MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Elisio Sumavielle - O aficionado...



Elisio Sumavielle, um homem de cultura, fala da FESTA ao jornal ( i ) sem preconceitos...
Presidente do CCB argumenta que a tauromaquia faz parte do nosso património e não alinha nesta “sociopatia” pela qual os animais são transformados em pessoas


O presidente do Centro Cultural de Belém e ex-secretário de Estado da Cultura defende, sem hesitações, as corridas de toiros. Summavielle garante que a questão do sofrimento dos toiros é “muitas vezes mal colocada”.
Costuma ir a corridas de toiros e já defendeu publicamente a continuidade desta prática. O que o leva a defender a tauromaquia?
A tauromaquia faz parte do nosso património cultural. É uma manifestação patrimonial com tudo o que isso implica e, portanto, em cultura, as mudanças são sempre muito lentas. Levam muitos anos e, às vezes, séculos a mudar. Ninguém pode prever qual será o destino da tauromaquia daqui a 100 ou 200 anos. Pode até já não existir, mas neste momento existe e é uma festa popular. Essencialmente popular e mais característica do sul de Portugal, do Ribatejo e Alentejo. Há meio milhão de pessoas que anualmente assistem às corridas de toiros. Isto é um facto. O património cultural não se pode abolir por decreto.
É difícil assumir uma posição a favor das touradas quando há cada vez mais vozes a chamar a atenção para os problemas dos animais ?
Eu acho que há uma globalização que é positiva, que é importante, que é o triunfo da comunicação e da interação entre as pessoas, mas também há uma globalização negativa que é a do pensamento único. O pensamento único é aquilo que é mais fácil entrar no ouvido das pessoas, que é pouco estruturado e pode fazer com que as pessoas sejam enganadas por preconceitos. Aquilo que eu conheço é o amor das pessoas que estão ligadas aos toiros – e à criação do toiro de lide – pelos animais.
O argumento de que os toiros sofrem não o convence?
Eu acho que os seres humanos sofrem e, em muitas partes do mundo, sofrem desumanamente. A questão da dor, do sofrimento é muitas vezes mal colocada. É preciso conhecer bem a constituição de um animal com a bravura de um toiro bravo, que tem 500 ou 600 quilos, e saber que efeitos pode produzir uma picada de um ferro como estímulo, porque no fundo está ali a travar-se um combate, mas isso leva-nos a outra conversa. Mas eu gostava de recordar que, há um ou dois anos, toda a gente ficou a saber o nome de um cão que matou uma criança, toda a gente sabe o nome do cão, que é “Mandela”, e ninguém sabe o nome da criança que morreu. Isso, para mim, é sintomático deste espécie de globalização negativa.
É perverso?
Eu penso que sim. E vivemos num mundo em que as pessoas se sentem muito sós e procuram nos animais de companhia essas compensações, e acabam por transformar esses animais em pessoas. Essa transferência é complicada de analisar e diz muito sobre essa sociopatia que existe neste momento.
De que gosta mais numa corrida de toiros?
Tenho preferência pela lide à espanhola. Talvez por ter tido uma formação com muita influência da literatura. Os poemas do García Lorca… Toda essa gente que escreveu sobre o homem e o toiro, aquele combate entre a vida e a morte. É muito belo.