O cavalo e a equitação toureira...
O cavalo e a
equitação no toureio
Este é o tema que vou
desenvolver tentando atravessar a evolução deste nobre animal, no mundo do toureio :
Vou começar com a
abordagem de alguns pontos na nascença desta disciplina hípica ligada ao
toureio, ou desta manifestação de arte tauromáquica, duas designações que no fundo são uma e a mesma
coisa.
Com facilidade -
seguindo a lógica – chegamos aos primórdios do toureio a cavalo.
Torna-se evidente que o
mesmo nasceu do contacto do homem montado, na caça e na lide do gado no campo.
È igualmente evidente a
utilização das raças autóctones para o efeito.
Esta actividade hípica
veio mais tarde a ser ajustada ao treino dos cavalos para a guerra, sobretudo
em Espanha e Portugal.
No nosso país a
história data de vários séculos, e a selecção da raça hoje dita lusitana, tal
como a própria equitação á portuguesa
têm vindo a evoluir como é natural.
O cavalo e a equitação
que vemos nas gravuras antigas que representam torneios medievais, onde já se
lanceavam toiros a cavalo, mostram-nos á evidencia, o que acabo de dizer.
Quero acrescentar ainda
a propósito desses torneios que exercícios como a “cabeça do turco” e o “estafermo” eram
óptimos para o desenvolvimento da destreza porque exigiam maleabilidade e
domínio do cavalo, em ligeiras aproximações ao que no toureio lhe era exigido.
Assim é que no que diz
respeito ao cavalo, ouve sempre a preocupação de produzir animais de dorso
forte e não muito longo, pescoço desenvolvido, cabeça pequena, grande agilidade, corvilhão baixo, boa
espádua e bom rim que permitissem assim uma melhor reunião do animal, resultando
daí um recuo do centro de gravidade, que conduzisse a que este se voltasse num
mais pequeno espaço.
Diz-se e com razão que
foi este cavalo tipo, que permitiu a vitória em muitas batalhas nomeadamente em
Aljubarrota, quando quebrado que foi o quadrado, em que se dispunham as nossas
tropas, logo atacámos pelos flancos rodando num palmo de terreno, apanhando
assim o exército inimigo de surpresa.
Àh !!! esquecia-me de
duas particularidades do nosso cavalo, quiçá o que mais o distingue das outras
raças….
Trata-se da valentia e
da agressividade…
Com este tipo de cavalo foi criada a escola de
toureio donde nasceram as sortes clássicas de toureio á Tira, á Meia Volta e em
Terrenos Sesgados.
Logo que se começou a
tourear de frente, ao piton contrário e mais tarde a quiebro, as dificuldades
aumentaram no que toca ás montadas que na maioria eram deficitárias em
elasticidade.
Começou aqui a era dos
cavalos cruzados, mantendo-se sempre os lusitanos de eleição.
Quanto aos
“luso-árabes” foi mais ou menos pacífica a sua utilização, já quanto aos
“anglo-lusos” e aos “luso anglo árabes” as coisas complicaram-se pois que a
própria forma de montar á portuguesa, devidamente escarranchado e unido ao
arreio, fazia com que no momento do ferro, houvesse como que uma forte ajuda de
“assiete”, que levava a um comportamento brusco do
cavalo.
No principio desta fase
era vulgar encontrar cavaleiros menos académicos a desenrascarem-se melhor,
perdoem-me o termo, por não se unirem tanto ás montadas e porque lhes davam
maior liberdade na boca.
Até esta altura era
escola empurrar os cavalos para cima da mão mantendo-os encostados ao freio.
Hoje este problema está
mais ou menos esbatido em função da monte dos cavaleiros mais adaptada ao tipo
de cavalo “cruzado Português”, que na maioria dos casos já leva também várias
gerações de cruzamentos que levaram a uma consequente adaptação com vista ao toureio,… enquanto que
no que se refere á boca dos cavalos o novo conceito de liberdade criado pelos
SR:s “gnral Phillis e Bauchet ”, foi desenvolvido no nosso país pela escola
do “general Jara de Carvalho”…… a que
mais tarde Mestre Nuno de Oliveira deu profundidade e classe.
Hoje a realidade do
cavalo cruzado é tal que já vemos pelo menos dois cavalos cruzados de
hanoveriano a tourear, sendo um deles muito bom (curiosamente com o ferro da
ass. De criadores de Aveiro) e o outro extraordinário.
Em Espanha, a realidade
foi diferente.
Até ao aparecimento de
“D. António Canñero” farpeava-se o toiro em redondo ou em caracoleo que era
quase a mesma coisa.
Cañero eis militar de
cavalaria, trouxe para o toureio um misto da disciplina militar hípica e da
doma vaquera a que aliou a espectacularidade dos ares de escola, sem nunca
tirar o toureio a cavalo no seu país, do chamado numero do cabballito.
A base da sua equitação
era primária, mas nem tanto como a defeniam os seus detractores, que a resumiam
ao conceito de ferro á frente e ferro atrás, que se traduzia em grandes freios
e grandes esporas.
Tinha no entanto a
vantagem de ao enforquilhar-se na montura e raramente se unir a ela, pois o
contacto era feito com as coxas apoiando-se permanentemente nos estribos, não
interferia desse modo no dorso do cavalo.
Mais
tarde, Angel
Peralta, refinou este conceito e começou a fundi-lo com a equitação á
portuguesa através do contacto com o Eng. José Samuel Lupi e das visitas
que
fazia com regularidade ao nosso país, bem como do contacto com mestre
Diogo Serrão que esteve uma temporada a trabalhar consigo..
Angel Peralta, homem
superiormente inteligente, começou a comprar sementais em Portugal tendo hoje
uma coudelaria da qual saem muitos cavalos toureiros.
Foi no entanto com Diego Ventura e Pablo Hermoso de Mendonça
que se deu a grande explosão do toureio a cavalo em Espanha e a afirmação plena
do nosso cavalo.
Apareceram com quadras quase exclusivamente portuguesa.
Aproximaram a sua equitação da nossa , tornando-se por isso e não
só nos grandes importadores de novos conceitos do cavalo e da equitação.
Da
“doma vaquera”
aproveitaram como conseguir a sujeição, aliaram-lhe a flexibilidade e
mesmo o
arreio típico de Espanha que com Alvarito já tinha sofrido o enxerto do
arção
na frente (Quando montava o Òpus) com estes veio a sofrer ainda outra
transformação que se traduziu no encaixe da concha numa base de cela
portuguesa, ou numa montura mais leve e mais fina, que lhes permite uma
maior ligação á montada.
Os franceses não têem
uma história tão rica, no entanto têm a sua história que começa Nessa terra
mágica a camarga, com esse ser extraordinário que é o celebérrimo “Crin Blanc”.
Depois do aparecimento
do toureio a cavalo com Marie Gentis (a quem chamaram: L’amazone Fim
de Siécle”que fez a sua aprendizagem com Alfredo Tinoco e José Bento Araujo,
aquando da presença destes em Paris quando
aí tourearam vàrias vezes. Surgiu então Emma Callais Com Albert Lescot
que toureou por toda a Espanha e até em Madrid e de quem d. Romano dizia ser
tão bom como qualquer Espanhol incluindo Cañero. Teve este homem o mérito de
fazer a transicção do crin Blanc para o berbere eternizando o cavalo “Marabut”
desta raça.
Depois destes Surgem
Charles FidanY e André Rebufatt que esses sim , pelo contacto com Simão da
Veiga a quem vêm tourear e adquirem cavalos, começam a querer estabilizar a sua
própria escola
Não quero acabar sem vos
ler alguns pensamentos que são uma ternura sobre o cavalo, da autoria de Angel Peralta:
Abusando del comando se
subleva el caballo
Al caballo que mira de
frente… le gusta la verdad de la bravura
Los caballos que
torean, desafían a la muerte bailando
Los caballos sin
voluntad, no se pueden dirigir
La estrella de la
espuela orienta al caballo
Al caballo, como al
hombre, lo doma el tiempo
João Cortesão