MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quarta-feira, 9 de maio de 2012



Para a minha amiga Suzana Luzío



Que sorte teres nascido assim, Ribatejana..


Suzana, conheci-te em 1972 quando fui para a Azambuja, e entre nós nasceu uma sólida amizade, que o tempo curtiu.
Em ti o Ribatejo vivia, e a tua Azambuja era rainha com tudo o que lhe dizia respeito. Falavas do Rancho com paixão, dos fadistas da Azambujenses com carinho, e a exaltação com que falavas dos toureiros da terra era um hino ao bairrismo puro. A Feira de Maio, com a sua Missa Rociera que se celebra por essa altura,  os campinos homenageados que conhecias e dos quais relatavas as façanhas, traziam um brilho diferente ao teu olhar, que encarnava o sentir do poeta que escreveu :

"Ó ribatejo do campino ousado,
Rosto suado ao sol da valentia....
Cada Pampilho erguido
É o grito pressentido
Manhã de um novo dia,
Vontade de uma raça Antiga. "


Tinhas da amizade o conceito certo e nobre, e não fingias o que não sentias numa demonstração plena de pessoa de bem.
A tertúlia da Velha Guarda de que eras trave mestra, ocupava-te o pensamento e nela esbanjavas generosidade. Quanto mais gente tivesses para almoçar ou jantar mais feliz estavas, parecendo que a loucura do trabalho que tinhas, era uma razão de viver.
Quando há vários anos me puseste o lenço de novo tertuliano, emocionámo-nos os dois, eu com as palavras que disseste, e tu, o Lourenço o C. Leonardo e os demais, com a alegria de eu ser um dos vossos. Que subida honra para mim.
O jantar de sabado de Feira terminava sempre com fado, e recordo-me que me pedias sempre que cantasse "Tempos Antigos", cujo o poema a partir de agora terá mais sentido  nos versos : "velhos amigos, velhas amigas... que eu não vejo agora aqui...".
As quadras soltas que cantavas nesses dias com as outras senhoras da tertúlia, tinham a força da singeleza.
Com a tua presença assidua nas corridas, as quais vias para além do olhar, representavas muito mais que uma simples aficionada.
Não tinhas necessidade de me provar nada, mas a apresentação de um dos meus livros aí na tua terra, organizada por ti e o exagerado elogio na apresentação da minha pessoa, ficará como um dos marcos mais bonitos da minha vida.
A vida cá na terra terminou, mas para os teus amigos viverás sempre. O meu filho António quando vinhamos de te dizer adeus, a talhe de foice disse-me " pai, a tertúlia agora acaba." Ao que eu respondi : "não acaba, mas já nada vai ser como dantes..."
Para quem não te conheceu, direi :Tu foste o dançar da tradição, uma maracha descoberta na cheia de um mundo Ribatejano, foste uma mulher com o espirito de um campino.. "PARA QUE A TERRA NÃO ESQUEÇA".