Amigo João:
Passadas que foram já algumas semanas sobre o passamento do Senhor teu pai, só agora ganhei coragem para te escrever, para te dizer o que senti da tua parte durante aqueles meses de agonia, bem o que sinto hoje quando plano por todas as vivências que compartilhei com o meu amigo Zé Zuquete.
Todas as decepções são secundárias. O único mal irreparável é o desaparecimento físico de alguém de quem somos amigos e de quem gostamos.
O escritor Virgilio Ferreira disse um dia :
"De vez em quando a eternidade sai do teu interior e a contingência
substitui-a com o seu pânico. São os amigos que vão
desaparecendo e deixam um vazio irrespirável. Não é a sua 'falta' que
falta, é o desmentido de que tu não morres com eles".
Poucas coisas me custaram tanto na vida, como ver partir o teu pai, e mesmo telefonando para ti diáriamente e visitando-o poucas vezes porque ele assim queria, sabia que o fim estava próximo mas nunca acreditei...
O teu pai deixou-te um legado, sim, porque uma coisa é deixar
um tesouro e outra coisa é deixar o manual de instruções para que o patrimônio moral seja bem usado, referindo-me valores, que falarão do Zé Zuquete e dos seus feitos, da sua filosofia de vida e dos seus amigos.
Herdáste-me como amigo e eu herdei-te a ti, e sobre as conversas que temos paira sempre a imagem tutelar de quem nos legou um nobre conceito de amizade, e mais, paira também a discrição e a grandeza moral da tua mulher que me adoptou como se fosse da familia...
Para mim não conta o que tenho na vida, mas sim QUEM eu tenho na vida, e sou feliz porque sei que contigo posso sempre contar..
AMIGOS PARA SEMPRE !!!