Pelarigo deu vida ao fado antigo
No domingo fui almoçar ás Caneiras a casa do Pelarigo, como vou várias vezes ao ano com o mesmo grupo de amigos, Mandachuva, Arimateia, Maestro Mário Coelho, Fernando Hilário, Simão Comenda, Rui Barreiros, Ricardo Chibanga e outros.
Conheci o António Pelarigo ( Cabaret p'rós amigos doutros tempos), há muitos, muitos anos na caseta dos Marialvas na velha feira de Santarém, onde tantas vezes cantámos juntos. Já nessa altura o seu canto e o seu sentimento impressionavam toda a gente que o ouvia, em especial os verdadeiros amantes do fado.
Como sabem, o fado atravessou várias fazes, mas na minha opinião as mais marcantes depois de Amália e Marceneiro, foi a época determinada por João Ferreira Rosa - o fadista que trouxe classe ao fado - e agora a época de António Pelarigo - o fadista que deu uma nova vida ao fado antigo-.
Ao longo dos anos, continuei a cantar com o Pelarigo, ora em sua casa em tertúlias verdadeiramente fadistas, ora em casa de amigos. A sua voz amadureceu, enquanto os poemas que canta, mantêm a qualidade da beleza profunda, na ligeireza do entendimento sentido, sem cruzar mesmo que ao de leve a moda da poesia intelectualoide que penetra nos segundos sentidos, retirando ao fado o seu cariz popular.
"Quem me quiser, há-de saber as colchas
As cantigas dos búzios e do mar..
Com estes versos começa um poema de Rosa Lobato Faria, ao qual o António dá a força dum fadista raro, que quando na exaltação do seu sentir Monárquico, brilha nas suas cantigas que versam esse tema, dando dessa maneira o sentido de intervenção que planou muitas vezes no fado .
O " Pelarigo é e sempre foi um enorme fadista, que só uma incorrigivel humildade, o arrastou no tempo, um tanto escondido das luzes da Ribalta...
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