É alto, magro, corpo seco. Em cada
olhar, porém, o seu poder de perscrutar, de descobrir, de fulminar, é
instantâneo. Tem 26 anos plenos de vida - moldados nessa planície alentejana
onde nasceu, cresceu e aprendeu a arte que o tornou famoso.
Nasceu a 15 de Junho de 1940 em S. Marcos
de Campo, uma aldeia de Reguengos de Monsaraz, situada na margem esquerda da
ribeira de Degebe e a pouca distância da margem direita do Guadiana. A sua
população é de cerca de 3000 habitantes divididos por cerca de 1000 casas. O
serviço de correio não falta, nem a escola primária, nem a sociedade recreativa
com os seus bailes domingueiros. Existe ali uma fábrica de tijolos, outra de
mobílias alentejanas, lagares de azeite. Nos campos de S. Marcos cultivam-se
cereais, e a produção de vinho, cortiça, mel e cera é satisfatória. S. Marcos é
por conseguinte, o que o povo chama "uma terra progressiva".
Ali cresceu José Mestre Baptista. Ao
tempo S. Marcos não tinha escola primária e, para ir a Reguengos frequentar as
aulas, deslocava-se todos os dias de burro, que os 10 Km que separam S. Marcos
de reguengos não se podem fazer a pé…
Assim, José Mestre Baptista se habituou
desde a mais tenra idade a montar o seu burrinho. Do burro passou aos cavalos,
mas não sem fazer alarde das suas tropelias… Uma que deu que falar lá na terra:
subir a escadaria do adro da Igreja de Reguengos montado no seu jerico…
Terminada a 4ª classe, os pais
matricularam-no num colégio a fim de tirar o curso dos liceus. Logo no 1º ano
começou a dar faltas sobre faltas. Sentia nas veias o apelo da vida ao ar
livre, das planícies e ia para a brincadeira com os outros rapazes do povo, que
não tinham pais ricos para os mandar estudar… Decepcionado com a falta de
tendência do rapaz para os livros, o pai de José Mestre Baptista acabou por o
meter na vida da lavoura, ao lado dos criados, trabalhando com eles, de sol a
sol e aprendendo o quanto custa ganhar a vida com o suor do rosto.
Um dia dirigiu-se ao pai com um pedido
na ponta da língua:
- Já tenho 13 anos e gostaria de ter umas
vacas pretas, para imitar toiros. Quero lidá-las…
O pai anuiu ao pedido com uma entrega
de 8 vacas bravas… A sua carreira ia dar os primeiros passos. Alugou-as, antes
de mais nada, para uma corrida em Reguengos, sob a condição de ser ele a
tourear a cavalo. O pai assistiu - e no final não cabia de contente pela
audácia do filho que não dera para os estudos, mas era já um verdadeiro homem
montado no seu cavalo…
Em 1958, com 18 anos apenas, José
Mestre Baptista tomava alternativa no Campo Pequeno… mas ficava reprovado.
Desgostoso, tentou de novo a sua sorte dois meses depois e conseguiu-a com D.
Francisco de Mascarenhas na Moita do Ribatejo.
Presentemente, José Mestre Baptista
conta no seu palmarés com centenas e centenas de corridas. Quando actua cobra
cerca de 15 a 50 contos, conforme as praças. A sua vida é bastante movimentada.
No entanto, tem como residência em Lisboa um apartamento reservado no Hotel
Impala, numa zona de pouco barulho da cidade. As admiradoras não o largam.
Pedem fotografias directamente para S. Marcos do Campo, para a Televisão, para
a casa Valentim de Carvalho (onde gravou a sua estreia como cançonetista - o
paso-doble "Cortesias"…) e ainda para o Sindicato dos Toureiros e
Hotel Impala.