"Exmos homenageados e seus representantes;
Minhas Senhoras e meus Senhores;
Aficionados;
Em nome da Associação de Tradições e Cultura Tauromáquica, gostaria de agradecer a presença de todos e deixar claro que significa, para nós, um enorme orgulho recebê-los neste jantar que representa, simultaneamente, a primeira edição, do que esperamos muitas, em que pretenderemos homenagear figuras de especial relevância da Tauromaquia nacional. Em meu nome pessoal, se me é permitido, gostaria ainda de salientar o gosto especial que tenho em recebê-los na minha terra.
Este não é, nem deve ser, considerado um jantar de atribuição de prémios, tão em voga hoje em dia, mas sim, e apenas, a forma que a Direcção e Órgãos Sociais da ATCT encontraram de poder distinguir pessoas e agentes da Festa que, pela sua particular importância, contribuem, ou contribuíram, de forma relevante para a Tauromaquia em Portugal.
Eleger um Sócio Honorário, ou atribuir uma Menção Honrosa significa, para a ATCT, reconhecer publicamente, no presente e para a posteridade, alguém merecedor de distinção entre os seus pares, pelo facto de se ter destacado, de forma especial, no desenvolvimento, defesa e divulgação da actividade, neste caso a Tauromaquia Portuguesa.
Felizmente, muitos eram, e são, merecedores desta distinção, havendo tempo, no futuro, de corrigir alguma injustiça que, involuntariamente, tenhamos cometido. É enriquecedor podermos olhar para a nossa história, de que tantas vezes desconhecemos os pormenores, e constatarmos tantas pessoas especiais que nos enriqueceram enquanto aficionados, e nos responsabilizam enquanto Associação.
Se não o fizéssemos, ou simplesmente não tivéssemos a capacidade de relembrar, arriscaríamos perder tudo aquilo que somos no presente, aquilo que nos caracteriza, e nos permitirá projectar o futuro. Os agora distinguidos foram, e são, pessoas que, nas mais variadas áreas, souberam ter a sua visão futura e partilhá-la, ajudando a construir algo de que todos fazemos parte e nos orgulhamos enquanto aficionados, e pelo qual a Associação de Tradições e Cultura Tauromáquica diariamente luta.
Lamentavelmente encontramo-nos hoje numa encruzilhada especial no que ao futuro da Tauromaquia diz respeito. Se muitos escolhem referir-se ao presente como o advento do crepúsculo da Festa Brava no nosso País, na ATCT preferimos, antes, encarar este presente, e os desafios com que somos confrontados, como uma oportunidade fantástica de mudança.
Taurinamente, vivemos no País do “amigalhaço”, da “pancada nas costas” e do “porreiro pá”, contribuindo para que se vão delapidando os valores que sempre caracterizaram a Festa Brava, e que deveriam, aliás, devem ser, acima de tudo, preservados. Continua a pensar-se, a executar-se, e a servir-se uma Tauromaquia ao público, exactamente como há três ou quatro décadas atrás, o que gerou uma afición oscilando entre uma minoria cada vez mais exigente, e uma larga maioria desinteressada.
Vivemos no País dos debates, dos colóquios, dos fóruns, mesas redondas e “jantaradas” que, se por um lado seriam indispensáveis à partilha de ideias, se deixam mergulhar num lamentável folclore, sem que se vejam, na prática, resultados positivos aplicáveis às necessidades do momento.
Mas vivemos também num País taurino onde o que se faz é muito pouco, e onde a vontade dominante parece ser o boicote a quem quer fazer!
Assim, o movimento associativo que deveria traduzir uma consciência social acerca de um problema particular, permanece numa espécie de “banho-maria” limitando-se a reagir, a espaços, aos ataques de que somos alvo, camuflando a inactividade e justificando as suas existências, sob a capa do fantasma anti-taurino que, por estes dias, parece ter-se transformado na cola que mantém coesas as coisas.
Na ATCT a visão e objectivos são outros, e assumimos. Não pretendemos ser mais uma associação que se deixe acomodar ao “status quo”, ou que se coloque na confortável posição do trabalho de bastidores. Entendemos, aliás, que as associações não podem, nem devem, apresentar-se aos aficionados e agentes taurinos, como simples actos de fé, como algo que não se vê, que não se sabe se existe, mas em que todos devem acreditar.
Tal como escreveu Fernando de Sommer d’Andrade, na sua obra Toureio a Cavalo, “não se pode apreciar aquilo que se desconhece, aquilo cujo fim e meios para o atingir, estão fora das nossas possibilidades de crítica.” Obviamente que o autor se referia a entender o toureio em praça mas, por afinidade, pode estabelecer-se um paralelismo com o referido movimento associativo, entendendo claramente que ninguém se poderá identificar com aquilo que desconhece, e que de nada valerão os lamentos se a abordagem for esta.
Por essa razão, destaca-se a ATCT como a única plataforma de defesa e promoção da Festa Brava que revela publicamente os seus planos de acção anuais, para que todos os sócios, simpatizantes, aficionados e agentes taurinos os possam conhecer e, se for esse o caso, simultaneamente, reconhecer-se no trabalho que nos propomos realizar. Mais, ainda, quando na perseguição desse objectivo primordial de transparência, e mesmo sem que a isso fossemos obrigados, assumimos que, a partir do presente ano, tornaremos também publicas as contas da associação.
Estamos conscientes das dificuldades que se apresentam, tal como sabemos o que fazer para as enfrentar. A logica dita-nos que um sector que se permita enfraquecer, se tornará vulnerável a qualquer ataque, por mais fraco que ele seja. Admitamos, de uma vez, que os grandes desafios da Tauromaquia neste início de seculo, são precisamente os que se encontram dentro do sector.
O alarmismo com que se abordam e difundem as notícias relativas à Tauromaquia, parece arrastar-nos para uma permanente posição de defesa fragilizada, que em nada beneficia a grandeza da Festa Brava. Assustamo-nos ao ler uma notícia de jornal que indica o ano de 2013 como aquele que menos espectadores teve em praça, mas esquecemo-nos, como obrigação, a comparar os números aos do cinema, do teatro, e até do futebol.
Multiplicamo-nos em comentários fatalistas sobre o artigo vigésimo sétimo do decreto-lei ontem publicado, acerca da classificação especial atribuída para maiores de 12 anos e para os espectáculos tauromáquicos, mas esquecemo-nos de ler o diploma completo. E assim vamos tratando os assuntos da Festa, em permanente estado de frenesim que, estamos certos, não ajudará nada, nem ninguém.
É tempo de parar!
É tempo de criar em Portugal um organismo que possa regular o sector com a seriedade que este merece. É tempo de entregar os assuntos da Festa a quem realmente os perceba, mas que seja, simultaneamente, merecedor dessa confiança. No fundo é tempo de criar um organismo que, à semelhança do que se passa no desporto, nas artes, e na cultura em geral, possa estabelecer metas e normas de conduta, mediar conflitos, prevenir e, sempre que necessário, punir comportamentos desviantes.
A ATCT está consciente do papel que pode desempenhar. Não temos pretensões que vão além de colocar o nosso trabalho ao serviço daquilo em que acreditamos. Pretendemos, isso sim, ser uma associação geradora de afición, transparente e pautada por princípios de respeito pelo passado que nos foi legado, e que possa contribuir para a garantia de um Portugal em que, no futuro, aos nossos filhos e netos, possa ser oferecida, em liberdade, a escolha entre assistir, ou não, a uma corrida de toiros."