José Pedro Pires da Costa
Conheço o Zé Pedro desde que nasceu, e por isso, se por um lado é para mim fácil falar dele, por outro lado torna-se dificil não cair no pecadillo da amizade, ou no risco de me faltar o talento para descrever tudo o que o torna gente diferente
Começou por tourear a cavalo em 1995 no mesmo dia que o seu amigo Manuel Lupi, para depois em 2001 prestar provas para cavaleiro praticante em Mourão, optando depois por ser forcado, fazendo o percurso inverso, ao dos saudosos Alfredo Conde e Gustavo Zenkl .
Em 2003 deixou o toureio a cavalo, quando tinha ainda uma margem enorme de progressão, e quando o mais dificil nessa arte que é a monte, se lhe apresentava naturalmente.
Quis ser forcado, e para isso escolheu com elevação o grupo que o senhor seu pai formou, onde se afirmou como ajuda tendo ainda assim, pegado 27 toiros.
Foi raidista, mas é o gosto precoce e constante pelas lides camperas que dá dimensão á sua aficcion, tal como a vivência activa nas largadas e esperas na sua Vila da Moita, terra de um misticismo sereno, que marca quem é de lá ou quem lá vai, dando a ideia que tudo ali é abençoado por Nª SRª Da Boa Viagem sempre que sai á rua na procissão, e baixa ao rio, numa cerimónia que toca mesmo os não crentes como eu.
O seu conceito de amizade é puro e constante, se bem que por vezes pode ser incomodo, porque as palavras surgem-lhe ditadas pelo coração. Mas se alguém tivesse dúvidas do que vale para ele a amizade, bastava constatar a sua dedicação a um infortunado amigo, a quem se entregou por inteiro, sem outra compensação do que a nobreza no estado puro, de ser útil, ser solidário, no fundo ser amigo de verdade .
Essa palavra amizade borda-lhe a vida, como lhe borda também a vida a paixão pelo grupo que vai deixar de chefiar, e a propósito vieram-me á ideia uns versos que rezam assim :
Foi um homem longe de enrêdos
Do cismar dos adivinhos,
Estendendo os braços de afastar os medos
Num alongar caminhos ...
De verdade.
Ao afirmar-se no dia a dia com a irreverência, por vezes levemente sombreada de loucura, dá a dimensão de um homem inconformado, sempre que as situações passam além da sua verdade quer seja em plena época de calor,toiros, gelados e queijadas de Sintra, quer seja na época do frio, do campo e das castanhas.
Foi um bom cabo em tempos dificeis do AP. Moita, e para o provar o tempo deu tempo ao tempo. Como dizia alguém: "Perguntem ao tempo quanto tempo o tempo dá...
Agora que está prestes a abandonar a chefia do grupo, e nesta despedida de lisboa, ao meu amigo Zé Pedro, desejo-lhe na vida, um olhar ousado que é o seu, que baile flamengo e ouça fado com grandeza, sempre com ar franco e de alegria, tudo isto em aberta singeleza ... afidalgada..