Abaixo de cão
É deveras estranha, e por demais inquietante, esta recente sociopatia ideológica, dita “animalista”, socialmente transversal, e que emergiu nos últimos anos com acintosa relevância no mundo da comunicação e das redes sociais. No “facebook” são aos milhares as fotografias de gatinhos que, sem pudor, substituem a cara dos autores no seu perfil. Dizem-se e escrevem-se os maiores disparates à sombra de lugares-comuns de uma total vacuidade conceptual, reveladora de uma profunda iliteracia, sobretudo por parte de quem nunca sequer um dia se deu ao trabalho de estudar e entender a vida e as ideias de S. Francisco de Assis, o conhecido patrono dos animais. A sua revolta era outra, e ele próprio coraria de vergonha se lesse agora o que por aí se lê.
Não sou adepto, não cultivo teorias da conspiração, e não creio que haja algo secreto neste fenómeno, como uma central conspirativa organizada. Tendo a crer que tudo isto, muito provavelmente, seja apenas o reflexo de uma afirmação global e comunicacional da dominante primária, puritana e calvinista, da sociedade norte-americana. A questão do tabagismo até é semelhante, tem os mesmos contornos totalitários, e só não tem um partido político. Mas a hipocrisia da (des)humanidade está lá toda. Aposto que quase ninguém se lembrará do nome da criança que um dia morreu, mordida em casa por um famoso cão pitbull que viria depois a ser crismado de “Mandela” por essa gente. O menino chamava-se Dinis, recorde-se. Porque este género humano em turba não augura nada de bom