Ao estribo e de alto a baixo
O
artigo que escrevi ontem, este que estou a escrever e o que penso
escrever amanhã, foram inspirados na mensagem que o distinto aficionado,
Sr. Paulo Silva, publicou na sua página do Facebook, e da qual
extraímos o seguinte : "o toureio das piruetas, levadas, mordidelas, ou seja, o toureio acessório, nunca foi, nem deve ser, o toureio de Portugal" .
Da mesma mensagem podemos também concluir que o Sr. Paulo Silva
ao dizer com o seu conhecido bairrismo, que a Palha Blanco não é dos
turistas e dos novos entendidos, está possivelmente a dizer que nas
outras praças há gente que conhece e aprecia o classicismo.
Dos
livros do grande mestre, Sr. Eng. Fernando Sommer de Andrade extraímos
os trechos que se seguem que aconselhamos vivamente a ler para desfazer
dúvidas.
(Ao
mesmo tempo aconselhamos também a consulta de uma colectânea de
citações, na página do facebook da Frente de acção pró taurina, da
autoria de José Barrinha da Cruz).
"Pelo
citar, deve o cavaleiro fazer-se ver pelo toiro, prender a sua atenção,
mostrar que não o deseja surpreender, caso em que deve ser tomado como
falta de confiança nas suas possibilidades, quando não de medo. O citar
pode e deve ser feito com graça leveza, de modo a entreter o público,
mas pode o cavaleiro fazer muitas e bonitas habilidades ao citar, se o
toiro não estiver com atenção ao cavalo quando este parte na sua
direcção, não passa de teatro sem valor tauromáquico. É uma mentira!
TRAZER
O TOIRO TOUREADO - «Quando o toiro entra no terreno de jurisdição, para
que este mostre que manda no toiro, tem de o trazer, passo a passo, sob
o seu domínio sem que, em momento algum, o toiro passe a ter o comando
das operações. No toureio a cavalo, deve o toiro ter como fulcro ou alvo
do seu ataque o peito do cavalo.
O
cavalo deve ganhar o corno direito ao "toiro" para iniciar o quarteio
ou de largo, segundo a vontade do cavaleiro, ou em curto, depois da
"batida" que efectuou para "carregar a sorte", trazendo o toiro
toureado, sempre ligado a si, sempre atento aos movimentos do peito do
seu cavalo, aproximando-se paulatinamente mas segundo o ritmo imposto
pelo cavaleiro. É nisto que reside o "mando".
A
VIAGEM - «A viagem é o terreno percorrido pelo toiro entre o sítio onde
iniciou a sua investida e o toureiro que o cita.» - A JURISDIÇÃO -
«Quando o toiro entra no terreno da jurisdição do cavaleiro, isto é,
chegando ao terreno em que passa a ficar sob a influência do toureiro,
do seu mando, distância variável conforme os toiros e a sua codícia,
velocidade da investida, o cavaleiro carrega a sorte.»
A
REUNIÃO - «A reunião é o momento da sorte em que o toiro, enganado pela
trajectória do cavalo, se esforça por "agarrar" este por altura das
silhas, ao estribo, de modo que o cavaleiro pode feri-lo por detrás da
cartilagem da omoplata, junto à espinha dorsal do toiro, sem ter de se
esticar, "PESCANDO" o ferro de longe, nem contorcer-se na sela para
trás, a fim de cravar a "SILHAS PASSADAS", porque deve estar no "centro
da sorte".»
Na
reunião bem executada, o cavaleiro aponta o ferro "assomando-se ao
balcão", inclinado para diante, e é o toiro que, com o seu balanço, vem
espetar-se no ferro e não o cavaleiro que, vendo o toiro a fugir-lhe,
por não estar no sítio, isto é, no centro da sorte, tem de contorcer-se
para trás e atirar à pressa uma punhalada com o ferro para poder
alcançar ainda o toiro.
O
toiro, ao pensar que vai atingir o cavalo, humilha, arma o derrote,
posição que lhe embaraça a corrida; ao ser fintado, enganado pelo
carregar da sorte, perde ainda mais velocidade para se reequilibrar,
metendo os rins e as pernas; perde ainda mais velocidade ao lutar contra
a força centrífuga que tende a afastá-lo do seu intento devido ao arco a
que o cavalo o obriga.Tudo isso permite ao cavaleiro "templar", isto é,
determinar um abrandamento da velocidade da investida do toiro
A
SORTE DE PODER A PODER -«Diz-se da sorte de largo, a dois tempos, em
que o cavaleiro e o toiro, estando ambos encostados às tábuas,
diametralmente opostos, saem ao encontro um do outro, a todo o correr,
para reunir ao centro da arena. É UMA SORTE DE GRANDE VALOR TAUROMÁQUICO
E ESPECTACULAR.»
A
SORTE RECEBENDO - «Diz-se que a sorte é recebendo quando o toiro acode
ao cite investindo contra o cavaleiro que o espera parado ou em
andamento muito lento. Quando o cavaleiro recebe o toiro parado e o
engana, com um simples "carregar a sorte", chama-se "quiebro". O
quiebro, quando bem executado sem que o toiro seja demasiadamente
"atirado" para fora, é de grande valor tauromáquico pelo que representa
de estoicismo no aguentar, de confiança na obediência do cavalo, da
medição de terrenos, de conhecimento das características do toiro.
NOTA
: Correndo o risco de me considerarem atrevido depois de lerem os
conceitos de tão insigne mestre, acrescento: "Compreendo a evolução da
arte de tourear a cavalo. Os cavalos cruzados, o ritmo e a
espectacularidade que parte do público aprecia, e a falta de cultura
tauromáquica, levam muita gente a não perceber a diferença entre o
cavaleiro trazer o ferro armado de longe - e aqui lembro-me de que a seu
tempo os puristas criticaram A. Domecq que fazia disso prática corrente
- , ou armá-lo bem perto da jurisdição levantando o braço e cravando de
alto a baixo na perpendicular. Há ainda o promenor de ao transportar o
ferro em baixo não provocar a diminuição de faculdades ao toiro que ao
ver a bandarilha se pode defender.
O
que se vê muitas vezes, o que ainda é pior, é o ferro chocar com o
toiro, que é tão só o que se ensina aos principiantes para não falharem a
ferragem.