Terminou a Golegã 2017, o que ficou ???
Durante esta feira que inclui arte, social, tradição, turismo e descontração, ocorrem também muitos outros processos, todos muito profundos e menos evidentes.
Por esta altura, nesta festa do povo há mascarados, e tal como no carnaval as fantasias, revelam muito sobre a nossa personalidade e os estados emocionais aos quais estamos vinculados.
Personalidade é uma palavra derivada da forma grega “persona”, denominação das máscaras utilizadas pelos atores no teatro grego, que além de favorecerem o reconhecimento de uma personagem, também facilitavam a projeção da voz nos grandes ambientes e ao ar livre.
Se na feira há mascarados, por analogia, esta passa assim a ser, uma festa das personalidades...
Muitos acreditam que as pessoas se revelam durante a feira de S. Martinho, mas frente às diferentes pesrsonagens disponíveis, como será que as pessoas se revelam?
Será que elas se revelam como são? Como gostariam de ser? Ou como, de fato, jamais seriam?
Será que todas as pessoas que passearam de copo na mão de caseta em caseta, estavam de facto felizes? Ou estariam tentando extravasar uma tristeza e um vazio enormes, disfarçado de alegria e descontração?
Os pássaros são felizes por que cantam, não cantam porque estão felizes!
A felicidade só é possível quando o ser realiza a sua essência. Será que as mascaras, espécie de “segunda pele”, que protegeram os que as usaram”, revelaram ou ocultaram a verdadeira essência de cada um dos utilizadores?
Não há dúvidas que “máscaras” e “fantasias” auxiliam temporariamente às ilusões que aparentam tornar a vida mais leve, mais fácil e mais alegre. Ninguém questiona que as mascaras podem revelar fatores inconscientes e arquetípicos do universo demasiadamente humano. Mas, afinal, quando os mascarados voltarem á verdadeira pele e á verdadeira face, nus em sua pureza autêntica e essencial, perguntarão a si mesmos, quem sou eu?
Dizia Drumond de Andrade a propósito do carnaval: "Por trás de “tanto riso e de tanta alegria, mais de mil palhaços no salão, o arlequim (que no ano passado havia sido pierrô) continua chorando pelo amor da colombina...”
As “máscaras” que são essenciais para a ambiguidade, entre o drama e a comédia da vida humana, são removidas pelos mascarados, quando chegam a casa, onde voltam a ser eles mesmos, nus e autênticos revestidos apenas de sua essência e frente a frente com um espelho que reflete a verdade da imagem mais íntima das suas vidas...
Terminou a Golegã 2017, os que usaram mascaras atiraram-nas finalmente ao lixo, mas será que são tão felizes como quando as usaram ????
Depois de tantas dúvidas, termino afirmando: "O mesmo tempo que desfaz “máscaras e fantasias”, envelhece as possibilidades de vivermos nossa própria essência e expor a nossa tão frágil epiderme ao contato direto com a vida.
Tanto a felicidade como a dor são estados internos que a maquiagem externa disfarça, mas jamais elimina.