Os anti taurinos, ou a vanguarda do progresso
Abílio Ceguinho, um ativista português, membro de um grupo que luta contra a evasão fiscal, invadiu o Estádio do PSV Eindhoven para protestar contra aquilo que ostentava escrito no torso nu: Sim ao sacrifício dos contribuintes. Não à lavagem de dinheiro sujo no futebol; tendo acabado por ser delirantemente aplaudido, a ponto de necessitar da proteção da polícia contra os excessos do entusiasmo popular.
Os cidadãos mobilizados contra a opressão fiscal, organização de que Abílio Ceguinho faz parte, alegam que o ativista foi alvo duma brutal e selvagem ovação por parte de operários envolvidos no jogo .
(publicado a 4 de Junho por Lewis Carroll na conhecida revista de nonsense Alice in Wonderland (Alice no País das Maravilhas)
Talvez por ter sido contemporâneo e condiscípulo do Professor Marcelo concordo com ele naquela convicção sentida de que o comum das pessoas, nós todos, precisa de afetos. E este evento, representativo da mais civilizada tolerância e bem pensantismo dos europeus, servirá de exemplo.
Vamos falar dele com simplicidade, sem graçolas fáceis, com o coração mas mãos, e com uma coisa necessária ao afeto, que é o entendimento daquilo que faz mover o outro, as questões que o outro considera fundamentais, as suas causas de indignação, empenhamento total e, nalguns casos, de coragem abnegação e risco pessoal.
Antes do inglês se ter transformado na língua mundial, e instrumento de um movimento que tem por objetivo unificar a humanidade numa coisa uniforme, cimentada por uma nova religião chamada Ganância, existiam línguas e culturas.
Os povos diferenciavam-se pelas suas línguas que, para serem aprendidas, nos obrigavam a tentar entender ao menos um pouco das respetivas culturas, tradições e maneiras de ser.
E existia um sentimento popular espontâneo de identificação e de pertença a uma cultura local, parte integrante de uma diferença regional, que integrava um todo nacional.
Raízes fundas de uma acumulação de tempo que corria mais devagar e mais próximo da terra onde pais e avós tinham nascido e morrido, e as tradições eram contadas e vividas de boca a orelha, entre pessoas que se conheciam e tinham medrado num caldo unificador de cultura.
Eu sei meus difíceis irmãos taurinos, é inerente á natureza do ser humano que o poder económico-financeiro e militar conduza ao convencimento de que as culturas dominantes constituem o padrão mais avançado, mais correto e mais justo de cada civilização.
Donde decorre uma obrigação virtuosa apagar as culturas atrasadas e bárbaras. Evangelizar os pagãos, destruir os ídolos, vestir os aborígenes tropicais, cobrir de véus as mulheres, e mantê-las ajuizadamente no papel subalterno que o Deus Único (há sempre um Deus Único com severas ordenações de comportamento) lhes destinou.
É tão forte, tão convicto, e tão transparente e evidentemente melhor para os povos bárbaros libertá-los do seu primitivismo, e fazê-los aceder a um estádio superior de civilização. que a quase totalidade dos textos sagrados considera um ato de afeto, ou uma obrigação ética converter os primitivos aos valores modernos e civilizados.
A bem, ou a mal, porque como todos sabemos, os fins superiores das verdades únicas, justificam os meios. E se , eventualmente, pode ocorrer violência, intolerância, ou mesmo fanatismo, isso deve-se apenas á incompreensão dos nativos e ás resistências do seu atraso face ao afeto insistente da verdadeira cultura, que é sempre, e necessariamente, progressista
As culturas superiores e o etnocentrismo criaram o racismo, conduziram fraternalmente ao esclavagismo generalizado, e ao alastrar canceroso dos genocídios. A dedicação abnegada dos Grandes Educadores esteve na origem esclarecida da Inquisição, da Sharia, dos holocaustos das execuções em massa (algumas em praças de touros) e de sucessivas e crudelíssimas purgas e revoluções culturais.
Enquanto novo Deus Ganância teve a dedicação de estudar laboriosamente a guerra química e bacteriológica e de democratizar as bombas de fragmentação com excelentes resultados de custo/benefício.
Tudo - e sempre- em nome dos mais sacrossantos princípios do progresso social e material, da equidade e da justiça que está certa, contra todos os eixos do mal que somos forçados a aniquilar para que o Bem triunfe finalmente.
Dizem-me que morrem milhões de seres humanos, que outros são esmagados e expulsos como leprosos, que se viola e tortura um pouco por toda a parte, que se malbaratam recursos naturais e destroem incessantemente ecossistemas e se provoca a extinção em massa de espécies vivas .Curiosas epidemias têm vindo a proliferar.
Economistas sérios afirmam que menos de 5% da população domina 90% da riqueza mundial e governa através de uma liturgia chamada democracia formal cuja verdade conveniente e arco iris nos é injetada segundo a segundo por canais invasores que essa minoria cinzenta possui e controla.
Louvados sejam os temas fraturantes que nos distraem destas verdades outras e louvado seja o elogio da cegueira, a intolerância, o fanatismo e a hipocrisia
Contra o permanente espezinhar das minorias oprimidas lutemos pela obrigatoriedade legal de instalações sanitárias distintas para estrábicos e para míopes.
El Erudito