MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

P'ró amigo Dr. Pires da Costa...




A propósito da brilhante conferencia proferida pelo Dr. Pires da Costa em Badajoz, resolvi republicar o que dele escrevi há uns anos, e que consta no meu livro "P'RA QUE A TERRA NÃO ESQUEÇA"

José Manuel Pires Da Costa acompañado de su forcados y del presidente del Club Taurino


Dr. Pires da Costa:

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Zé Manel há uns anos atrás, convidaste-me para jantar com a intenção nítida mas não declarada de dizeres presente, em determinada fase da minha vida.
Registei a descrição, engoli em seco mais esta prova de amizade, e meditei sobre o que foste e o que representas no mundo, concluindo que por serem poucos os que te conhecem bem, poucos são aqueles que te dão o devido valor, porque também são poucos os que estão habilitados a conduzir á velocidade de ponta da tua forma de viver.
Nem eu precisava que me oferecesses aquele jantar, nem tu da carta que te escrevi, para provarmos a amizade que nos une e nos distingue, num mundo em que certos valores são o que são e em que a palavra amizade é amiúde tão maltratada.
Pela nossa amizade sagrada aqui vai outra carta com a espinhosa missão de te retratar “para que a terra não esqueça”.
Tu és dos poucos que restam que usam o humor como hábito de vida e prevenção contra o stress e enfermidades dele resultante num registo de amizade-versus- religião.
Poucos como tu são capazes de fazer praticamente a mesma vida com ou sem dinheiro .
Poucos como tu viveram o que tu viveste, e têm amigos em todos os países do mundo taurino.
Foste trampolim social p’ra uns tantos, que julgando depois navegar á bolina, mais não fizeram que pequenos percursos entre a bandeirola de grandes mas pobres vaidades e a bandeirola da tacanhez parola  (colocada a curta distância da anterior).
Salta á vista de toda a gente, teres dado a mão a qualquer que se abeirasse de ti, mas tristemente chego á conclusão que o feed-back desse teu altruísmo foi por vezes ténue ou mesmo praticamente sumido, acabando mesmo em alguns casos por se traduzir em traição e vil, recebendo de ti um sentimento de compaixão, quando na maioria dos casos o mínimo que se esperaria era desprezo quando não ódio.
È dos livros: são muito piores os traidores do que os inimigos declarados ou os que nos enfrentam de cara a cara!!! Esses podem ter dignidade… os outros nem por isso…
  No mundo da forcadagem pontificaste ombreando com os bons da tua época e não só.
Formaste um grupo de Forcados aos 23 anos, dando-lhe personalidade prestígio e mística, encarnando a cisão do outro grupo da tua terra onde te fardaste e chegaste a pegar 7 toiros em dois anos.
A própria cisão que não discuto e por isso não estou de acordo nem contra, foi á época resultante de questões políticas quando infelizmente a coisa política se imiscuiu em todas as actividades, e o mundo do toiro não foi excepção. Não hesitaste, como sempre tomaste uma posição, certa ou errada não interessa, que por sinal não era a mais fácil, marcando deste modo uma posição como homem inteiro e esclarecido em defesa da tua verdade que sempre procuras na causa das coisas ( continuo a dizer que não sei nem quero saber de que lado esteve a razão).
Pegaste ao todo na tua vida 74 toiros sendo o último aos 52 anos no festival de despedida de José Maldonado Cortes.
O teu grupo contigo pegou em Espanha (Valência Fallas, Barcelona e glória suprema em Madrid),  França (Nimes, Arles etc.).
Acompanhaste o grupo que fundaste a México, Venezuela, Macau, Grécia Califórnia numa verdadeira orgia de aficcion e orgulho naquilo que criaste.
Percorrendo o teu ecletismo passa-se pelo Rugby e paramos no cinema.
Muitos não sabem ou já não se lembram da tua participação no filme de Manuel de Oliveira “Non ou a vâ  Glória de Mandar” onde encarnaste a personagem do “Decepado” na batalha de “Toro” e de comandante das tropas a cavalo na batalha de Alcácer Quibir, acabando as filmagens contigo na Guiné e no Senegal.
Mas há mais:
Toureaste a cavalo mal ou bem não interessa, tocas viola, cantas fado, sabes montar a cavalo, sabes o que é um toiro a bater, sabes do toiro e do cavalo e aproveitas sempre do tudo e do nada para aprenderes, és vara séria nas largadas e no campo quer se trate de derribar ou ajudar num enjaulamento e do nada descobres o que é bom.
Socialmente;
  1. Quando queres arrasas com críticas mordazes ou mesmo assassinas, embebedaste quando te dá gozo mas nunca por obrigação, aprecias reservas ou vinho do ano, com largos anos de prática ainda só sabes pedir wiskie novo, velho ou Martin’s,  és pivot de conversas de salão, és a alegria de qualquer festa, não falas de marisco com um brilhozinho nos olhos, és o reboliço da tasca e do cabaret, sabes o que é cultura num país inculto e num meio particularmente avesso  ás coisas dum certo saber que emana da leitura e do pensamento, tens amigos á séria, foste amigo do Bacatum, não usas meias brancas, quando assumiste o verde seco como cor da moda de inspiração campestre, ainda a maioria jazia nos jeans e no blusão de cabedal, não dizes prontos nem obrigados, és Senhor por inerência, tens um curso superior duma Universidade clássica, tens de antanho uma história que vais enriquecer, e sabes pisar num salão e calcorrear as vielas dessas Lisboa e Sevilha que amamos.
A quando da resolução dos problemas criados pela reforma agrária, aí apareceste tu de valentia de baixo do braço, e com uma mochila carregada de generosidade  e patriotismo, dizendo presente onde muitos tendo interesses a defender, não apareceram  e sabemos bem de outros que fugiram. 
Em função do que escrevi até aqui, muitos tentam ser como tu, mas muitos mais, não o tentando por manifesto reconhecimento das suas limitações, lá no fundo gostavam de ser um Zé Manel ainda que em plástico…
Olhando p’ra trás vemos com facilidade as razões que levam a que sejas invulgarmente invejado!!!
John Karlzen dizia : “A inveja vem do abismo entre a vontade e a capacidade de poder ser”.
Quis a sorte que me tocasse um amigo assim, mas já a sorte não quis dar-me o talento para que melhor te retratasse, legando ao que fostes e ao que és apenas este escrito, “P’ra que a terra não esqueça” .