MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quarta-feira, 11 de setembro de 2019

A morte dos vizinhos...

Com a devida vénia, transcrevo pela pertinência inclusa, um troca de mensagens entre dois amigos que muito estimo..

El Erudito

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Joao Távora

Os Vizinhos dispersos

Uma prova de que o saudosismo o mais das vezes é fruto da falta de memória ou da imaginação fértil é o que acontece por estes dias em que o conceito de "Mercearia" está na moda, associado erradamente a qualidade e sofisticação. De facto, por todo o lado hoje florescem lojas com produtos “gourmet” que estranhamente ostentam a designação de “mercearias” que ao tempo da minha juventude não eram mais do que pequenas e obscuras lojas, o mais das vezes contiguas à residência do proprietário, que cheiravam a ranço e tinham um pouco de tudo o que não fosse fresco, e onde se aproveitava a familiaridade com o freguês para lhe conceder crédito, vender o refugo e carregar nos preços.
Na imagem: cena na Mercearia do Evaristo, do filme O Pátio das Cantigas realização de Ribeirinho em 1942. 
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RESPOSTA

Em Benavente, junto à igreja conserva-se há um século. uma mercearia tradicional que muita gente prefere ás grandes superfícies porque tem atendimento pessoal., coisas que dificilmente se encontram noutros lugares, e mantem os débitos apontados num livrinho de papel.
Os donos são octogenários e talvez merecessem uma reportagem inquirindo quais seriam as características de um "ecossistema" onde existissem alternativas para todos aqueles que não simpatizam com as grandes superfícies desumanizadas  e gostam de encomendar um certo bacalhau  no Natal, ou amêndoas que já só se fabricam em Mendalvo da Serra pela Páscoa..
É certo que só aguento Lisboa por poucas horas~, e as outras cidades de passagem curiosa. Tenho consciência de integrar uma minoria oprimida, ou mesmo um género específico de bacanos. Infelizmente a nossa faixa etária, e uma duramente adquirida noção do ridículo, e da desmesura, impedem-nos de organizar marchas do orgulho bacano. Marchas essas que  congregariam todos aqueles que ficaram órfão quando as megacidades anónimas e indiferentes mataram o vizinho que habitava em cada um de nós.
O fenómeno das mercearias finas talvez não passe da recuperação aculturada dessa nostalgia. Claro devidamente enquadrada por um capitalismo que reinventando nichos de mercado opera logo a cissiparidade do franchising, essa metástase de um liberalismo suicidário.
Este último parágrafo destina-se a ti João, e aos nossos debates, que espero se  mantenham serenamente curiosos de tudo

Manuel Lamas de Mendonça