Vila Velha evolui a olhos vistos, até já tem um bar de alterne...
Numa terra situada à beirinha do IP que liga à fronteira com Espanha, é evidente que um bar de alterne tem tudo para ser um bom negócio.
O Miguel Cruzeiro nasceu em Vila Velha, mas logo que atingiu a idade adulta emigrou para França, começando aí uma vida dura a acartar baldes de massa, latas de tinta e resmas de tijolos, mosaicos e azulejos. Rapaz encorpado, bem parecido e que já se desenrascava no francês, foi convidado, passado algum tempo, para porteiro de um prédio em zona nobre, depois passou a desempenhar as mesmas funções num hotel, de onde transitou para um cabaret, acabando por se aventurar num negócio próprio, um bar de alterne, negócio que ainda hoje detém em paralelo com o da importação e venda, no nosso país, de carros de boas marcas em segunda mão. Pese embora os impostos a pagar pelas legalizações, o negócio deixa uma boa margem, para ele e para o comerciante que lhos compra. O Miguel condu-los até cá, entrega-os, recebe a massa e pira-se. Nessas viagens, acaba sempre por passar um ou dois dias em Vila Velha, terra onde já tem uma vivenda e onde planeia acabar os seus dias.
Numa dessa estadias, encontrou o Rúben, tendo manifestado a vontade de lhe comprar as antigas instalações da oficina e recinto de exposição de máquinas agrícolas e industriais situadas junto ao IP, para ali montar um bar, se tivesse a certeza de que a câmara lho autorizaria. Ofereceu um montante que cegou o Rúben, tendo este respondido que, se ele ficasse em Vila Velha mais dois dias, lhe daria uma resposta segura. O Miguel (conhecido na terra por Michel Francês) disse que sim e, logo nesse dia, o Rúben teve uma conversa de pé de orelha com o dr. Rui, propondo-lhe 10 por cento de comissão no negócio, caso este viesse a concretizar-se. O dr. Rui disse ao Rúben que era um risco, pois iria virar o mulheredo e a igreja contra ele, por tão pouco dinheiro, ainda se fossem 15 ou 20 por cento...
Ficaram nos 15, tendo o dr. Rui dito que apresentasse ele, Rúben, um projecto de viabilidade de um bar - sem falar de alterne - que talvez a coisa se resolvesse. O Rúben falou com o Michel, a quem expôs o resultado da diligência, acrescentando que o Francês teria que dar mais 10 por cento, enquanto ele próprio abdicaria de 10 por cento do valor que lhe era devido, para untar as mãos a determinada pessoa, mas que isto não chegasse ao conhecimento de ninguém, porque se o presidente (dr. Rui) sonhasse tudo seria logo inviabilizado.
Negócio fechado. O Michel voltaria dentro de 15 dias e, se já estivesse concedida a autorização, poderiam fazer a escritura imediatamente.
No avião a caminho de Paris, o Michel, com esferográfica e papel, foi alinhavando ideias. Escolheu o nome "Tá-se Bem !!!", o nome foi bem escolhido por ser original. Já repararam que, ao cruzar Espanha e mesmo Portugal, todos os "puticlubes" e bares de alterne têm no nome príncipe ou princesa ? Ele é o príncipe do amor, o príncipe encantado, o príncipe da noite ou então são simplesmente as princesas ou o retiro de princesas ou princesas lindas etc. Depois, escolheu o tipo de mulheres a recrutar, que seriam maioritariamente de leste ou mulatinhas, já que morenas portuguesas ou brasileiras, com mais cu ou menos mama, fazem lembrar as da terra.
Decidiu convidar para gerente uma amiga francesa de 46 anos que falava a nossa língua por ter sido casada com um português e que, além disso, tinha o aspecto ideal de puta reformada, muito bâton, muito pó de arroz e unhas dos pés e das mãos pintadas a vermelho sangue.
O negócio efectuou-se como o previsto.
Logo que o negócio veio a público, esboçou-se um leve movimento de contestação das ratas de sacristia, entre as quais figurava a mãe do Tatonas, conhecida na vila por estúpida e incapaz. Incapaz porque apesar de ter frequentado um curso de corte e costura da Singer, a sua habilidade nunca foi além de subir e descer bainhas, chulear e fazer ponto ajour, o êxito estes dois últimos trabalhos dependente da máquina que o pai lhe dera ainda em solteira. Em matéria de corte, as experiências foram ridículas, por nunca atinar com o encaixe dos peitos das senhoras, o que fazia
com que os casacos se abrissem à frente entre os botões, querendo as alvas carnes das senhoras que já tinham tido 2,3 ou 4 filhos rebentar para fora, a lembrar o queijo da serra que, de tão mole, já não é suportado pela tira de gaze. Quanto a calças para homem, também não dava desconto ao encaixe de arrumo do lado esquerdo do gancho, o que as tornava inestéticas e incómodas.
Além do mais, acompanhava cegamente o filho no seu embrutecimento progressivo, ao ponto de se ter tornado vegetariana sem saber porquê . O marido saiu de casa e foi viver para um hotel só para não a ouvir...
O dr. Rui, em conversa particular com o Rúben, comentou que estava à espera de uma reacção mais forte e que mesmo esta, ténue, que estava a acontecer, só se verificara depois de o Tatonas ter vindo passar um fim de semana à terra. Respondendo o Rúben de imediato "PUTA QUE PARIU O TATONAS"
