Oh meu país guerreiro e mareante,
Oh meu país de montes e trigais,
Descansa nos meus braços um instante
E diz-me por favor aonde vais…
Começa assim um poema extraordinário de
Maria Manuel Cid que, num momento de desalento, olhou para o menos bom que se
estava a passar no nosso país e recordou valores que, na sua opinião, deviam
acompanhar o amor Pátrio.
Neste ano de 2015 a crise económica está
a ser acompanhada (ou decorreu mesmo) duma crise de valores.
Os políticos não protegem como seria seu
dever a Cultura e a arte nacionais nomeadamente a tauromaquia.
Muitos de nós vivem (ou convivem) com a
inveja surda, com a maledicência rosnada e com a impossibilidade de reconhecer
valor a quem o tem.
Parece que é atávico.
Por pensar que é assim lembrei-me de
escrever esta crónica, que foi precipitada por três assuntos distintos e
actuais que passo a expor:
1º - Porque será que os nossos
políticos, Presidente da República incluído, deixaram pura e simplesmente de ir
aos toiros , excluindo, justiça seja feita, o Dr. Pedro Santana Lopes
(pertencendo aliás a uma área política que não é a minha), quando há anos atrás
se pavoneavam nas corridas de postin? Perderam a aficcion? Iam ás corridas por
oportunismo político? Ou pura e simplesmente não dão atenção nem têm respeito
pela nossa cultura e as nossas tradições, desprezando assim valores que são a
alma de qualquer povo, em nome duma “normalização” asséptica
intencionalmente concebida pelos euroburocratas duma ASAE global.
Cá para mim, os políticos abandonaram
com o despudor e a impunidade que lhes toleramos distraidamente, as obrigações
que têm para com quem os elegeu, esquecendo-se das suas obrigações de
cidadania.
2º - A imprensa na generalidade cultiva
por sistema a hipertrofia do “desporto”, das tragédias de faca e alguidar, e
dos jogos e concursos circenses, entremeadas com a pedagogia subliminar do
politicamente correcto e das éticas que não são heréticas.
A prova do que acabo de escrever
está nesta paisagem metodicamente adormecida, fazendo fé nos horários nobres e
nas primeiras páginas espevitadas de escândalos de um dia e indignações de uma
semana, que desaparecem num esquecimento mole, silenciando umas vagas
rosnadelas sonolentas contra o sistema.
Estaremos de facto sob o efeito de uma
maldição secular que torna permanentemente actuais os desalentos de Ramalho
Ortigão, do Eça, de Guerra Junqueiro, de Antero e de todos aqueles que, há
séculos, reflectem uma “paísa”, não um país, com os contornos de Bordalo
Pinheiro. Não existe quase nada de positivo num país, onde não existe quase nada
de perene num povo sem memória, nem nervo, nem causas. Que adormecida apatia
nos reduziu a esta dimensão exígua? A este deixa andar, a esta resignação
lorpa?
Como é possível que a alta condecoração
atribuída pelo governo Francês ao
3º - Muitos aficionados criticam há já
vários anos, o facto de as empresas não inovarem os carteis.
É triste verificar que a criticazinha
biliosa nunca saiu de moda, a exemplo do que sucede com a incapacidade míope e
mesquinha de reconhecer o devido valor a quem o tem.
Chegámos a um ponto em que estamos todos
fartos uns dos outros, prontos a cada momento para iniciar uma discussão ou uma
escaramuça, o que me trás á memória um amigo meu que dizia há dias, ter a
sua relação com a ex mulher chegado a uma deterioração tal que, quando ele de
manhã ao acordar lhe dizia “Bom dia”, ela respondia: “Já começas ?…”
Termino com a última quadra do poema que
me inspirou, para esta crónica que deixo ao meu país em crise (sobretudo de
valores):
O teu corpo cansado está doente,
O tempo para viver não é demais;
Pára de rir assim tão doidamente
E diz-me por favor aonde vais…