Quando morrer quero ser cremada e que espalhem as cinzas no "Corte Inglês"...
Já nada me surpreende...
Há dias em conversa com um amigo, ouvi da boca deste, que a mãe passava a vida no "Corte Inglês", e por isso tinha dito que quando chegasse a sua hora, gostava de ser cremada e que espalhassem as suas cinzas no "Corte Inglês". Achei piada, mas pensei no que levaria a velha senhora a tal opção.
No meu entender, a vontade expressa de lhe espalharem as cinzas na dita superficie comercial, tem que ver com a desumanização que se vive nos dias de hoje, que neste caso é compensada pelas gentes a passar, pela beleza ou exotismo das modas, ou ainda pelo ruído geral sombreado pela música de fundo, que contrasta com os programas deprecivos que as televisões passam durante o dia, em que a exposição das desgraças é o prato forte.
Hoje vive-se um mundo avinagrado, em que a maioria atende ás desgraças actuais, aos ódios viscerais e ao prenúncio de um futuro sem esperança, como se não houvesse amanhã e como se esta crise fosse a maior de sempre na história da humanidade. Descarrega-se as frustações no futebol, nos politícos, e no mundo do toiro atribui-se culpas aos murubes, á vertente espectáculo do toureio e ao facto de haver grupos de forcados que pagam para pegar, esquecendo-se os pessimistas que já houve crises piores em todos os sentidos, que não foram ultrapassadas, nem com derrotismos, nem com entregas totais aos Deuses do mal.
Há quem queira as suas cinzas espalhadas no Dragão, em Alvalade ou na Luz, na Real Maestranza, em Las Ventas ou em Ronda, no Tejo, no Douro ou no Mondego, nas prais X, Y e Z, etc, etc, etc... todas estas opções têm que ver com amores aos sítíos onde foram felizes e em que viveram uma vida norteada por pensamentos positivos.
Eu não vou nesta moda das cremações, quero ser depositado no jazigo ao lado dos meus pais e avós á moda antiga...