Mais um excelente artigo de António Paula Soares, que com a devida vénia publicamos..
Animalismo em modo cata vento...
Finalmente começa-se a assistir a uma verdadeira interpretação das
estratégias dos movimentos animalistas, claramente espelhada nas suas
mais recentes publicações nas redes sociais e em entrevistas aos órgãos
de comunicação social.
Para estes movimentos, é cada vez mais
claro que existem duas formas de interpretar a democracia. Ou seja,
vivemos num País democrático quando se torna necessário que a sociedade
aceite as suas ideologias, mas a democracia já tem outra interpretação
totalmente diferente, quando se coloca a situação, que para eles é
incompatível, de quem não comunga das suas ideias.
Mas, nem tudo é
mau. Quando eu pensava que as ideias não poderiam estar mais
desfasadas, eis que me deparo com as recentes declarações públicas do
deputado do PAN nas redes sociais, quando tenta fundamentar as opções do
seu partido a favor da eutanásia de humanos:
"Num Estado de Direito,
deve ser permitido a cada um de nós, tanto nos aspectos mais banais,
como nas áreas mais íntimas da existência humana, o poder de conformar a
nossa vida de acordo com as nossas próprias convicções. Cada pessoa
deve ter o direito a viver de acordo com a sua visão do mundo, não
devendo esta ser imposta por terceiros."
Refere ainda no mesmo
texto que "O Estado está, de um modo que qualificamos como
inconstitucional, a ditar às pessoas o modo como estas devem gerir a sua
vida."
Ora senhor deputado, pela primeira vez não poderia estar
mais de acordo consigo, de facto tem toda a razão do mundo. Num estado
de direito deve mesmo ser permitido a cada um de nós ter o poder de
conformar a nossa vida de acordo com as nossas convicções. E já sabemos
de antemão, que as suas convicções são, entre muitas outras, as
seguintes:
- Proibir a caça, porque não concorda com ela
- Proibir a pecuária e o consumo de carne, porque não concorda que se coma carne
- Proibir a pesca e o consumo de peixe, porque não concorda que se coma peixe
- Proibir a tauromaquia, porque não concorda com as touradas
- Proibir a agricultura convencional em detrimento exclusivo da agricultura biológica
- Proibir o consumo de leite, porque acredita que os humanos não o devem beber
- Proibir a criação de raças puras de cães e gatos, e de todas as outras raças puras, pois não concorda com a criação de raças
Mas,
e segundo as suas próprias palavras, se quer estar em democracia e não
ser um extremista, apenas lhe restam as seguintes opções:
Se não
gosta de caça, não cace. Se não gosta de carne, não coma carne. Se não
gosta de peixe, não coma peixe. Se não gosta de touradas, não assista.
Se não concorda com a agricultura tradicional, compre apenas produtos de
agricultura biológica. Se não gosta de leite, não o beba. Se não gosta
de cães e gatos de raça, não adquira um animal de raça.
Certamente,
e em democracia, ninguém será contra estas suas opções e dos seus
apoiantes dos movimentos animalistas, e ninguém estará contra que tente
conquistar o máximo de apoiantes para as suas causas, e que adoptem o
estilo de vida que mais se enquadrar com as mesmas.
Não acredite é
que democracia seja também tentar proibir por decreto todas as
actividades que vão contra as suas ideologias, pois isso não é aceitável
num estado de direito.
Ter um tipo de democracia consoante dá
jeito defender a eutanásia de humanos, mas entrar em modo totalmente
dissonante, ao sabor do vento, quando já lhe interessa restringir as
liberdades de uns pela vontade de outros, já é retirar os direitos a
muitos pelas imposições de poucos terceiros.
Mas como até nem
discordamos em tudo, e após estas suas declarações, todos os que
defendemos os sectores de actividade que têm vindo a ser atacados
passaremos a fazer nossas as suas palavras sobre democracia, sempre que
na Assembleia da República pretenda proibir, de um modo
inconstitucional, o modo como devemos gerir a nossa vida.