Sevilha – 23 de Setembro
José Mari Manzanares - toureiro de sonho
Saí de casa às 8 da manhã, num dia muito enevoado e chuvoso, mas com a fé interior de que a corrida se iria realizar. Que diabo, com Manzanares em Sevilha, de certeza que não haveria chuva!
Depois de ligeira hesitação, arrancámos – eu e o meu irmão Tó, direitos a Marinhais, primeira etapa para Sevilha, onde fomos encontrar o nosso amigo João António Carvalho Rosa, que connosco seguiu. De Marinhais seguimos para Montemor onde nos aguardava o nosso amigo Paquete.
Após breve reunião os quatro decidimos arrancar para Sevilha, apesar do tempo continuar entroviscado.
Chegámos a Sevilha às 2 da tarde, e logo nos dirigimos a Puebla del Rio, Finca del Rocio, propriedade do meu amigo Angel Peralta, que nos brindou com um excelente almoço – guisado de rabo de toiro, que estava divinal. Gracias Angel, como sempre um senhor.
Chegámos à maestranza trinta minutos antes do início da corrida. E que corrida… um mano a mano entre Manzanares e Talavante, com toiros de Nunez del Cuvillo e Juan Pedro Domec.
O que passo a descrever é realmente um sonho. Manzanares vestido de azul e oiro tem qualquer coisa de Deus do Olimpo. A maneira como pisa, como anda, como movendo-se numa igreja, é algo de indescritível.
E saiu o primeiro toiro castanho de Nunes del Cuvillo, bonito de olho de perdiz. Já antes José Mari se tinha dirigido à porta de gaiola, onde, de joelhos, se benzeu, numa atitude impar, com algo de místico à mistura. Com o capote deslumbrou. Verónicas de sonho pelo piton direito e esquerdo, com remates de maravilha. Depois de bem cuidado nas varas, e bem bandarilhado, que grande quadrilha tem Manzanares, o toiro passou à muleta do matador. E aí, meus amigos, libertou-se o perfume do toureio de Manzanares. Muletazos tremendos, de uma profundidade angustiante. Toureio sem invenções, toureio de verdade, que nos conforta a alma e nos engrandece o espírito.
A música juntou-se ao delírio do público até aí anestesiado pelo toureio de José Mari.
Mudou de estoque e preparou-se para matar. Um silêncio profundo instalou-se n maestranza, silêncio de respeito, angústia e ansiedade. Perfilou-se o matador e pleno de tremendismo, recebeu o toiro, matando a receber.
Duas orelhas foi o prémio que a juntar a uma orelha que cortou no quinto da corrida lhe deu direito a saída em ombros pela porta dos Príncipes.
Não me lembro de ter visto tourear como toureou Manzanares no dia 23 de Setembro em Sevilha.
Atrevo-me a dizer que José Mari Manzanares é, neste momento, o maior do mundo taurino.
José Zúquete