Rafael Trancas foi um homem do mundo do toiro por inteiro...
Conheci o Rafael quando ele era rapazote no monte do "Sapal Entráguas" mais conhecido por monte do "LICO", quando seu pai e meu amigo Joaquim Trancas era maioral dessa casa agrícola. Por lá passei a ver tourear vacas, os meus amigos, Gustavo Zenkl, Alfredo Conde e Manuel Jorge de Oliveira, assim como foi nesse Tentadero que assisti a várias tentas da ganadaria "José Pedrosa" ( em que já era o Rafael que picava as vacas e toiros) e a treinos do Grupo do Ribatejo que naquela época era capitaneado por Rui Sotto Barreiros.
Se é verdade que sempre tive uma boa relação com seu pai, também é verdade que a relação com o filho também era excelente.
Comecei a admirá~lo quando forcado do Grupo do Ribatejo, antes de ir para o grupo de Vila Franca, e também pelo desembaraço que mostrava a cavalo nos enjaulamentos. Falar com ele, mesmo quando jovem, era falar com um sabedor nato do toiro e do cavalo, despido de arrogância. Esse saber nato era natural, ou não fosse o Rafael, filho de Campino ( Joaquim Trancas), sobrinho de campino ( Orlando Vicente irmão da mãe), e neto de campino ( Manuel Estevão ) que foi maioral da ganadaria "Conde Cabral".
Como cavaleiro era eficaz, como posso provar com dois cavalos que vendi para o Espanha e por um cavalo com que toureou Nuno Pardal.
Como Forcado foi completo, fazia todos os lugares dentro do grupo.
Como picador, pisou com figuras as principais praças de Espanha e França.
Mas é como homem que guardo as melhores recordações, do trato cordato, da educação, da aficcion desmedida, e do saber estar em registo de amizade, que com tantos anos por viver, partiu quando podia desfrutar da familia aficionada, seu sobrinho Diego e seus cunhados António Ventura cavaleiro de alternativa e seu outro cunhado Eduardo Oliveira (matador de toiros)..
A sua aficcion era o seu sonho, que ao deixar o mundo dos vivos lhe deixou a alma mutilada, ao desaparecer o que era realmente seu, impenetravelmente e inexpugnavelmente seu."
Lutou sempre para obter o que queria e conseguiu, só não foi capaz de vencer a doença, fez-me sentir que um amigo desapareceu e deixou um vazio irrespirável. Não é a sua 'falta' que falta, é o desmentido de que o Rafael não morreu.
A morte
Saiu à rua
Num dia assim
Naquele
Lugar sem nome
Pra qualquer fim
Escrevi estas palavras amigas, porque um homem de eleição do mundo do toiro como Rafael Trancas, tem que ser lembrado, por isso vai por ti, "P'RA QUE A TERRA NÂO ESQUEÇA"...