Tauromaquia - De Alexandria ao Cairo, do Egipto ao Mundillo...
Do Cairo ao Mundillo
A
propósito da crise no Egipto, resolvi ler de novo o livro “ De Alexandria ao
Cairo” de Eça de Queirós, livro esse a que me já referi pelo menos uma vez neste blogue.
A
obra com 75 páginas é estupenda, como tudo o que foi escrito pelo autor (
sempre afirmei a minha paixão Queirosiana ) e lida hoje, dá-nos a possibilidade
de compreender melhor o que se passa no Egipto e no mundo.
As
três principais classes sociais nesse país hoje em convulsão, eram : “Fellahs,
Sheiks e Paxás que aproximadamente equivalem hoje, Fellashs = operários e
agricultores, Sheiks = classe média alta , comerciantes e industriais, Paxás = grandes capitalistas e
políticos”. Estas classes tinham privilégios e deveres que, projectados no
Egipto de hoje levaram ao estado actual com reflexos em todo o mundo árabe e
não só. Atenção…
Senão
Vejamos o que diz o autor:
“Além do mais há as imposições
repentinas.
Para concluir uma obra, o Paxá impõe um tributo
de 20 camelos, 200 homens e 20 jumentos. O Sheik chefe da aldeia faz a
distribuição: os que podem pagar dão um Bakchich ( Suborno) em ouro ao Sheik … e ficam pobres ; os que
não podem pagar são entregues aos emissários do Paxá….”
O imposto é o terror do Fellah.
Quando o Sheik deva um certo imposto toda a aldeia é solidária. De resto se o
Sheik não apresenta a soma exigida, é bastonado até que o arrange”.
É
evidente que há um certo paralelismo entre este retrato de Eça, se actualizado,
e o que se vive com maior ou menor força nos países em crise.
O
nosso país não foi invadido por Nubios, Turcos,
Persas, Búlgaros, Abissínios, Judeus, Arménios e Árabes do Magreb, como o Cairo
a cidade “Das mil e uma noites” ; mas
foi invadido, por Ucranianos, Brasileiros, Romenos, Moldavos, Paquistaneses,
Bielorussos, Chineses, e Africanos.
Esta
maciça invasão tenderá dentro de alguns anos a uma descaracterização de um povo,
e mais ainda isso será evidente, se não se defender com unhas e dentes a nossa
cultura e as nossas tradições.
Só
há uma maneira de suplantar este sufoco, é agarrarmo-nos ao que é nosso,
história, cultura e tradições, não deixando que meia dúzia de patetas
destruam
um passado de oito séculos que nos une, em nome de hipócritas
sentimentos, que
escondem complexos de inferioridade por não serem capazes de fazer o que
fazem os interpretes das diversas vertentes da arte de tourear. Sim
meus amigos, porque
o problema reside mesmo, nesses complexos e respectivos recalcamentos.
Os
Paxás actuais ( Potitícos) estão-se cagando para a história e para tradição, e tudo o que é
representado por meia dúzia de tipos barulhentos é aceite de bom modo para
distrair, já que quem não protesta não incomoda e se ainda por cima essa
maioria se entretém em brigas fúteis, como os Fellahs brigavam por um lugar no
chão para se sentarem na praça ou por um odre cheio de água, mais facilitada
está a vida dos Paxás que sem mundo vivido, sobrevivendo só por serem
politiqueiros, cada vez mais são apátridas.
As
forças gastas em guerrilhas e ódiosinhos dentro do planeta dos touros, têm que
ser potencializadas na defesa da “Festa” focada na sua resplandecente
imaginação, sem fundamentalismos e rancores pessoais que se sobreponham aos
interesses de todos.
A
propósito de imaginação retirei mais este trecho do citado livro :
A imaginação que se não modifica, que
se não civiliza, perpétua revoltada e perpétua nómada, a imaginação que depois
de vencidas as paixões pelo código penal, tem que ser ainda, só ela, bárbara,
valente , espontânea, natural e livre.
Temos
que acreditar na imaginação daqueles que defendem de forma entusiástica a FESTA, que os há e podem arrastar muita gente, de
forma bárbara se for preciso, valente, espontânea, natural e livre.
Não podemos cair naquele estado a que os Árabes chamam “Kiéf”, que se resume numa espécie de desmaio vivo, em que a vida se torna passiva e o cérebro vive no fundo de um sonho.