Parte da História do Forcão vista pelo Eng José Portela no seu blogue "Capeia arraiana"
Como é natural, de tempos a tempos escapava uma vaca ou mesmo um toiro, de uma ganadaria espanhola para as imediações das aldeias portuguesas, fazendo tocar os sinos da igreja local a rebate. Depressa se juntavam os populares mais capazes, de forma a escorraçar o animal desnorteado que em princípio apenas contemplava melhores pastos.
Nesta zona raiana, as aldeias subsistiam essencialmente da agro-pecuária, que permitiu ás suas gentes aproveitar a experiencia do seu dia a dia, para que, com base nos seus utensílios agrícolas, inspirar-se na construção de um instrumento de luta apelidado de “Forcão”. Esta "máquina de guerra" agregava e protegia a força popular, e acima de tudo, servia quase garantidamente para vencer e espantar o animal.
Uma das explicações mais consentâneas, relaciona a estrutura do forcão, com a típica cancela de madeira, pois era móvel, de fácil transporte e permanecia em qualquer lameiro. Quanto á forma dianteira do forcão (as galhas) é praticamente unânime que provém do forcado, uma alfaia agrícola amolada, totalmente de madeira ou de ferro, usada principalmente para trabalhos pesados como levantar palha, feno ou estrume.
Logo que era avistada uma rês brava em solo indesejado, o forcão era utilizado para por cobro á situação momentânea. Enquanto não se desenrolava o confronto, eram frequentes os prejuízos em hortas e lameiros, que os animais forasteiros provocavam, necessitando mais tarde de ser reparados pelos donos dos toiros.
Inicialmente, a utilização do forcão pelo homem contra o toiro, tratou-se de um combate indesejado por ambas as partes. No entanto, depressa se percebe que devido à adrenalina e emoção sentida durante esta lide, tais momentos imprimiam a pouco e pouco uma determinada aficcion nas gentes lusas, que com o passar dos tempos e com o aperfeiçoamento da técnica de "pegar ao forcão", fez encarar o toiro, não como um problema, mas como uma grande aventura de grupo.
A partir de determinada altura, os portugueses raianos sugeriram aos ganaderos espanhois, que em vez de serem ressarcidos em dinheiro ou bens, pelos estragos causados, preferiam o empréstimo de vacas ou novilhos bravos, de forma a serem lidados em recintos fechados tal como nas "Capeas" espanholas (Fuenteguinaldo por exemplo).
Com o passar dos anos, a capeia à moda das gentes raianas do Sabugal (Capeia Arraiana) foi-se enraizando na própria cultura popular local e integrou-se na perfeição nas festividades religiosas de cada aldeia, celebradas no mês de Agosto.
Um metro para lá da raia e o festejo não tem continuidade nem nada que se assemelhe no folclore nos nossos vizinhos. De igual modo em território português nada mais existe de semelhante” (…)
“Sai o touro, investe com o forcão, mas o rabejador ou rabichador, alto valente, entendido evita que os ataques pelos flancos, no que é auxiliado pelos dois dos lados, os das galhas, e outros, munidos de garrochões e massas, fazem recuar o touro no seu ímpeto formidável.”(…)
O desenvolvimento progressivo das múltiplas fases culturais, etnológicas, e tradicionais da Capeia arraiana, sucedeu naturalmente de ano para ano, sempre sem descorar das gentes que a recriam anualmente e a não deixaram morrer até aos dias de hoje, através da ancestral nomeação de mordomos ou de actuais comissões organizativas.