O estado da "Festa" em Portugal
Congratulam-se os inimigos da festa, esfregam as mãos os da “protectora dos animais” mas, paradoxalmente, é no seio da própria festa que se está a praticar o “hara-kiri” que a vai enfraquecendo.
De pátria do toureio a cavalo transforma-se o nosso país em pátria do nada do toureio, com a mistura que se faz do rejoneio, com uma espécie de espeta ferros em toiros e muitas vezes em novilhos para fazerem parte desses espectáculos que na maioria das vezes nos impingem, e tão do agrado das pseudo figuras do toureio. Animais sem agressividade, animais em que a bravura se transformou em docilidade, escassos de trapio, de caras cómodas, quase animais domesticados, sem perigo algum. Perante este quadro há que responsabilizar a esmagadora maioria dos que se pensam figuras do toureio, pelo comodismo a que se entregaram, ao recusarem tourear toiros sérios e que transmitam perigo, pela descaracterização que estão a consentir do toureio à portuguesa, pelo assassinar do elemento chave que é chama viva numa corrida de toiros à portuguesa – A Emoção.
Admiram-se do público não afluir às praças como há anos atrás. A mentira do “toirito” já vai fazendo estragos. Com o “toirito” os que se crêem figuras não são levados a sério, o público deixa de afluir e a festa vai estiolando.
Se pela atitude dos toureiros, digo, cavaleiros, que se consideram importantes, o toureio a cavalo em Portugal está a atravessar dos piores momentos da sua história, está na mão dos organizadores de espectáculos tauromáquicos o antídoto para obstar a este estado de coisas.
Desculpem por não falar em “empresários tauromáquicos”, mas isso é outra coisa. Tenho muito respeito pela memória de homens como José Guerra, Manuel dos Santos e Alfredo Ovelha entre outros, para poder misturá-los com quem hoje em dia, apenas vê na festa um negócio, mais ou menos lucrativo, uma maneira de aplicar dinheiro, ou num modo de se realizarem, crendo-se importantes por se passearem dentro da trincheira.
A maioria destes “organizadores de espectáculos” desaparece da mesma maneira como chegou, isto é, sem que se note a sua falta e sem terem atingido o objectivo de consideração social a que se propunham.
Para poder mexer na festa e ser “empresário tauromáquico” há que ter inteligência, seriedade, sensibilidade taurina, tudo isto envolto num manto feito de enorme amor pela festa de toiros à portuguesa. Um homem destes, terá forçosamente que se aperceber e de se dar conta de que existem no nosso panorama taurino alguns jovens cavaleiros, dispostos a jogar a vida nas arenas, toureando ganadarias ditas duras, ganadarias com perigo, dispostos a transmitir a emoção às bancadas, utilizando processos à portuguesa, dispostos a levantar o pavilhão do nosso toureio a cavalo.
Será figura do toureio em Portugal, aquele que for capaz de levantar o público dos seus lugares na bancada, sem que para isso seja necessário andar a ladear na cara do toiro e a fazer piruetas na cara do mesmo. Na maioria das vezes com o “toirito” colaborante e inofensivo.
Venha o empresário, porque toureiros há. Assim os deixem romper...
José Zúquete