Com a devida vénia e autorizados pelo autor, publicamos a crónica da última corrida na ilha Terceira, de autoria do Sr. Duarte Bettencourt:
Realizou-se no passado dia 3 de Agosto na Praça de Toiros Ilha Terceira, pelas 18 horas e 30 minutos, a nona edição da Corrida das Festas da Praia, corrida esta que surgiu com o aparecimento do Grupo de Forcados Amadores do Ramo Grande, que a 7 de Agosto de 2007 teve a sua estreia, e que estreia. Este ano a corrida contou com as presenças dos cavaleiros Rui Salvador, Tiago Pamplona e Manuel Telles Bastos, que lidaram um curro de toiros da ganadaria da Casa Agrícola José Albino Fernandes, gerador de grande polémica por altura da Feira de São João deste ano, mas que criou na Corrida das Festas da Praia uma, ainda maior expectativa, um curro com idade, peso e trapio, à altura dos pergaminhos da Corrida da Praia. Pegaram estes mesmos astados os Grupos de forcados amadores da Tertúlia Tauromáquica Terceirense e do Ramo Grande, em dia de aniversário pelos seus pequenos, mas grandes, oito anos de existência.
O seu, a seu dono. Manuel Pires realizou uma pega histórica ao consumar ao primeiro intento a pega da tarde, a mesma foi realizada ao sexto toiro da corrida, o "Artista". O Manuel esteve valentíssimo recebendo a investida pronta do astado, para depois em viagem difícil, aguentando o que parecia impossível de aguentar e com as grandes ajudas de Miguel Toste e Vítor Enes, concretizar o maior momento taurino desta temporada, até à data. O público vibrou e eclodiu das bancadas, exigindo duas voltas ao valente do Ramo Grande.
A corrida no que toca aos forcados contou também com excelentes pegas, todas elas ao primeiro intento. Pelo grupo da Tertúlia, que se mostrou uma vez mais coeso nas ajudas, foram solistas, e que solistas, João Pedro Ávila fechando-se muito bem na cara do toiro, com o grupo a dar vantagens, Carlos Vieira também numa excelente pega tecnicamente perfeita e bem fechado de braços e pernas na cara do toiro e Tomás Ortins numa pega enorme de querer e poder. Pelos do Ramo Grande pegaram ainda Luís Valadão que esteve muito bem com o toiro, que ao perder as mãos dificultou e de que maneira a viagem do forcado e as ajudas do grupo, que esteve muito bem, já César Pires teve uma pega atribulada, tendo sido ajudado pelos colegas a ficar na cara do toiro.
Pelos marialvas destaque para o cavaleiro da Torrinha, Manuel Telles Bastos na lide do sexto toiro da tarde, com três soberbos ferros compridos à tira, com o "Xerico", e depois com a "Rosa" a rubricar a faena da tarde, com ferros de mérito ao estribo e em todo o alto. Que bem monta a cavalo este Telles, e que classicismo, mão esquerda nas rédeas e tricórnio na cabeça, assim dá gosto ver evoluir um cavaleiro à portuguesa pela arena. Na sua primeira lide, Manuel recebeu o terceiro da ordem com um enorme ferro à porta gaiola, aproveitando a excelente saída do seu oponente, rubrica três bom ferros curtos com o "Romano", vindo o toiro a menos e também a restante lide, com dois ferros de menor impacto seguidos de toques na montada.
Rui Salvador, jovem veterano da nossa tauromaquia, destacou-se pela sua experiência e conhecimento do toiro bravo, ao terminar a lide do quarto toiro da tarde, com três ferros enormes, ao estribo, daqueles impossíveis, com destaque para o último, o ferro da tarde, montando o excelente "Vice-Rei". No seu primeiro Salvador andou correcto mas sem deslumbrar, com destaque para os dois últimos ferros do segundo tércio.
Tiago Pamplona esteve aquém das expectativas, esteve melhor no seu primeiro com destaque para os ferros compridos utilizando o seguro "Cagancho", onde se viu boa brega e boa consumação das sortes, destaque desta lide vai para para os segundo e terceiros ferros curtos, montando o "Bastinhas", onde o cavaleiro partiu recto pisando os terrenos, carregando bem a sorte e a deixar em todo o alto dois bons ferros. No seu último, o quinto da tarde, e por culpa da não cravagem de três ferros, a lide não resultou. Bem a humildade do cavaleiro em não querer dar volta à arena, muitos deviam-lhe seguir o exemplo.
O curro da Casa Agrícola José Albino Fernandes, gerador de grande expectativa, apresentou-se soberbo com peso e trapio, mas faltando alguma chispa em relação ao comportamento, note-se que todos eles se deixaram lidar, mas quase todos tiveram o mesmo senão, paravam-se no momento da reunião dificultando o labor aos seus lidadores. Destaque para a beleza do primeiro toiro da corrida, o salgado "Agualimpa", número 374 e com 530 quilos de peso e para os quinto e sextos toiros da corrida, o "Agradecido" número 367 lidado por Tiago Pamplona e "Artista" número 380 lidado por Manuel Bastos, os de melhor comportamento. Como se diz na gíria taurina, os toiros são como os melões, só quando se abrem é que sabe se são bons ou não.
O público preencheu 3/4 de casa forte em tarde de bom tempo.
Dirigiu a Corrida o director Carlos João Ávila, assessorado pelo Dr. Vielmino Ventura. Acompanhou a corrida a Filarmónica Sociedade Recreio Lajense, mais conhecida pela Sociedade Velha das Lajes.
Duarte Bettencourt