A EXTINÇÂO DO GADO BRAVO
Por - João Afonso Machado em 22/8/2015
A tourada, em recente formulação dos "contra", é apenas "tradição". O que, devido ao sofrimento do touro, bastará para a proibir.
Ora a tourada não é, evidentemente, "tradição". É, goste-se ou não, em si mesma espectáculo: a arte equestre - a atitude do cavalo, a perícia do cavaleiro - a destreza, a coragem e o apego dos forcados, o sangue-frio e a postura dos matadores e novilheiros. A tourada é, sobretudo, as praças de touros invariavelmente cheias, o ponto de encontro de todas as proveniências sociais por muito que a demagogia reduza o fenómeno ao inefável "marialvismo". E, não fora assim, não se manteria a tourada a pé firme nas emissões televisivas.
Isto posto, os touros: o gado que vagueia na lezíria. Terminantemente não leiteiro, vagamente para carne de consumo. Pastando e ruminando por ali em resultado de um valor económico que é só seu - o do gado bravo.
Sem a tourada, a lezíria necessitaria procurar outros moradores. Não há, em Portugal, espaço campesino que se possa dar ao luxo de não ser rentável. Para isso já basta o Interior desertificado.
De modo que, sem a tourada, seria o fim das ganaderias e de uma raça exclusivamente ibérica: a do dito gado bravo.
E sobre o seu sofrimento: é, em vida, muito menor do que o da população aviária e de outras espécies que adquirimos depois ns supermercados. E, na morte, menos atroz do que o do porco, esfaqueado goelas adentro, sangrado e retalhado.
Não é a tradição que mantém a tourada, mas sim a adesão popular ao espectáculo. As coisas são o que são, por muito que elas possam servir para falsas causas políticas. Quanto a estas, aí vai um facto, uma motivação - o abandono de cães e gatos "de estimação" pelo fútil motivo de férias ou quejandos.
Dá menos nas vistas mas é mais premente.