domingo, 14 de janeiro de 2018

Toiros- um crónica que se mantém actual...



Escrevi esta crónica há uns anos, inspirado num poema de D. Marilia Caetano, crónica que infelizmente se mantém actual….





Foge-nos entre os dedos, toda a areia,

Se na mão apertarmos um punhado,

Para conservá-la usemos do cuidado

Que tem a aranha a construir a teia….

Estas palavras sábias dum poema de Marília Caetano levaram-me ao reflexo das mesmas no “mundillo”, alagando-me a memória três evidencias actuais.

1º - As razões do êxito de alguns empresários.

A explicação é fácil. Oferecem ao público o que este quer ver, além de aligeirar os preços tornando o espectáculo acessível a mais gente, Fomentando assim a Festa, e o resultado de bilheteira de uma praça sua quase cheia, é com certeza maior que o de uma praça meia com preços altos.

Resumindo, plagiando a quadra que titula esta crónica, apetece dizer:

Não lhe foge das mãos a areia, porque não quer apertá-la num punhado.

2º - Os êxitos recentes da Forcadagem

A corrida tem que ter emoção, e se esta não lhe é dada pelo toureio a cavalo, o digníssimo público sedento dessa emoção vê nas pegas os momentos maiores. Acresce a esta circunstancia o facto de os toiros “Português Suave”, muito próximo do manso, reagirem forte por cobardia a serem agarrados, dando por isso pegas espectaculares. Não podemos também esquecer a razão forte, de se encontrar a arte de pegar num dos momentos mais altos da sua história

3º - O toureio a cavalo actual

Como me dizia há dias o mestre Simão Comenda.

No actual toureio a cavalo, salvo raras e honrosas excepções, imita-se o numero do A, do B, do C, tentando apertar na mão toda a areia(os números dos outros).

Poucos são os que desenvolvem um toureio próprio como faziam Batista, Zoio e Veiga e mais tarde Moura, Caetano e M. Jorge, por exemplo.

Hoje quase sempre recorta-se o toiro - tirando-lhe poder -, não o correndo.

Lembram-se que antigamente, no correr dos toiros começava a emoção?

Hoje, a emoção existe só nos primeiros curtos porque nos últimos já não há toiro nem talento para entusiasmar o público.

Atenção: “tem outro sabor um fim empolgante…”. (marotos!… Não me refiro ao que muitos estão a pensar)

E a propósito do que acabo de dizer no que toca á emoção duma forma geral e á originalidade de cada um, cito outro trecho da poetisa que inspirou esta crónica.

“A arena é tela do toureiro!

Nela terá que pintar

Com arte, com cor, com vida

O quadro ficará

Na mente de quem o vê.”

Poucas são as actuações hoje em dia (mesmo só um ferro)que ficam na nossa mente?

Dá que pensar…