sábado, 2 de junho de 2012
Numerário - Um Cavalo extraordinário de Mestre João Nuncio
Por M. Peralta Godinho e Cunha
A sorte de um cavalo é ter um bom cavaleiro, mas no caso do toureio alguns cavalos são colhidos porque os cavaleiros arriscam mais e se colocam em terrenos onde outros não têm coração para estar. Contudo se no toureio a cavalo não houvesse emoção, se os cavaleiros não colocassem os cavalos em terrenos onde os toiros pesam mais, seria tudo menos toureio.
No meu entender o toureio a pé é mais arriscado, mas o toureio a cavalo é mais difícil, não obstante as regras básicas serem as mesmas.
Há cavalos de toureio excelentes e alguns, eles mesmos, toureiros de verdade.
O saudoso mestre João Branco Núncio teve vários e bons cavalos, mas um deles, castanho de pelagem, chamava-se "Numerário" e serviu ao mestre durante 13 épocas. Segundo as estatísticas este cavalo lidou 251 toiros.
Curiosamente o "Numerário" era um cavalo pouco rápido, muito obediente e habilidoso e mesmo sem ter a velocidade de outros, conseguia destacar-se na cara dos toiros e dar a pirueta, o que era de grande agrado do público.
Quando João Branco Núncio verificou que a idade do "Numerário" já não lhe permitia tourear mais, não se desfez dele e considerou que o cavalo deveria ter direito a uma justa aposentação e, para o resto da sua vida, foi largado numa tapada nas Alcáçovas onde havia vacas leiteiras a pastar.
Pois o "Numerário" que se achava toureiro até morrer, todos os dias se metia com as vacas até alguma se arrancar com ele. Então dava largas à sua inspiração, toureando sozinho a vaca que se arrancasse, passando-lhe junto à córnea e não deixando de lhe fazer uma pirueta na cara. Dizem que era um espectáculo extraordinário de ver.