Ensaio sobre o maquiavelismo,e a cegueira taurina...
Por definição aqueles que se interessam por toiros,
cavalos, costumes e tradições constituem uma minoria de primitivos imbecis,
atrasados e “reaccionários”, como certifica outra minoria de imbecis
manipulados, que foram convencidos de
que são progressistas.
Entre uns e outros vegeta uma
esmagadora maioria de multidões indiferentes a quase tudo o que não seja tentar
sobreviver, e evitar pensar em coisas ainda mais incómodas do que os seus
problemas quotidianos, para evitar uma depressão ainda maior. A estas multidões
serve-se uma informação filtrada e orientada, nos intervalos do futebol, dos
reallity shows, dos concursos e das novelas. Á força de constarmos esta
realidade acabámos por a achar natural.
As coisas são assim. Mas
porque é que são assim?
Porque é que nos esquecemos
tão resignada e passivamente de que a esquerda esclarecida, que então existia e agia, considerava como
ALIENAÇÃO DO POVO as doses massivas de
Fátima fado e futebol com que os salazarentos atafulhavam os bestuntos da
carneirada dócil?
Não estou minimamente
convicto de que o facto de amarmos os costumes e as tradições nos inclua
automaticamente numa minoria de primitivos imbecis.
E sinto-me na obrigação de reconhecer que
sofremos uma lenta lavagem ao cérebro que conduziu a uma tal mudança de
convicções que já somos poucos os do tempo em que fumar era bonito e levar no
rabo é que era feio. Mas quero crer que alguns desse tempo agradeçam uns
abanões para sacudir o torpor, a sonolência mental e a indiferença que tomaram
conta de nós.
Assistimos ensonados,
caladinhos e assustados, ao atentado permanente e teimosamente eficaz
ao cerne dos nossos interesses, dos nossos gostos e das nossas convicções,
conduzido por uma vara de pregadores teleguiados.
Já não nos espanta realmente
nada que os donos da Eurolândia proíbam
as culturas geneticamente modificados em nome da saúde pública, e importem todo
o lixo transgénico com que se fabricam as rações que alimentam a totalidade da
sua pecuária.
Achamos natural que a
agricultura não viva da venda daquilo que produz mas dos subsídios que recebe,
tarde e a más horas, precisamente para não produzir, ou vender abaixo dos
custos de produção, à grandes superfícies parasitárias que embolsam margens de
lucro que nenhum risco legitimou, e
asfixiaram todo o comércio tradicional e independente que nos dava liberdade de
escolha.
Achamos natural pagar os
milhões da RTP disfarçados na facturas
da electricidade, ou que, nas novas cobranças das auto estradas, o montante das
portagens possa ser inferior aos chamados custos administrativos. Quais custos
administrativos? Porventura na factura das bicas vem incluída a amortização da
caixa registadora ?
Achamos natural que os
fumadores estejam confinados a minúsculos campos de concentração, e sejam
vendidos como o grande risco para a saúde pública, enquanto qualquer privilegiado com posses pode snifar
coca ás linhas inteiras, sem merecer o mesmo repúdio e reprovação públicas.
Achamos natural que aqueles
que porfiam em proibir a festa brava, e a caça à raposa, não se mobilizem nos
mesmos piquetes de inspecção ao sofrimento animal nos matadouros, na criação de
peles ornamentais, na produção de foie grãs, e nas hecatombes sazonais á bela
perdiz ou ao saboroso coelho. Donde se conclui que damos por provado - e
adquirido - que uns animais são mais animais do que os outros.
De facto somos completamente
imbecis. Mas não estamos de modo nenhum em minoria. Vivemos é num mundo
imbecilizado e apático. E deixámos de pensar pelas nossas cabeças, agora
preenchidas com um pré fabricado de
excesso de informação tendenciosa e
orientada, em doses tais que ninguém a consegue digerir, quanto mais sindicar.
E pensamos - com uma
ingenuidade ternurenta – que a propaganda permanente que nos inunda os olhos e
os ouvidos só afecta os outros. A nós não, por amor de Deus. Nem pensar nisso.
Não somos uma minoria de primitivos imbecis e atrasados. Os outros é que são.
Os outros quem? Parece que
toda a gente, menos quem dirige os fabricantes dos chamados conteúdos .
Uma
vez que tanto vocês como
eu somos comprovadamente aficionados e aos olhos de determinada gente
somos patetas, e patéticos, espero que ninguém se tenha incomodado, bem
pelo contrário, que eu vos tenha recordado algumas
das manhas dos novos cientistas da manipulação das mentes.