MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Dia do Pai ? Para quando o dia do avô ???...

Para quando o dia do AVÕ ???
Filho és, Pai serás...






Eu tenho 3 filhos e três netos. Diz um amigo meu : "macho que é macho só dá machos".

Se ser pai é um estado que nos dá uma enorme realização, ser Avô é ainda mais extraordinário.


Que Homem extraordinário foi o meu Pai...


Já tive um pai que foi um homem extraordinário e que é para mim a maior referência da minha vida. Já há mais de 25 anos que não está no reino dos vivos, mas todos os dias me lembro dele e mais vezes me devia lembrar, porque se o fizesse cometeria menos erros.

O meu pai como médico encarou a sua profissão como um sacerdócio, diga-se em abono da verdade que essa era prática corrente na sua época.

Como homem nunca vergou a servil, assumindo os seus deveres e direitos de cidadania, com coragem e lisura.

Como pai tentou sempre compreender as novas gerações, mesmo quando a dinâmica do mundo ultrapassava o pensamento do seu tempo.

Como desportista, atirou aos pombos tendo ganho variadissimos prémios e jogou futebol na sua Académica até ter fracturado um braço em 1939, precisamente no ano em que se licenciou e a Académica ganhou a 1ª taça de Portugal. No desporto tinha um pecadillo, para ele quando seu clube ( paixão ) perdia, ou tinha sido demasiado azar, ou os árbitros tinham roubado escandalosamente.

Acompanhava o seu clube ao Porto ( boavista, Leixões, F.C. Porto e Salgueiros), a Lisboa ( Benfica, Sporting, Belenenses e Atlético) e a Aveiro ( Beira Mar), e fazia destas viagens em que quase sempre o acompanhava, exercicios culturais que hoje as autoestradas que só têm areas de serviço, tornariam impossiveis. Ao passar Pombal, Leiria, Alcobaça, Caldas, etc, falava-me sobre factos históricos e monumentos dando-me cultura básica da história de Portugal.


Escrevia bem e com acutilância - tinha lido os clássicos que citava -, tinha o dom da palavra quando a oratória era exercitada sem lugares comuns e primava pela erudição, e versejava com sentimento e ritmo numa demonstração de rara sensibilidade.

Dada a nossa estreita relação em que tudo lhe contava, antes de que eu cometesse erros era duro nas critícas e nos avisos, depois de eu os ter cometido era simplesmente solidário sem recriminações, ajudando na resolução dos mesmos de forma abnegada.


Politícamente eramos próximos, como critícos do regime vigente, mas da sua parte recebi sempre o exemplo do respeito pelos antagonistas desde que estes demonstrem honestidade intelectual, o desprezo pelos traidores, e uma visão lúdica e por isso independente, da politíca.

O ser Republicano e eu Monárquico, dava conversas infinitas mas ricas, porque nem ele nem eu queríamos modificar o sentir do outro, antes respeitando-o.

Tinha o sentido de humor que só é acessivel a tipos inteligentes.

E para melhor o definir, basta dizer que cegou aos 58 anos, não tendo direito a reforma por nunca ter querido assinar o documento que o Estado Novo exigia ( documento que herdei e guardo em meu poder ), em que constava o assumir de que não pertenceria a organizações de oposição ao regime. Nunca por este facto se lamentou, achando-o mesmo natural ao mesmo tempo que dele se orgulhava...



Hoje vou ao Cemitério á Ançã onde está o meu Pai está sepultado no jazigo da familia, e aí perto dele, vou recolher-me e elevar o meu pensamento para quem me marcou para toda a vida, enqunto curto a saudade e a pena de que os meus filhos mais novos e os meus netos não o tivessem conhecido ...