P´ra que a terra nao esqueça..
Conheci este SENHOR há muitos anos e, entre outras provas de amizade, recordo a sua presença no lançamento dos meus livros, em que só pretendeu afirmar que estava comigo.
Para quem não sabe, este oficial da força aérea era cunhado do General Ramalho Eanes (irmão da Srª Drª Manuela) e também cunhado de Rui e José Manuel Souto Barreiros, essas referências da Festa, e nunca por nunca ser usou esses parentescos como escada, chegando ao ponto de muitos conhecidos seus ignorarem tais ligações familiares.
A vida pregou-lhe sustos valentes, o primeiro dos quais quando um avião que pilotava na guerra colonial caiu, ficando gravemente ferido, o que o obrigou a estar internado mais de dois anos no hospital, período em que foi sujeito a múltiplas intervenções cirúrgicas. Mais tarde, no 11 de Março, foi ele que pilotou um dos aviões que sobrevoaram o RALIS dando cobertura aos paraquedistas, tendo o seu sido atingido por um tiro de uma antiaérea. Quando aterrou em Tancos, recebeu ordem de prisão, que cumpriu durante cerca de onze meses sem culpa formada.
Falámos muito e muitas vezes e em poucas delas a coisa política foi tema dominante e quando o foi desenvolveu-se sempre com a elevação pautada pelo fino trato, pelo pensamento livre e pela boa educação de um homem de bem.
O César era aficionado e foi também um fadista de raça. Ouvi-lo cantar o fado da Golegã dava-nos a ideia de que aquela castiça terra tinha sido o seu berço, mas ainda mais bonita e profunda era a sua interpretação fadista duma canção de Paco Bandeira cujo estribilho reza assim :
Lá longe onde o sol castiga mais
Não há suspiros nem ais,
Há coragem e valor
E à noite com os olhos postos nos céus
Rogamos ao nosso Deus
Que nos dê a salvaçáo.
Quis o maldito vírus precipitar a sua partida, mas aqui deixo ao meu bom amigo César esta pequena homenagem P´ra que a terra não esqueça..