José Zuquete escreveu um dia esta crónica sempre actual...
Dizemos nós : Falou quem sabia...
"Na era do atrevimento
A propósito da sorte cambiada
É
necessária uma enorme ligação para que sincronizados, cavalo e
cavaleiro executem a sorte com a perfeição desejada. Daqui se depreende
que só um cavaleiro que mande com as pernas, isto é, que esteja bem a
cavalo, poderá tirar partido da sorte cambiada, que se torna
espectacular quando é perfeitamente executada. E quando digo
perfeitamente executada pressuponho a inclusão do temple e o encurvar do
cavalo no movimento após provocar a mudança da trajectória do toiro. E
isto tanto se pode executar num curto espaço de terreno como alongando
esses mesmos terrenos. Esta sorte cambiada que obriga a ir ao piton
contrário é difícil, senão veja-se o pouco número dos que a praticam
actualmente na perfeição. Era a sorte de marca de José Mestre Batista, e
nunca como agora é necessário cultivar essa sorte para bem da nossa
festa.
É
realmente bastante mais fácil executar sortes de violino e fazer uma
espécie de piruetas imitando “nuestros hermanos” e por vezes fazendo uma
espécie de andar de lado com a garupa perto da cara dos toiros, e
tapando a saída aos cavalos com o correr das tábuas. Ora, tourear, é o
que se faz com a cara do cavalo virada para o toiro, quando se atingem
situações que podem provocar perigo e consequente emoção.
Sem
emoção não há festa, por isso ela anda tão por baixo entre nós. Seria
imprescindível que os críticos fossem didácticos, mas infelizmente e
salvo algumas poucas honrosas excepções, os escribas que por aí andam
não possuem conhecimentos que lhe permitam analisar com serenidade e
seriedade o que vão vendo nas nossas praças. Daí restar-lhes o
atrevimento...
Zé Zuquete