O Carrasco de Paris e as casacas Luís xv
È evidente que as
casacas nada influem no valor dos toureiros. Um toureiro pode-se apresentar com
a casaca mais feia, mais chocante e mais estapafúrdia, que se estiver artista e
valente , a casaca pouco importa e há vários casos destes a registar. No
entanto, pessoalmente não gosto de casacas feias nem de desrespeitos pela tradição.
As casacas estilo Luís
XV (ou XIV como alguns advogam) têm um
estilo, e historicamente, penso ser de bom tom respeitá-lo.
Ao ver um tipo moreno
com uma casaca castanha montado num cavalo castanho, pode chegar á minha ideia
a imagem de um monte das ricas terras negras da Ucrania ou outra coisa..., do mesmo modo que um
tipo com uma casaca dourada com bordados sumidos de preto, me lembra um lingote
de ouro com teias de aranha, ou ainda o uso de tecido de cortinado que no caso
dos cavaleiros de baixa estatura me lembram uma camilha com o manto bordado, mas
tudo isto tem que ver única e exclusivamente com o meu gosto pessoal e quiçá
com a minha sensibilidade.
Já não concordo por
razões históricas, com a troca dos bordados ás flores pelos bordados geométricos que se vêm por aí, que
pura e simplesmente não existiam nesses tempos de Luís xv, tal como não
concordo com as casacas curtas, atendendo a que no tempo em que estas foram
criadas se usavam pelo joelho.
Fraque |
Casaca |
Smoking |
As casacas são um trage
de cerimónia, como são os fraques, os smokings, e as casacas de cerimónia, como
tal, já imaginaram um fraque um palmo ou mais acima da dobra da perna? E um
smoking uma mão travessa abaixo da cintura?
E uma casaca de cerimónia
com dois ou mesmo três palmos abaixo do corte de onde nascem as abas?
Salta á vista que
todas as nuances expostas tornariam ridiculo quem as usasse.
Por fim não posso
deixar de me referir a algumas casacas das cavaleiras.
Tenho por todas elas o
maior respeito e admiração, ou não tivesse sido eu a pessoa que mais toureiras
apoderei no mundo (é obra), mas não concordo com as alterações ao corte
arredondado das abas, aos folhos e folhinhos, aos machos no rodado, bem como a
tudo o que abastarde o desenho base da dita casaca Luís XV, e mais, fazem-me
lembrar a história do “carrasco de Paris”.
Eu conto: No sec XVI
começaram as execuções de nobres em França, nomeadamente em Paris, estes
normalmente subiam ao cadafalso com toda a dignidade, com a casaca da época (o
próprio rei foi executado de casaca vestida).
Um célebre carrasco de
Paris homem bem disposto e criativo, ainda que cruel como se impunha, sacava as
casacas aos mortos e modificava-as com mais folhos, arredondando-lhes as abas,
fazendo machos na roda das abas etc. e usava-as assim para parodiar o estilo
clássico.
Será que aqueles ou
aquelas que desenharam algumas das casacas que se vêm por aí se inspiraram no
tal “Carasco de Paris”????
Nota: Esta história do
carrasco de PARIS, foi-me contada por … um toureiro d’outra época, quando falávamos do mau gosto de algumas casacas.
Para terminar, afirmo que a imagem de um artista ainda que não seja fundamental, é demasiado importante, mas é evidente que um caixote de batatas, por muito bem apresentado que esteja, é sempre um caixote de batatas...
Para terminar, afirmo que a imagem de um artista ainda que não seja fundamental, é demasiado importante, mas é evidente que um caixote de batatas, por muito bem apresentado que esteja, é sempre um caixote de batatas...