Viva as touradas
João Marques de Almeida
As esquerdas radicais também não gostam das tradições e dos costumes portugueses. Aliás, a mera evocação da palavra tradição liberta imediatamente os seus piores fanatismos. Um país é feito de hábitos colectivos e de tradições seculares. A tourada é muito mais do que se observa na arena. Há modos de vida de regiões, cidades, vilas e aldeias de Portugal que estão associadas à tourada. Numa altura em que tudo o que é dirigente político com aspirações ou com desejos de popularidade fala da defesa e do desenvolvimento do interior, convém recordar as regiões da tourada portuguesa. O fim da tourada seria um ataque violento a uma boa parte do interior do centro e do sul do país. E depois da tourada, querem acabar com a caça?
Não será fácil travar esta cruzada ideológica anti-portuguesa. Alimenta-se de um fanatismo arrogante. O que mais chocou na votação parlamentar sobre a eutanásia foi a arrogância dos derrotados, e o modo como afirmaram que a reversão daquele resultado seria apenas uma questão de tempo. As suas preferências são muito mais fortes do que a noção de democracia. A cruzada ideológica das esquerdas radicais beneficia ainda da indiferença, senão mesmo da resignação, das maiorias e da incapacidade dos partidos de centro de direita de mobilizarem
os seus eleitorados para combates culturais e de valores. Por fim, as esquerdas radicais querem assustar quem discorda das suas ideias através de ataques pessoais e da negação ao direito de pensar de um modo diferente. Já alguém ouviu um dirigente do BE, a propósito das chamadas causas fracturantes, dizer qualquer coisa como ‘discordo da sua opinião mas respeito-a’. Nunca ouvirão porque quem defende uma agenda revolucionária não pode respeitar os seus adversários. Se não os puder aniquilar, deve diminui-los e ofendê-los até lhes retirar a legitimidade das suas ideias.
As esquerdas radicais defendem o direito à vida dos touros, das raposas e das lebres, mas defendem o aborto e a eutanásia. Está tudo dito sobre as suas prioridades e a sua natureza.