A tradicional Feira de S. Martinho globalizou-se, com o que isso tem
de positivo, mas também de negativo, já que as estruturas básicas são
as mesmas e a tradição esbateu-se nos modernismos que atentam contra as
recordações do passado.
A
Feira hoje já não é popular, e se é verdade que a qualidade dos
equideos melhorou substancialmente, já em termos de equitação, a
qualidade, o saber e o bom gosto foram sendo alterados em muitos casos,
pela presunção "parvenue" dos alpinistas sociais, que enchem os
alcatruzes da nora da vida, no movimento ascendente, nora essa que
atravessa na horizontal todas as famílias. Lá diz o ditado : Não
procures geração, porque encontrarás, puta, padre, paneleiro ou
ladrão....
A GOLEGÂ de HOJE...
A
"Água pé" e o abafado desapareceram quase por completo, dando lugar ás
cervejolas, ao Whisky e mais recentemente ao Gin, que se bebe com tudo
até com pepino. A Rainha mãe bebia diáriamente o seu gin sem nada dessas
porcarias que lhe misturam hoje... mas era a Rainha Mãe...
As
tascas que serviam dobrada, bacalhau com grão e uns frangos á cafreal
ou no espeto de duvidosa qualidade, têm hoje como sucedâneos os
grelhados de carne de Arouquesa, Alentejana, Mirandesa etc... ou então
os porcos empalados cujo o tempero melhora com a poeira levantada pelos
caminhantes e pelo perfume dos cagados dos cavalos...
A
falta de sitíos para as pessoas se sentarem para descansar, é notória
como aliás sempre foi, com a agravante de que agora há muito mais gente e
os lugares são os mesmos, e ainda por cima muita malta nova perdeu o
respeito pelos mais velhos e alapam-se ás cadeiras a beber, a dormir e
por vezes a vomitar sem se lembrarem de dar os lugares ás senhoras e aos
mais velhos, com problemas nas ancas, nos joelhos, nas costas e noutros
sítios que não devem ser chamados para este assunto.
O
cheiro da merda dos cavalos é pestilento, nada comparado com o cheiro
quase agradável da merda antiga, do tempo em que os cavalos não eram
alimentados com rações compostas.
As
noites são infernais, com uma mistura de bebados e bebedas, a que se
junta música em altos berros, flamengo foleiro, ténis de todas as
marcas, camisolas de Rugby, umas T'shirt's de uso feminino descaídas que
deixam o ombro á mostra, bem como uma alça do soutien, normalmente com
laivos de sujidade da boa.
Actualmente
já não se houve frases do genero: Apresenta-me a tua prima ou a tua
amiga. Está quase tudo apresentado e a tutear-se, e muitos a comerem-se
como se não houvesse amanhã..
Os
urinois públicos são os mesmos mas com bichas maiores á porta e a urina
a invadir todo o chão como se das cheias de Lisboa se tratasse. As das
senhoras, não sei mas faço ideia....
Encontrar
com quem falar de cavalos e equitação com propriedade e humildade é tão
dificil como encontrar um "milho-rei" numa escamisada...
Os
capotes Alentejanos que tinham as suas cores genuínas, foram
adulterados por todas as cores. Só me falta ver os capotes com a marca á
vista tipo "LACOSTE". Já há selas Azuis cueca, vermelhas e verdes...
Nas casas de comidas só há vinhos Alentejanos e do Douro, nada de vinhos ribatejanos...
As
linguas Portuguesa, Alentejana, a Espanhola e mais tarde a Francesa,
que se falavam na feira, deram origem a uma invasão de tantas outras
linguas, que mais parece que a Golegã é uma "Torre de Babel"...
A Golegã de hoje é diferente; será que a malta nova é que sabe ???...
Antigamente,
quando comecei a ir à Golegã éramos levados na paixão pelos cavalos e
pela equitação, e depois bebíamos uns copos e por vezes havia brigas.
Hoje em dia é ao contrário, a malta nova vai à Golegã para beber uns copos às vezes brigam e vêm passar uns cavalos.
Mudam-se os tempos... mudam-se as vontades.
Também
eu, nos meus tempos de jovem, apanhava na feira - além dos cavalos -
grandes "cadelas", mas havia um aspecto marcante em relação aos dias de
hoje, que se resumia no facto de estarem menos meninas na feira do que
acontece agora, e ainda por cima, as que lá iam eram ponderadas,
recatadas, discretas e virgens. Hoje não é assim, tirando as excepções
que sempre confirmam a regra.
Como devem imaginar não sou puritano, falo disto por invejoca..
Ahora com os meus 70 anos, a feira, para mim só existe até á hora de jantar, e ás vezs, sabe se lá com que sacrificio...