Para a minha amiga Suzana Luzío
Que sorte teres nascido assim, Ribatejana..
Suzana, conheci-te em 1972 quando fui para a Azambuja, e entre nós nasceu uma sólida amizade, que o tempo curtiu.
Em ti o Ribatejo vivia, e a tua Azambuja era rainha com tudo o que lhe dizia respeito. Falavas do Rancho com paixão, dos fadistas da Azambujenses com carinho, e a exaltação com que falavas dos toureiros da terra era um hino ao bairrismo puro. A Feira de Maio, com a sua Missa Rociera que se celebra por essa altura, os campinos homenageados que conhecias e dos quais relatavas as façanhas, traziam um brilho diferente ao teu olhar, que encarnava o sentir do poeta que escreveu :
"Ó ribatejo do campino ousado,
Rosto suado ao sol da valentia....
Cada Pampilho erguido
É o grito pressentido
Manhã de um novo dia,
Vontade de uma raça Antiga. "
Tinhas da amizade o conceito certo e nobre, e não fingias o que não sentias numa demonstração plena de pessoa de bem.
A tertúlia da Velha Guarda de que eras trave mestra, ocupava-te o pensamento e nela esbanjavas generosidade. Quanto mais gente tivesses para almoçar ou jantar mais feliz estavas, parecendo que a loucura do trabalho que tinhas, era uma razão de viver.
Quando há vários anos me puseste o lenço de novo tertuliano, emocionámo-nos os dois, eu com as palavras que disseste, e tu, o Lourenço o C. Leonardo e os demais, com a alegria de eu ser um dos vossos. Que subida honra para mim.
O jantar de sabado de Feira terminava sempre com fado, e recordo-me que me pedias sempre que cantasse "Tempos Antigos", cujo o poema a partir de agora terá mais sentido nos versos : "velhos amigos, velhas amigas... que eu não vejo agora aqui...".
As quadras soltas que cantavas nesses dias com as outras senhoras da tertúlia, tinham a força da singeleza.
Com a tua presença assidua nas corridas, as quais vias para além do olhar, representavas muito mais que uma simples aficionada.
Não tinhas necessidade de me provar nada, mas a apresentação de um dos meus livros aí na tua terra, organizada por ti e o exagerado elogio na apresentação da minha pessoa, ficará como um dos marcos mais bonitos da minha vida.
A vida cá na terra terminou, mas para os teus amigos viverás sempre. O meu filho António quando vinhamos de te dizer adeus, a talhe de foice disse-me " pai, a tertúlia agora acaba." Ao que eu respondi : "não acaba, mas já nada vai ser como dantes..."
Para quem não te conheceu, direi :Tu foste o dançar da tradição, uma maracha descoberta na cheia de um mundo Ribatejano, foste uma mulher com o espirito de um campino.. "PARA QUE A TERRA NÃO ESQUEÇA".