MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

"In Memoriam" (por José Zúquete)

Este texto de José Zuquete, é de facto uma peça que todos devem ler para depois meditar porque è e será sempre actual, quando vista duma forma abranjente...


José Mestre Batista


Momentos há em que é necessário dar a cara, quando a consciência a isso nos obriga.
Há que vir a terreno quando a memória dos homens se torna tão lamentavelmente curta.

No plano circunstancial, pensei se valeria pena ao fim deste tempo debitar para alguns, que sempre o tentaram minimizar, palavras justas e merecidas.
Para aqueles que tiveram o privilégio de o conhecer, essas palavras só pecam por serem insuficientes.

Através destes anos tive momentos em que me apeteceu escrever sobre a hipocrisia de alguns que dele se serviram em vida, que através dele se autopromoveram, a ele traíram, a coberto do manto da falsidade e de interesses mal disfarçados, que são os profissionais do oportunismo, amigos de ocasião, traidores por formação e prática.
Infelizmente hoje ainda há desses, sugando como podem os incautos e bem-intencionados, na mira de sobreviverem à sua custa.

A pureza e a mentira, infelizmente andam de mãos dadas, no nosso mundo taurino.
O falso abraço, as lágrimas de crocodilo, a facada pelas costas.
Quantos se podem queixar do estado a que chegou o ambiente taurino em Portugal???
No entanto poucos se queixam, e a chantagem vai ditando as suas leis. “talvez lhe arranje uma corridinha, mas se calhar é preciso pôr algum”…

A luta pela sobrevivência num mundo de falsa majestade, dramaticamente à deriva como barco em plena porcela , conduzido por toda a espécie de amadores que pouco se importam que a nave se afunde, desde que, nem que seja por breves momentos, ponham o pé na ilhota por eles sonhada do mundo taurino.
O que lhes importa é presumir…  São os psicopatas desejosos de consideração social. Pobres de espírito que não distinguem o ser do parecer.
O ser é eterno e o parecer é efémero.
Por isso os que são, ficam. E os que parecem depressa caem no esquecimento.
Mestre Batista era. Por isso hoje é saudado, por isso sentimos a sua falta quando olhamos o seu lugar ocupado pela sua memória.
Nada nem ninguém pode ocupar o seu lugar.
Ser como Batista, tourear como Batista, ou sequer tentar imitá-lo é impossível, daí o terrível paradoxo de vermos uma figura da sua envergadura desaparecer do nosso palco taurino sem deixar escola.

Nunca conseguiu ensinar como se executava a sua sorte frontal, porque essa era um explodir de sentimento, e assim como não há homens iguais, também não é possível transmitir de homem para homem, a maneira de saborear ou de viver um sentimento de momento.

Os ferros à Batista, aqueles momentos raros que só ele sabia interpretar, o burburinho na praça, a contestação e logo a explosão, o ambiente em ebulição, eram dele e com ele foram.

Um predestinado a Figura Grande. Um Homem que era.

Como homem foi como todos os grandes artistas quando se dedicam inteiramente à actividade de que vivem e para a qual vivem.

Era uma personalidade polémica: ou se gostava dele ou se detestava. Relativamente aos que estavam mais em contacto com ele, porque o grande público que corri às praças para o ver tourear, para com ele saborear a emoção e a eminência do perigo, o grande público, esse tinha-o num pedestal. Era o seu toureiro, foi sobretudo um toureiro do povo, figura ímpar de popularidade em Portugal.

É por demais conhecida a sua ascensão taurina, e os marcos que colocou nas tardes em que o seu toureio explodia por essas arenas fora contestando costumes e regras concebidas, enjeitando o comodismo, revolucionando com a instauração da sua lei da verdade. Marcando uma época no toureio a cavado em Portugal.

A sua irreverência era muitas vezes a maneira de por um escudo e uma distância entre si e aqueles de que o seu instinto dizia não estar ali propriamente um amigo ou um aficionado isento.