È meu hábito há vários anos abordar o Natal, procurando chamar á atenção das hipocrisias que muitas vezes envolvem esta data.
Não é uma visão negativa desta época - não sou um negativista, quem me conhece sabe bem que não o sou -, mas sim uma chamada para a realidade, na desmistificação desta época, e uma chamada de atenção para coisas muito mais importantes que vão para lá das prendinhas e do “se não nos virmos antes, um bom Natal”.
Não é por ser natal que eu e a maioria das pessoas, desejamos bem a quem nos fez ou faz mal, não é por ser Natal que há mais paz e amor.
O característico folclore natalício, de ordem consumista e de ordem gastronómica, que atravessa as comunidades cristã e ateia mergulha no paganismo mais puro, e por isso não me merece grande respeito.
A frase típica “se não nos virmos antes um bom Natal”, faz-me lembrar as palavras que soltam os caça níqueis em Espanha “soy um mono, abla comigo” totalmente despidas de coração, menos importantes que os sons dum bébé quando diz “gu-gu” “dá-dá”.
O poeta Silva Ferreira escreveu um poema que canta o meu querido amigo Xico Madureira, que reza assim:
Quando houver natal, eu aviso mãe.
Quando o natal vier eu aviso, mãe.
Quando o Natal for no verão
Porque o inverno acabou,
No corpo no coração,
De todas as mães do mundo,
Eu aviso mãe…
Este poema espelha e alinda a célebre frase “o Natal é quando um homem quiser”.
È evidente que me vou empanturrar com bacalhau, peru, arroz de polvo, rabanadas, filhós e bolo rei. Também vou dar e receber prendas, tudo isto em casa do meu irmão Manuel Lamas como há vários anos a esta parte, mas quero desejar sinceramente a todos, que não haja constrangimentos de estar com quem não gostamos, de conviver com quem não queremos, obrigando terceiros a presenciarem um espectáculo teatral de fraca qualidade, em que na maioria dos casos se pretende aparentar um convívio civilizado que não se sente nem se pode sentir, desde logo por não haver coração.
Evitem-se as situações de famílias separadas que se juntam só porque é Natal, sem conseguirem disfarçar animosidades ou mesmo ódios, encharcando completamente ou quase de hipocrisia pura e dura a celebração do nascimento de Jesus.
Neste Natal 2017 há circunstancias que não dizendo concretamente respeito a esta época, me dão que pensar e me apoquentam, e julgo-as prementes - porque não se resumem á luta de uma classe, mas sim ao meu país (de que tanto gosto). No seu todo -, prende-se com o facto insuportável de começar a ser vulgar ouvir portugueses a dizer nas entrelinhas, que não gostam de ser portugueses. Envenenam-se assim as conversas - na noite de Natal, que é talvez aquela em que mais se conversa -, com tiradas que ou revelam exibicionismo pateta, ou complexos mal resolvidos ou então qualquer coisa que se situa entre a personalidade do “Velho do Restelo” e a figura de “Miguel de Vasconcelos”.
Há Portugueses que :
Dizem quando se fala de Bancos só sabem dizer que isto aqui é um descalabro...
Do mundo do touro afirmam que tudo o que temos é mau; em Espanha é que é bom…
Opinam que o nosso turismo é péssimo.
Afirmam que os portugueses não tem qualidades de trabalho nem imaginação...
Desrespeitam a nossa cultura ao considerarem a nossa música e as nossas danças folclóricas, pobres e pirosas…
Dizem ainda, contra a opinião pública mundial, que o Ronaldo não devia ter ganho a bola de ouro, porque o Messi é melhor…
Alvitram bacocamente que o vinho estrangeiro tem outra qualidade…
E são mesmo capazes de subalternizar a nossa riquíssima gastronomia, ao peixe frito andaluz, ao borrego assado em valladolid, e comparam os “Callos” com as tripas á moda do porto (como se houvesse comparação).
O nosso espumante bom, na opinião “parvenu” não chega aos calcanhares do pior champagne… e para este tipo de gente até as águas “Perrier” e de “Langaron” são melhores do que a “Água de Castelo”…
È fácil concluir que para uns tantos, Portugal e os portugueses são uma merda.
Chega meus senhores. Se não gostam da nossa terra e do que é nosso vão-se embora, escolham o país ideal.
Quanto a Portugal, amem-no ou deixem-no!!!
Pela minha parte peço ao tal menino Jesus que torne o Natal bem português em Portugal, rapidamente quando lhe der jeito, e que disso avise a Srª sua mãe.
Desejo, como dizia o poeta, que o Natal passe a ser no verão, porque o inverno acabou, ou passe a ser no Outono ou na primavera ou seja quando um homem quiser mas que na nossa terra seja português.
Vamos viver o Natal de forma mais ou menos folclórica, mas vamos assumir por inteiro as nossas tradições ( como única excepção aceito o Pai Natal porque se tornou universal), afirmando e sentindo que o Natal em Portugal, é o melhor do mundo.
Verdade verdadinha… eu chego a pensar que o menino Jesus podia ter nascido na serra da Malcata.