Do Blogue "partebilhas" de M. Peralta G. e Cunha extraímos este artigo que com a devida vénia publicamos pela sua importância histórica:
A pega real
O rei Dom Carlos I terá pegado de caras, segundo uma observação do anti-taurino Fernão Bôtto-Machado aquando da apresentação do seu Projecto-Lei sobre a Abolição das Touradas, entregue na Assembleia Nacional Constituinte em Agosto de 1911. Nesse documento a falta de vergonha vem ao de cima, demonstrando que nesse período foi permitida a insolência e o desmando dos que, com oportunismo revolucionário, desviaram em muito o ideal republicano.
Nesse Projecto-Lei, não aprovado pela Assembleia Nacional Constituinte da República o anarco-republicano Bôtto-Machado aponta todo o rancor pelo regime deposto em Outubro de 1910 e toda a sua aversão à tauromaquia:
“Entre todos os prazeres, como o da caça e da guerra, eram as touradas um dos espectáculos mais especialmente dilectos do regime monárquico, de odiosa e execrável memória (…) é-nos impossível falarmos da monarquia sem mil vezes lhe cuspirmos em cima a náusea do nosso desprezo (…) pois não tivemos nós o prazer sumo de ver o rei Carlos a fazer, em Évora, uma pega a um boi caraça? (…) Os que fazem as pegas? Mas esses são documentos que provam haver brutos, mais brutos que os próprios brutos.”
Independentemente do ódio profundo e visceral que aquele deputado pelo Círculo Ocidental de Lisboa manifestou contra a Monarquia deposta, a completa falta de patriotismo, a intolerância e uma grande incapacidade de perceber as tradições portuguesas – a ponto de considerar a tourada um espectáculo incompatível com a República – teve no entanto o merecimento de deixar a informação escrita de que o rei Dom Carlos I realizou uma pega. O rei de Portugal e duque de Bragança executou a mais portuguesa arte da tauromaquia: a PEGA.
Manuel Peralta Godinho e Cunha