, Isabel Ramos, As irmãs Sofia e Cláudia Almeida, Mara Pimenta, Maria Mira e mais uma ou duas que despontaram.
Há cerca de 20 anos toureou e bem, meia dúzia de corridas Rola Palha mulher do Dr. Filipe graciosa e Filha do falecido ganadero Sr. Fernando Palha.

Em Espanha, a primeira rejoneadora a ter uma certa notoriedade foi Amina Assis, a quem o cavaleiro Manuel André Jorge vendeu toda a sua quadra de cavalos após ter toureado uma corrida com ela.
Na época dos quartetos, surge um quarteto feminino interessante, que várias vezes tive o prazer de ver tourear, contituido por:
Antonita linares, Emy Zambrano  que chegou a tourear em Santarém, Lolita Muñoz e Paquita Rocamora
Mais tarde surge outro quarteto por ideia minha, proposta ao grande taurino Paco Dorado. Dirigi o quarteto enquanto este existiu, e minhas senhoras… não foi nada fácil.
Quarteto
Marie Sara, que Fracturou um pé, e acabou substituída por Patricia Pellen, depois de se experimentar uma corrida com Vitória Santana, com pouco geito,  e outra corrida com Julie Cavaliere, óptima cavaleira, boa toureira mas que em termos de conexão com o público, representava a alegria dos cemitérios .
Acabou o quarteto com Patricia Pellen, Raquel Orosco, Natalie, Ana Batista
E foi assim constituido, que foi apresentado na Figueira da Foz numa televisionada e no Campo Pequeno.
Conheci ainda na mesma altura, Camuci que era aciganada e valentíssima, mas por ser pobre não vingou.

Surge por fim Noélia Mota com valor, e de que já certamente ouviram falar.

Vamos agora falar de França.

Curiosamente, a primeira figura a fazer despertar os franceses para o toureio a cavalo foi uma mulher de nome Maria Gentis, nascida em 1870.
Maria, iniciada na nobre arte da equitação circense na academia de Paris, desperta para o toureio quando assiste às corridas à portuguesa, que se realizaram nesta cidade em 1889, nelas participando José Bento Araújo e Alfredo Tinoco, vindo este último a ser seu mestre e dizem que namorado…
 Apresenta-se em público nesta mesma cidade, no dia 24 de Maio de 1891, com o nome artístico de L’Amazone  Fin de Siécle.
     Dpois de tourear por toda a França, matando os toiros, retirou-se em 1896, na sequência de uma brutal campanha machista na imprensa, que influenciou o público até ao ponto de nada lhe perdoarem, convidando-a a regressar às origens, a ir para o circo, e chegou-se mesmo ao cúmulo de grupos organizados de machistas  levarem panelas para a praça, enquanto gritavam slogans do tipo: “à la cuisine” “á la cuisine” .Uns anos depois da retirada tempestuosa de Maria Gentis, surgem duas figuras que voltam a entusiasmar os aficionados: Albert Lescot e, principalmente, essa mulher notável, que o tempo veio envolver de misticismo, Emma Callais.
  Falemos então de Emma Callais, toda ela  uma história recheada de paixão, aventura, arte, vivência atribulada, êxitos e drama, muito drama, tudo isto mais tarde passado ao teatro numa peça dramática.
  Nascida em 21 de Dezembro de 1907, assiste pela primeira vez, com 15 anos ,  a uma corrida em que participava Albert Lescot que era figura á época.
 A partir desse momento, vive a obsessão de tourear a cavalo. mas a família não a apoia e só mais tarde, quando casa, em 24 de Agosto de 1930, com o seu mestre de equitação, Joseph Callais ( de onde lhe vem o apelido), consegue realizar o seu sonho, tendo-se apresentado em público em Raphéle no dia 15 de Agosto de 1931.
  Toureia então por todo o país , muitas vezes com Lescot, e, em 1934, abrem-se-lhe as portas de Espanha, tendo Barcelona, Saragoça, Salamanca, Valência e até Madrid – para só falar das praças mais importantes - aplaudido a sua arte e ousadia.
Três anos mais tarde, a França está em guerra, o marido é mobilizado e todos os seus cavalos são requisitados , com excepção do célebre ( Sultan- ferro Pébre ).
Depois desta fase agitada, Emma Callais reapareceu em 1942.
Durante os anos da guerra dedicou-se a preservar a selecção das ganadarias da região, cujos homens da casa tinham sido mobilizados.
Em 7 de Agosto de 1944, quando regressava de uma corrida de automóvel com a quadrilha, a caminho de Arles, o carro foi metralhado por um avião, que ainda hoje não se sabe se era alemão ou dos aliados, morrendo todos os ocupantes.
Que triste sina a desta mulher…

Surgem nos anos oitenta  Corine bernard (valentíssima), Marie Sara, Helena Gayral, Lória Manuel (gisellene Vautraut) estas duas apoderadas por mim e que viveram em minha casa.
Se fosse possível juntar a Coragem e decisão da Lória, com a intuição, toureria e arte da Helena, fazia a melhor cavaleira de sempre.
Surgem também Julie Cavaliere de que já falei e ainda Marie Pierre Calé.
Quanto á equitação toureira, quero destacar A mulher de Alvaro Domecq e  de Fermin Pai, a minha querida amiga  Mercedes Ibarra.   

Como empresária quero realçar Madame Poly, Francesa que bem conheci com o meu amigo José Zuquete, e que foi vários anos empresária de ARLES.

Na critica foi figura Marivi Romero directora dos programas taurinos da TVE, a quem os machistas fizeram a vida negra. 

No apoderamento e empresariado estamos na presença do trabalho de Marie Sara.

Por fim, como Aficionadas entendidas. recordo principalmente as Srªs Dªs Maria Amélia Infante da Camara, Maria Manuel Cid, Tareca Ramalho, Mercedes Ibarra domecq, Mirna giron Ricard.

As mulheres têm a sua história na FESTA...