MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

terça-feira, 11 de julho de 2017

Ao estribo e não só...

Ao estribo e de alto a baixo

O artigo que escrevi ontem, este que estou a escrever e o que penso escrever amanhã, foram inspirados na mensagem que o distinto aficionado, Sr. Paulo Silva, publicou na sua página do Facebook, e da qual extraímos o seguinte :  "o toureio das piruetas, levadas, mordidelas, ou seja, o toureio acessório, nunca foi, nem deve ser, o toureio de Portugal" .  Da mesma mensagem podemos também concluir que o Sr. Paulo Silva ao dizer com o seu conhecido bairrismo, que a Palha Blanco não é dos turistas e dos novos entendidos, está possivelmente a dizer que nas outras praças há gente que conhece e aprecia o classicismo.


Dos livros do grande mestre, Sr. Eng. Fernando Sommer de Andrade extraímos os trechos que se seguem que aconselhamos vivamente a ler para desfazer dúvidas.
(Ao mesmo tempo aconselhamos também a consulta de uma colectânea de citações, na página do facebook da Frente de acção pró taurina, da autoria de José Barrinha da Cruz).





"Pelo citar, deve o cavaleiro fazer-se ver pelo toiro, prender a sua atenção, mostrar que não o deseja surpreender, caso em que deve ser tomado como falta de confiança nas suas possibilidades, quando não de medo. O citar pode e deve ser feito com graça leveza, de modo a entreter o público, mas pode o cavaleiro fazer muitas e bonitas habilidades ao citar, se o toiro não estiver com atenção ao cavalo quando este parte na sua direcção, não passa de teatro sem valor tauromáquico. É uma mentira!


TRAZER O TOIRO TOUREADO - «Quando o toiro entra no terreno de jurisdição, para que este mostre que manda no toiro, tem de o trazer, passo a passo, sob o seu domínio sem que, em momento algum, o toiro passe a ter o comando das operações. No toureio a cavalo, deve o toiro ter como fulcro ou alvo do seu ataque o peito do cavalo.


O cavalo deve ganhar o corno direito ao "toiro" para iniciar o quarteio ou de largo, segundo a vontade do cavaleiro, ou em curto, depois da "batida" que efectuou para "carregar a sorte", trazendo o toiro toureado, sempre ligado a si, sempre atento aos movimentos do peito do seu cavalo, aproximando-se paulatinamente mas segundo o ritmo imposto pelo cavaleiro. É nisto que reside o "mando".


A VIAGEM - «A viagem é o terreno percorrido pelo toiro entre o sítio onde iniciou a sua investida e o toureiro que o cita.» - A JURISDIÇÃO - «Quando o toiro entra no terreno da jurisdição do cavaleiro, isto é, chegando ao terreno em que passa a ficar sob a influência do toureiro, do seu mando, distância variável conforme os toiros e a sua codícia, velocidade da investida, o cavaleiro carrega a sorte.»


 A REUNIÃO - «A reunião é o momento da sorte em que o toiro, enganado pela trajectória do cavalo, se esforça por "agarrar" este por altura das silhas, ao estribo, de modo que o cavaleiro pode feri-lo por detrás da cartilagem da omoplata, junto à espinha dorsal do toiro, sem ter de se esticar, "PESCANDO" o ferro de longe, nem contorcer-se na sela para trás, a fim de cravar a "SILHAS PASSADAS", porque deve estar no "centro da sorte".»


Na reunião bem executada, o cavaleiro aponta o ferro "assomando-se ao balcão", inclinado para diante, e é o toiro que, com o seu balanço, vem espetar-se no ferro e não o cavaleiro que, vendo o toiro a fugir-lhe, por não estar no sítio, isto é, no centro da sorte, tem de contorcer-se para trás e atirar à pressa uma punhalada com o ferro para poder alcançar ainda o toiro.




 O toiro, ao pensar que vai atingir o cavalo, humilha, arma o derrote, posição que lhe embaraça a corrida; ao ser fintado, enganado pelo carregar da sorte, perde ainda mais velocidade para se reequilibrar, metendo os rins e as pernas; perde ainda mais velocidade ao lutar contra a força centrífuga que tende a afastá-lo do seu intento devido ao arco a que o cavalo o obriga.Tudo isso permite ao cavaleiro "templar", isto é, determinar um abrandamento da velocidade da investida do toiro


 A SORTE DE PODER A PODER -«Diz-se da sorte de largo, a dois tempos, em que o cavaleiro e o toiro, estando ambos encostados às tábuas, diametralmente opostos, saem ao encontro um do outro, a todo o correr, para reunir ao centro da arena. É UMA SORTE DE GRANDE VALOR TAUROMÁQUICO E ESPECTACULAR.»

 A SORTE RECEBENDO - «Diz-se que a sorte é recebendo quando o toiro acode ao cite investindo contra o cavaleiro que o espera parado ou em andamento muito lento. Quando o cavaleiro recebe o toiro parado e o engana, com um simples "carregar a sorte", chama-se "quiebro". O quiebro, quando bem executado sem que o toiro seja demasiadamente "atirado" para fora, é de grande valor tauromáquico pelo que representa de estoicismo no aguentar, de confiança na obediência do cavalo, da medição de terrenos, de conhecimento das características do toiro.




NOTA : Correndo o risco de me considerarem atrevido depois de lerem os conceitos de tão insigne mestre, acrescento: "Compreendo a evolução da arte de tourear a cavalo. Os cavalos cruzados, o ritmo e a espectacularidade que parte do público aprecia, e a falta de cultura tauromáquica, levam muita gente a não perceber a diferença entre o cavaleiro trazer o ferro armado de longe - e aqui lembro-me de que a seu tempo os puristas criticaram A. Domecq que fazia disso prática corrente - , ou armá-lo bem perto da jurisdição levantando o braço e cravando de alto a baixo na perpendicular. Há ainda o promenor de ao transportar o ferro em baixo não provocar a diminuição de faculdades ao toiro que ao ver a bandarilha se pode defender.
O que se vê muitas vezes, o que ainda é pior, é o ferro chocar com o toiro, que é tão só o que se ensina aos principiantes para não falharem a ferragem.