Minhas Senhoras e meus Senhores
Em nome da Tertúlia Tauromáquica Aeminium, gostaria de cumprimentar todos os presentes e agradecer aos galardoados, pelo facto de se juntarem a nós, neste salutar encontro de aficionados, na cidade de Coimbra.
Esta Tertúlia reúne-se hoje, não só para a assinalar o seu 4º ano de actividade, como para galardoar e reconhecer, os diversos protagonistas da tauromaquia que vivemos e que sentimos.
Ela faz parte da cultura nacional, enquanto expressão artística humana, onde homem e toiro se confrontam, num duelo de espécies distintas, transportando consigo, uma dimensão antropológica ímpar.
A tauromaquia é hoje reconhecida pelo Estado, como parte integrante do património cultural português, e nessa medida, é um direito fundamental que assiste a todos os cidadãos, encontrando-se por isso, constitucionalmente protegido.
Enquanto arte, a corrida de toiros é produto de um ensaio entre a técnica e a estética, sem descurar princípios éticos, cujo processo evolutivo está longe de estar concluído, pois existe um constante desenvolvimento em curso, que reflecte o talento natural dos sucessivos artistas, à luz dos períodos que correm.
No entanto e como em todas as artes, há directivas que não se podem dissipar. A perfeita lealdade para com o adversário, e a total sinceridade na entrega corporal e espiritual do artista, são pedras basilares para a firmeza doutrinal da “Festa”.
A corrida de toiros não deve por isso, deixar de ser um drama trágico/emocional onde através dele, revivemos a natureza tal como ela é: cruel e fria; fértil e mortal.
Só assim se pode, glorificar o difícil triunfo, ou chorar a adversidade ou mesmo a fatalidade.
O que não se basear na emoção verdadeira, não deixa de ser um ensaio de lide, mais ou menos bem rematada, e por isso, há que reconhece-lo em praça, para melhor distinção e apreensão do público em geral, em prol de um espectáculo autêntico e de possível explicação.
Hoje, o único espectáculo onde se pode contemplar o confronto entre um homem, pelo seu arrojo, valor e inteligência, podendo resultar ferido pelo seu adversário animal é numa corrida de toiros.
É ao cravar um ferro ao estribo, ao alargar um natural ou a executar uma pega de largo, resultado do encontro entre um toiro de lide saudável e bravo, e um homem com técnica e cultura suficiente, que se pincela e extrai, algo que se possa equiparar a arte.
E dessa arte obtém-se uma mensagem.
Uma mensagem que se resume, no êxito da inteligência humana perante a força bruta, que conduz o homem à tão procurada Liberdade no seu ecossistema de sempre, que é a Natureza.
E grande parte dessa natureza é hoje o mundo rural, que nos viu nascer, a uns mais e a outros menos arrojados de espírito, mas que nos fez crescer, igualmente, mais ou menos complexados de juízos e de ideias de vida.
Assim sendo, e prevendo que as sociedades ditas democratizadas crescem cada vez mais avessas aos aspectos alheios das rotinas urbanas, importa que a tauromaquia enquanto arte, se saiba legitimar e alargar às novas gerações, essencialmente por questões artísticas e só depois por fundamentos de interesse pessoal ou empresarial.
Ambos estão interligados e são estritamente necessários á “Festa”, mas contrariar esta prioridade é remar contra a maré, numa Europa cada vez mais federalista, e por isso, mais autocrata também do ponto de vista cultural.
Mas é preciso dizer, que a tauromaquia tem todos os requisitos para ter continuidade. Assim saibam os seus intervenientes actualizar e modernizar o que assim o exigir.
Sim, porque a corrida de toiros é um espectáculo actual e moderno!
É moderno no tempo, porque apesar das origens distantes, não tem mais de três séculos de metamorfose.
É moderno nos valores, porque ensina os jovens a ter coragem de ter medo, sem disso terem vergonha.
É moderno economicamente, porque para além de produzir riqueza em diversos ramos de actividade, ainda é dos poucos sectores onde não se despedem trabalhadores em massa.
É moderno ambientalmente, porque preserva na íntegra mais de 70.000 há de solo rural nacional.
Mas acima de tudo, é moderno em substancia artística, ao fazer desabrochar em 15 minutos, a verdadeira natureza racional e por vezes irracional, do homem antigo que é, mas que hoje se julga moderno por ter ido Lua, enquanto construía a bomba atómica, ou por aperfilhar milhões de animais de 4 patas ao mesmo passo que despreza comunidades humanas famintas.
Quem é realmente moderno, vive o seu tempo sem fanatismos ou intolerâncias e principalmente sem desafiar a condição e a liberdade do próximo.
Minhas senhoras e meus senhores,
O nosso tempo é Agora! E têm referências. Do presente, do passado e já do futuro.
Por isso mesmo, há que ter a convicção, de que o futuro passa pela união da afición em geral, cabendo a cada interveniente dar a cara, e saber defender coerentemente, os seus ideais, tal como nós nos encontramos aqui hoje, a celebrar e a dignificar, quem em nosso entender se destacou e destaca, ao dar o seu melhor contributo e empenho a esta Causa, que a todos nos une.
Muito Obrigado