MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quinta-feira, 17 de março de 2016

Nicolau, acima de tudo, foi um amigo...

Meu caro NICO :



Sabes bem o quanto eu tenho em conta o verdadeiro sentido da amizade, e o humor como factor fundamental de anti stress.
Conheci-te quando comecei a praticar Rugby e ía a Lisboa jogar. Nessa época fiquei várias vezes em tua casa, e assim nasceu uma profunda amizade, quando tu ainda não eras artista mas já apresentavas a graça e a sinceridade que te acompanharam toda a vida.

Existe, no entanto, um abismo separando o «ter graça» e o «ser engraçado». Conheço bem o sensato adágio português, transmitido de geração em geração sem alterar uma vírgula, que sublinha essa diferença entre as duas atitudes, enaltecendo a primeira como uma qualidade rara e positiva que tu tinhas, e denegrindo a outra como um vulgar defeito. 
Ter graça como tu, implica um exercício de contenção e inteligência, uma ginástica da linguagem e da intuição, servindo-se quem a produz da capacidade de efabulação e de humor, e em particular da ironia, como ferramentas para comunicar de forma original e criativa. Já ser engraçado é muito diferente, envolvendo antes um conjunto de artifícios, apoiados em frases feitas e imagens repetitivas, que é fácil de produzir desde que quem o tente conheça a dinâmica do sarcasmo e tenha propensão para a farsa.

De cada vez que convivemos ao longo de 50 anos, ficaram histórias polvilhadas com a tua graça, muitas delas repartidas com o Zé Zuquete e com o Chico Carreira no restaurante deste, situado no Parque Mayer, onde durante muito tempo poisávamos quase diáriamente.

São essas histórias que me assaltam a memóia neste momento, e que me atenuam a dor de te ver partir... 

Tudo o que vivemos juntos, na minha ou na tua casa, com os teus pais e com os meus, no rugby, nos toiros, nos raides hipicos, nos copos, na noite, no "bas-fond" do teatro do boxe e da luta, e no gosto pelas coisas simples da vida, guardarei só para mim, e ao pensar no teu passamento, termino para me animar, citando Woddy Allen, como tu citaste numa entrevista quando te falaram da morte : " O mundo é chato, mas ainda é o único sítio onde se pode comer um bom bife..."

Até sempre Nico !!!

João Cortesão