A vida, a obra, a morte e o legado de José Maria Cortes
A Vida
Á falta de talento neste momento conturbado, para falar da vida, socorri-me deste poema de Vinicius de Morais :
Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho Senão uma grande angústia obscura em face da AngústiaQuem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?
De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra Que se destrói à presença das fortes claridades Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério E cuja forma é prodigiosa treva informe?
Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino Rio que sou em busca do mar que me apavora Alma que sou clamando o desfalecimentoCarne que sou no âmago inútil da prece?
A obra
Passar pela vida e deixar constância numa obra que se herdou ( Grp de Montemor), é só possivel para aqueles com personalidades psicologicamente densas, imtemporais e vivas, que o destino pde estrangular mas nunca apagar.
A necessidade da superação com base no sentimento da amizade numa sociedade tão pouco solidária como a actual, torna um homem superior na sua verdadeira realização pessoal para quem não passa por acaso pela vida. Na forma como encarou o desporto, o ser forcado e a vida, José Maria Cortes deixou obra, ainda que voluntáriamente tapado pela modéstia, mas vivo pelo exemplo.
A morte
A morte, passamento, ou desencarne é o cessamento permanente das atividades biológicas necessárias à manutenção da vida de um organismo, mas ainda que o misticismo de certas crenças transportem as pessoas para além deste final para uma vida no além, há aqueles cujo exemplo perdura .
Amando muito, vivendo em amizade intensa, vive-se mais após a morte. Hoje podem dizer os amigos do grupo, que a metade das coisas que fazem são do Zé Maria, ainda que hoje esteja reduzido a pó. Os grandes forcados como ele, continuam vivendo em cada um de vocês que vestem a jaqueta do Grp de Montemor...
O exemplo do Zé Maria, foi com ele para além da morte. Na generosidade dos transplantes: o morto que doa o seu coração ou os seus rins, continua batendo e purificando o sangue no transplantado. Isto é: continua vivendo em alguém. Todo o acto de amor, toda a obra bem feita é perdurável no transplante de alma cedido a um desconhecido que vive dele e com ele...
Lembrando a morte de um jovem cito "José M. Escribá" . "Já viste, numa tarde de Outono, cair as folhas mortas? Assim caem todos os dias as almas na eternidade. Um dia, a folha caída serás tu.
O Legado
Neste momento, todos os amigos e sobretudo o Grupo de Montemor, têm que reagir pela positiva, assumindo como legado do amigo que partiu, a alegria de viver, o exemplo de desportista, o conceito de amizade, a forma de estar e ser forcado, bem como a seriedade do homem, juntando tudo isto temos a dimensão do homem, por quem Nª Senhora da Visitação (Padroeira de Montemor) vai interceder certamente...
Gostaria de dar a este escrito o carácter épico mais que merecido, mas faltou-me o talento, restaram-me estas reflexões modestas, dando á comunidade taurina a expresão do meu sentir adornado no final com um poema de Zeca Afonso, que vos fará pensar ... Pra que a terra não esqueça...
A morte Saiu á rua
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar sem nome
Pra qualquer fim
Uma
Gota rubra
sobre a calçada
Cai
E um rio
De sangue
Dum
Peito aberto
Sai
Teu sangue,
Pintor, reclama
Outra morte
Igual
Só olho
Por olho e
Dente por dente
Vale
À lei assassina
À morte
Que te matou
Teu corpo
Pertence à terra
Que te abraçou
Aqui
Te afirmamos
Dente por dente
Assim
Que um dia
Rirá melhor
Quem rirá
Por fim
Na curva
Da estrada
Há covas
Feitas no chão
E em todas
Florirão rosas
Duma nação