Com a devida vénia transcrevemos extractos de uma extraordinária crónica do Dr. Ribeiro e Castro..
A Disneylândia é um parque de diversões. Já a Disneylei acontece na manhã de sexta-feira, no plenário da Assembleia da República. Aí será discutido o projecto de lei do PAN para proibir as touradas.
...O pior da ideologia do projecto é a forma como distrata e ofende os que gostam de touradas ou nelas participam. O slogan do PAN, na promoção pública da iniciativa, fala por si: “Tortura não é cultura”. É preciso indignarmo-nos. A tourada não é um espectáculo de tortura.
Gostemos ou não dela, a tourada é um combate entre um indivíduo e um animal bravo que tem seis a dez vezes mais o seu peso. No modo português, o indivíduo monta a cavalo e, no final, um grupo a pé e de mãos nuas procura pegar e imobilizar o animal. Mesmo tendo a tourada momentos violentos, como é próprio dos combates, nenhum actor está ali para torturar e nenhum espectador está ali a babar-se como um sádico. Basta olhar para as pessoas e suas expressões ao longo de uma tourada para tomar consciência da enormidade caluniadora daquele insulto. O que o espectador está a apreciar é um ritual de coragem, uma lide de bravura e virilidade, um bailado de toureiro e toiro ou de cavaleiro, cavalo e toiro e o triunfo final da pega, com arte, destemor e força de braços. Quem fala em tortura insulta e calunia; e sabe que insulta e calunia. Não há demagogia, nem populismo que o possam atenuar ou desculpar.
Fantasia é a fantástica osga de Agualusa. Fantasia é o simpático touro pacifista, o Ferdinando, como todas as figuras de Disney, dos desenhos animados e das fábulas. Fantasia é fazer de conta que o touro é pessoa. Fantasia é, com base nessa fantasia, olhar as pessoas como menos que os animais, insultando-as na sua cultura e procurando esmagá-la. Fantasia é ignorar que a cultura contém, entre outros elementos, o código definidor do nosso relacionamento com os animais, conforme as suas espécies e os nossos costumes.
Por isso, o projecto do PAN é uma violência. E, em rigor, inconstitucional. Diz o artigo 78º, n.º 1: “Todos têm o direito à criação e fruição cultural, bem como o dever de preservar, defender e valorizar o património cultural.” Não passará!