Sabes bem o quanto eu tenho em conta o verdadeiro sentido da amizade, e o humor como factor fundamental de anti stress.
Conheci-te quando comecei a praticar Rugby e ía a Lisboa jogar. Nessa época fiquei várias vezes em tua casa, e assim nasceu uma profunda amizade, quando tu ainda não eras artista mas já apresentavas a graça e a sinceridade que te acompanharam toda a vida.
Existe, no entanto, um abismo separando o «ter graça» e o «ser engraçado». Conheço bem o sensato adágio português, transmitido de geração em geração sem alterar uma vírgula, que sublinha essa diferença entre as duas atitudes, enaltecendo a primeira como uma qualidade rara e positiva que tu tinhas, e denegrindo a outra como um vulgar defeito.
Ter graça como tu, implica um exercício de contenção e inteligência, uma ginástica da linguagem e da intuição, servindo-se quem a produz da capacidade de efabulação e de humor, e em particular da ironia, como ferramentas para comunicar de forma original e criativa. Já ser engraçado é muito diferente, envolvendo antes um conjunto de artifícios, apoiados em frases feitas e imagens repetitivas, que é fácil de produzir desde que quem o tente conheça a dinâmica do sarcasmo e tenha propensão para a farsa.
São essas histórias que me assaltam a memóia neste momento, e que me atenuam a dor de te ver partir...
Tudo o que vivemos juntos, na minha ou na tua casa, com os teus pais e com os meus, no rugby, nos toiros, nos raides hipicos, nos copos, na noite, no "bas-fond" do teatro do boxe e da luta, e no gosto pelas coisas simples da vida, guardarei só para mim, e ao pensar no teu passamento, termino para me animar, citando Woddy Allen, como tu citaste numa entrevista quando te falaram da morte : " O mundo é chato, mas ainda é o único sítio onde se pode comer um bom bife..."
Até sempre Nico !!!
João Cortesão