À MODA DA GOLEGÂ
Antigamente ouvia-se o fado da Golegã que trancrevemos a seguir, a toda a hora e em todo o lado durante a Feira de S. Martinho nesta castiça terra.
Fado da Golegã
Da bravura ganhei ouros
Nesta vida alegre e sã
Entre cavalos e toiros
nas terras da Golegã
É esta a minha paixão
É este o meu gosto sadio
Saber montar um alazão
De um mar de afeição
De um potro bravio
Ó Golegã, terra castiça
Quem te cobiça perde o feitio
Gente louçã que joga a vida
Numa corrida com alma e brio
Festa pagã, todos bizarros potros e carros
Nozes e vinho és sempre a primeira
Terra toureira que vai á feira
De são Martinho
Golegã tenho a certeza
Que não há em Portugal
Nem terra tão portuguesa
Nem gente assim tão leal
Jorra o vinho em canjirões
Passam as moças cantando
E para manter tradições
Os mais brincalhões
As vão beliscando
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades.
Antigamente só íam á feira os verdadeiros aficionados ao cavalo, e umas centenas de Nortenhos que ali se deslocavam em excursões com farnel, acordeon e tudo...
Antigamente não havia Hamburger'S, nem pizas, nem porcos no espeto, nem minis, nem casacos de encerado, nem sapatos Apache, nem botas de montaria, nem raparigas bebedas, nem discotecas,, nem estrangeiros ( tirando os Domecq's e os Peraltas), mas havia moças cantando a serem beliscadas pelos mais brincalhões ( como diz o fado) ...
É evidente que como dizia Luís de Camões:
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Hoje a golegã é o que é.
Há muita gente a armar que sabe e gosta de cavalos, senhoras com Toilletes de caça, homens com blusões que não apertam o botão de baixo nem o de cima, Shot's e baldes, equitação rasteira, espectáculos Hípicos de mais ou menos qualidade, saltos de obstáculos no largo do Arneiro, muita montura á Espanhola e selins á inglesa, trajes mistos com todas variantes possiveis, "Enganches" de competição a toda a brida com a emoção dum possivel atropelamento, pouca "Água-pé", presuntos "pata negra", poucos toureiros a cavalo, a eterna dificuldade em arranjar sitío para satisfazer as mais elementares necessidades fisiológicas e a impossibilidade de mictar sem encharcar os pés de mijo, a ausência quase total de ciganos a negociar, a juventude permanentemente bebada, o fado outrora rei hoje só aparece episódicamente, mas há muitos, muitos estrangeiros..., e o quadro "das moças cantando a serem beliscadas pelos mais bricalhões ( como diz o fado), hoje não existe, ninguém canta, e os mais brincalhões em vez de beliscões, metem ás meninas que o permitem, a lingua na boca até ás amigdalas...
Gastronómicamente tudo mudou, resumido eu essa mudança no seguinte: "os jantares bem regados e bem falados onde se saboreava a cozinha nacional confecionados nas cavalariças por cozinheiros amadores, foram substituidos por "conBiBios" em restaurantes - alguns a armar ao finório - onde até se serve bacalhau com natas".
De Facto, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades... e do antigamente resta a recordação.
A Golegã é hoje por hoje, uma granda caldeirada..., apetitosa, talvez...