Em Defesa das tauromaquias populares que alimentam a aficcion ás corridas formais
Por José portela
A prostituição do toiro de lide
De
Março a Outubro de cada ano, decorrem de norte a sul do País várias
centenas de espectáculos taurinos de variadíssima génese e de tipologia
diversa.
Por José portela
A prostituição do toiro de lide
(Este
artigo de opinião é dedicado aos ganadeiros, aos grandes empresários
taurinos, aos médios empresários taurinos, aos pequenos e micro
empresários taurinos, aos organizadores de festejos populares taurinos,
aos autarcas das ditas cidades taurinas, ou seja, a todos aqueles que
produzem ou transaccionam o barro para fazer Tauromaquia, seja ela na
praça de toiros ou na rua.)
Das
corridas de toiros de aparência mais séria, tal como um concurso de
ganadarias numa capital de distrito, até à mais pobre largada com ruas
fechadas entre carroças e contentores do lixo, permanece um denominador
comum: O toiro.
Tal
como sabemos, o toiro é um animal que sentiu de geração em geração a
correcção das suas faculdades morfológicas, e não só, com vista a um
único propósito: a sua lide.
Posto
isto e á luz do século XXI, há que defender o toiro de lide em qualquer
circunstância, até porque se não formos nós, os aficionados, a
defendê-lo coerentemente, haverá sempre alguém que o venha socorrer
radicalmente.
Assim
sendo e passando ao assunto, confesso que me custa ver ano após ano, o
fenómeno da “prostituição” pura e dura do toiro de lide, traduzida na
sua utilização abusiva e imprópria. Percebo que o termo é forte, mas não
me ocorre outro.
Os
mais tradicionalistas e acomodados, dirão com certeza que o toiro é
propriedade de alguém, e que se esse animal teve a sorte de nascer,
então deverá ter uma utilização infinita de acordo com a sanidade dos
seus cascos.
Pois
bem, eu acho exactamente o contrário e concluo que é uma vergonha para a
Festa em si e para os próprios aficionados, a forma como se trata a
maior parte dos toiros em Portugal após a perda da sua pureza. E aqui os
culpados conhecem-se e cumprimentam-se de longe!
Depois
de 3 ou 4 anos de vida saudável na sua ganadaria de origem, e após
demonstrada a sua imaculabilidade na praça de toiros (algumas de
primeira categoria), muitos toiros acabam transaccionados de forma
grosseira e embarcam numa vida completamente inversa àquela para que
foram criados.
Perdida a sua pureza, perdido o seu valor! Faz lembrar algo, se faz…
Seguem pois, para uma campanha sem lei nem regulamento, baseada em anos a fio de largada em garraiada e de camião em camioneta.
E onde esta a nossa coerência?
Por
um lado, afirmamos em tertúlias de amigos que a morte do nobre toiro na
arena seria a mais justa e adequada e, por outro, acendemos mais um
cigarro quando da bancada vemos o miserável bovino a regressar aos
currais, sabendo á partida que mais de metade dos toiros em Portugal,
seguem para um mercado paralelo.
O
facto de não se poder matar o toiro em praça, não condiciona o seu
abate num matadouro oficial após a lide, custe o que custar a quem fica
sem as mais valias!
Sem
querer mergulhar nesse sub-mundo do marchante de toiro de lide, esse
“Job” que até já dá status na Festa, sinto no entanto o dever e a
obrigação de o contestar.
É
preciso por isso, fazer algo que trave este fenómeno que, se por um
lado continua a encher os bolsos de uns, por outro está a desvirtuar o
conceito de ganadaria tal como a conhecemos.
Mas
no meio desta rotina, não é só o toiro como animal que sai prejudicado,
mas também a Festa propriamente dita, senão vejamos: Ao passo que em
Espanha, em comunidades como Valência, Madrid ou Salamanca, os toiros
que vemos nas ruas tem cada vez mais qualidade, ou seja, são (cada vez
mais) integralmente puros, em Portugal passa-se exactamente o contrário.
Do
meu ponto de vista, é constrangedor presenciar festejos populares
taurinos, como as Festas de Vila Franca de Xira, Moita ou Azambuja, com
milhares de pessoas a assistir, e centenas de recortadores (cada vez
menos), a dar o corpo ao manifesto e, dos currais sai tudo aquilo que
nunca devia sair. É isto que também ajuda a matar festa.
Em
contraste, é com alegria que vou aos encerros de Ciudad Rodrigo ou de
San Sebastian de Los Reyes assim como a pueblos “pobres” de Espanha, e
vejo quase sempre novilhos ou toiros puros, para desenvolver aficion e
dinamizar o comércio do toiro à porta da ganadaria de origem.
Será
só uma questão de financiamento? Pois não será com certeza! Julgo que é
mais uma questão de interesses económicos em prol de um sistema
instalado, mas que terá os anos contados, levando consigo a Festa.
Constato
pois, que ano após ano, em Vila franca de Xira, na Moita ou na Azambuja
os toiros são cada vez mais para os tolos e para os bêbedos, até porque
se há toiros a 200€, pois venham eles que fazem a festa na mesma!
Quer
queiram quer não, meus amigos: “O país que desprezar o integridade do
toiro e a tauromaquia popular, fica mais tarde ou mais cedo sem corridas
de toiros.”