Inexoravelmente a vida tem destas coisas, o SENHOR Dr. Filipe Figueiredo "Graciosa", era uma das poucas pessoas com quem gostava de falar do cavalo e da equitação em toda a parte e também na Golegã . Deixou-nos, mas pior que isso, arrastou consigo o conceito puro da amizade, do senhorio, da franquesa e da lealdade, que hoje por hoje pouco se vêm ..
Imutável no ser e no Ribatejanismo, o meu amigo SENHOR Fernando Palha, era na Golegã como em qualquer parte onde estivesse, um símbolo e como tal uma referencia dum estar em Ribatejano. As suas histórias de vivencias camperas, representavam o campo, o povo e a fidalguia, tudo isto envolto em Portuguesismo do bom...
Angel Peralta marcou como ninguém, de forma Indelével com a sua filosofia de vida e o seu romantismo a minha formação como homem e como aficionado caldeando o nosso relacionamento de amizade profunda. A Golegã sem a sua imponente presença não é a mesma coisa...
Depois de repousar o pensamento nestes amigos, recordei a crónica que escrevi há anos e que passo a transcrever, por me parcer cada vez mais actual.
Está á vista de toda a gente a extraordinária obra do Sr. Dr. José Maltez, ninguém a contesta e todos tecem naturalmente justos elogios, mas a tradicional Feira de S. Martinho globalizou-se, com o que isso tem de positivo, mas também de negativo, já que as estruturas básicas são as mesmas e a tradição esbateu-se nos modernismos que atentam contra as minhas recordações do passado.
A Feira hoje já não é popular, e se é verdade que a qualidade dos equideos melhorou substancialmente, já em termos de equitação, a qualidade, o saber eo bom gosto foram sendo alterados em muitos casos, pela presunção "parvenue" dos alpinistas sociais, que enchem os alcatruzes da nora da vida, no movimento ascendente, nora essa que atravessa na horizontal todas as famílias. Lá diz o ditado : Não procures geração, porque encontrarás, puta, padre, paneleiro ou ladrão....
A Feira hoje já não é popular, e se é verdade que a qualidade dos equideos melhorou substancialmente, já em termos de equitação, a qualidade, o saber eo bom gosto foram sendo alterados em muitos casos, pela presunção "parvenue" dos alpinistas sociais, que enchem os alcatruzes da nora da vida, no movimento ascendente, nora essa que atravessa na horizontal todas as famílias. Lá diz o ditado : Não procures geração, porque encontrarás, puta, padre, paneleiro ou ladrão....
Hoje a GOLEGÂ é assim :
A "Água pé" e o abafado desapareceram quase por completo, dando lugar ás cervejolas, ao Whisky e mais recentemente ao Gin, que se bebe com tudo até com pepino. A Rainha mãe bebia diáriamente o seu gin sem nada dessas porcarias que lhe misturam hoje... mas era a Rainha Mãe...
As tascas que serviam dobrada, bacalhau com grão e uns frangos á cafreal ou no espeto de duvidosa qualidade, têm hoje como sucedâneos os grelhados de carne Arouquesa, Alentejana, Mirandesa etc... ou então os porcos empalados cujo o tempero melhora com a poeira levantada pelos caminhantes e pelo perfume dos cagados dos cavalos…
As tascas que serviam dobrada, bacalhau com grão e uns frangos á cafreal ou no espeto de duvidosa qualidade, têm hoje como sucedâneos os grelhados de carne Arouquesa, Alentejana, Mirandesa etc... ou então os porcos empalados cujo o tempero melhora com a poeira levantada pelos caminhantes e pelo perfume dos cagados dos cavalos…
A falta de sitíos para as pessoas se sentarem para descansar, é notória como aliás sempre foi, com a agravante de que agora há muito mais gente e os lugares são os mesmos, e ainda por cima muita malta nova perdeu o respeito pelos mais velhos e alapam-se ás cadeiras a beber, a dormir e por vezes a vomitar sem se lembrarem de dar os lugares ás senhoras e aos mais velhos, com problemas nas ancas, nos joelhos, nas costas e noutros sítios que não devem ser chamados para este assunto.
O cheiro da merda dos cavalos é pestilento, nada comparado com o cheiro quase agradável da merda antiga, do tempo em que os cavalos não eram alimentados com rações compostas.
As noites são infernais, com uma mistura de bebados e bebedas, a que se junta música em altos berros, flamengo foleiro, ténis de todas as marcas, camisolas de Rugby, umas T'shirt's de uso feminino descaídas que deixam o ombro á mostra, bem como uma alça do soutien, normalmente com laivos de sujidade da boa.
Actualmente já não se houve frases do genero: Apresenta-me a tua prima ou a tua amiga. Está quase tudo apresentado e a tutear-se, e muitos a comerem-se como se não houvesse amanhã..
Os urinois públicos são os mesmos mas com bichas maiores á porta e a urina a invadir todo o chão como se das cheias de Lisboa se tratasse. As das senhoras, não sei mas faço ideia....
Encontrar com quem falar de cavalos e equitação com propriedade e humildade é tão dificil como encontrar um "milho-rei" numa escamisada…
Os cavalos passaram a ter dois nomes como as pessoas. Antigamentte havia o Zé, o toino o Alipio e o Manel, hoje há o Zé Jorge, o Toino Evaristo, o Alipio Ezequiel e o Manel Alfredo. Nos cavalos, o Foguete, o Lampiao, o Esperto e o Gazela, deram lugar ao Foguete da Pachaxa, ao Lampiao da Bruxa, ao Esperto do Paposeco, e ao Gazela da Banana Manca...
Os cavalos passaram a ter dois nomes como as pessoas. Antigamentte havia o Zé, o toino o Alipio e o Manel, hoje há o Zé Jorge, o Toino Evaristo, o Alipio Ezequiel e o Manel Alfredo. Nos cavalos, o Foguete, o Lampiao, o Esperto e o Gazela, deram lugar ao Foguete da Pachaxa, ao Lampiao da Bruxa, ao Esperto do Paposeco, e ao Gazela da Banana Manca...
Os capotes Alentejanos que tinham as suas cores genuínas, foram adulterados por todas as cores. Só me falta ver os capotes com a marca á vista tipo "LACOSTE".
Já há selas Azuis cueca, vermelhas e verdes…
Já há selas Azuis cueca, vermelhas e verdes…
Nas casas de comidas só há vinhos Alentejanos e do Douro, nada de vinhos ribatejanos…
As linguas Portuguesa, Alentejana, a Espanhola e mais tarde a Francesa, que se falavam na feira, deram origem a uma invasão de tantas outras linguas, que mais parece que a Golegã é a "Torre de Babel"...
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...
Dou comigo neste momento a meditar nesta frase de Eça de Queirós: "Quem não admirará os progressos deste século ???!!!".
Quanto ao passado, restam saudades da voz rouca e ronfenha dos altifalantes da época, dos xailes sobre a cabeça das mulheres do povo, da´água - pé mal cosida, das pilecas (que as havia...), da lama em dias de chuva e da falta de tudo que a civilização aportou nas últimas décadas.
Hoje as conversas puras e entendidas sobre os cavalos como individuos e a sua linhagem, foram substituidas pela retórica patega, o convivio salutar deu lugar a arremedos de elitismos em todas as classes sociais. O fandango e o fado deram lugar ao flamengo, o beber por prazer transformou-se na obrigação de se embebedar, e em função de tudo isto assiste-se a uma peregrinação de jovens ã Golegã, sem Deus ou Santo para adorar, numa manifestação anárquica á qual o cavalo passa ao lado.
Antigamente íam á feira todos os amantes do cavalo e havia cavaleiros trajados a rigor e mulheres bonitas e bem vestidas, hoje vai toda a gente quer goste ou não de cavalos...