MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Com a devida vénia, publicamos este escrito da Srª Dª Leonor Barradas, por se tratar de uma peça escrita de eleição que encontramos no "face".
Com talento, saber, paixão, amizade e sentimento, não se pode escrever melhor.
Parabéns Srª Dª Leonor, senti-me pequenino ao lêla...



Crónica da corrida de Elvas. Mas não a última!

Quanto tempo o tempo tem?

“Pelo sonho é que vamos/comovidos e mudos.
Chegamos? Não chegamos? Haja ou não haja frutos/pelo sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos. Basta a esperança naquilo/ que talvez não teremos.
basta que a alma demos/com a mesma alegria/ ao que desconhece
e ao que é do dia-a-dia. Chegamos? Não chegamos? Partimos. Vamos. Somos.”
Foi pelo sonho que foste, João? Comovido, calado, silencioso. Se chegaste? Sim. Se houve frutos? Muitos. Bastou a fé? Não só. Bastou a esperança? Também. Bastou a alma? Ajudou! Se chegaste ou não? Não há duvidas. Chegaste sim. Vais ficar. És uma grande figura na tauromaquia em Portugal. Talvez o grande triunfador.
Entrelaçando as sábias palavras de Sebastião da Gama em 1953, neste nobre poema sobre sonhos, à nossa realidade atual, buscamos o sentido desta crónica para findar a temporada de corridas, naquela que foi a maior das corridas que João Moura Caetano já correu. Chegar à meta com mérito foi ainda mais difícil que correr toda a maratona ultrapassando os obstáculos. Mais difícil que chegar é manter com a mesma dignidade e força com que se inicia.
Em Elvas assistimos a tudo. À emoção do último ferro da temporada, à vontade desmedida de triunfar até ao final da lide, ao receio de falhar no último dos momentos. Se assim não fosse não escreveríamos sobre os pensamentos de um homem que para além de toureiro é gente com gente dentro.
Um toiro. Uma lide. O fim da temporada. O coliseu de Elvas. Um público que recebe sempre com tanto carinho um cavaleiro “quase” da terra. E a vontade de triunfar. Muita!
Os cavalos Zidane, Temperamento, Xispa e Sete. Com o Zidane inicia a lide, citando de praça a praça e recebendo o toiro com toda a determinação e raça. Depois veio o Temperamento que ofuscou o respirar dos aficionados, permitindo ao João a cravagem de ferros com emoção e risco. O cavalo Temperamento é outra grande estrela desta temporada. Ninguém lhe fica indiferente, transmite à lide uma sensação quase que irreal, torna-se impossível acreditar que depois de cada ferro o cavaleiro consegue rematar daquela forma arriscada e inacreditável. O Temperamento é o cavalo das emoções. Da verdade. Do risco.
E se falamos de emoção, falamos do Xispa, e falar do Xispa é falar da beleza de um cavalo com presença, com carisma, suficientemente discreto mas eficaz, muito bonito e elegante e muito nobre e inteligente. Aquele cavalo ”cisne” que dança em volta do toiro em tom de provação. Nobre, porque o provoca com classe e nobreza. Inteligente porque nunca se deixa intimidar. O cavalo do belo e do perigoso!
E para terminar o Sete. Velho companheiro de andanças por terras de Espanha, um cavalo seguro, importante, companheiro, sereno e pouco dado ao reconhecimento. Faz tanta falta naquela quadra, mas poucos dão por ele!
João Moura Caetano desfilou na arena de Elvas quatro dos seus mais importantes cavalos de uma quadra de luxo. Para o ano há estes e outros mais, para a próxima temporada podemos esperar outras novidades!
Em Elvas encerrou-se um capítulo de uma serie que continua. Em Elvas fechou para intervalo um filme em que o protagonista vai agora descansar destas lides e viver outras que o ajudam a perceber o sentido destas. Em Elvas a cortina fechou-se mas a cena em palco não termina. O público sai de mansinho e guarda o lugar para a próxima. Este público que reconhece hoje que João Moura Caetano é a figura do momento, é o jovem que se afirmou sustentado nas raízes familiares mas que soube dar um cunho pessoal ao seu estilo e à sua vontade.
O João é nos dias que corre o cavaleiro de que se fala, passou por inúmeras praças e inúmeras expectativas, guardou para nós o melhor que tem e o mais nobre que possui: a verdade convicta do seu toureiro. Elogiado por muitos. Admirado por outros e reconhecido por todos.
Ficou em Elvas o suspiro do último ferro da temporada. Agora é tempo de rumar para outras paragens sem esquecer o lugar de onde se partiu. Chega o Outono e com ele todas as emoções do mundo, do mundo do homem mais do que do cavaleiro.
Mas seria possível ser este cavaleiro sem ser este homem. Não!
A banda calou-se, arrumaram-se os instrumentos. O toiro fica no campo. Os cavalos correm pelas planícies. O Temperamento contínua temperamental. O Xispa belo. O Artista louco!
Os gelados e as queijadas transformam-se em chá quente e castanhas assadas. O sol que queima no pico da arena, vira chuva fria em noites de luar.
O João caça enquanto a maresia do Outono e do Inverno lhe enchem de verde o olhar azul. Tudo parece quase igual. Mas não é.
E nas manhãs frias quando o João voltar dos campos vai haver a nostalgia das corridas. Chega a saudade. Preparam-se os treinos. Volta-se à arena das Esquilas. Temos nova temporada. Mais triunfos. Mais toureiro.
Passa um ano!
Voltamos de novo. Seremos mais. O cavaleiro é o mesmo. João Moura Caetano!
Mas por agora, esperamos que o tempo passe. Aguardamos nas sombras dos dias, os dias mais curtos, as madrugadas mais frias e as noites mais longas. As supressa do Outono e as alegrias do Natal.
Por agora e com um sorriso sereno no rosto, proclamamos em uníssono:para o ano há mais.
Se falta tempo? Perguntem ao tempo quanto tempo o tempo tem…e o resto?
Respondam vocês porque a resposta já a sabem! Todos a sabemos!
Por agora até já! E obrigado.