D. Vicente da Camara - P'ra que a terra não esqueça...
O SENHOR D. Vicente foi o fado, mas ficará na história pela maneira como transportou o fado dos salões ao povo, e pela beleza das poesias que cantava que transportavam a singeleza do belo intendivel.
Lembro-me da emoção que senti, quando há muitos anos tive o prazer de cantar pela 1ª vez com ele, num celeiro em Azambuja, numa das muitas noites fadistas de beneficência em que o SENHOR D. Vicente participou.
O seu trato fidalgo, não me apequenou, antes pelo contrário, fez-me sentir fadista, porque as palavras que trocou comigo correram com a suavidade da água pura.
Eternizar um fado é de génio, eternizar vários ultrapassa a genialidade e entra no capitulo do misticismo. Para sempre será recordado o Fado Marialva, o fado das Caldas, O fado da Menina das tranças Pretas, e para mim o eleito foi, é e será o fado "Valada do Ribatejo. As suas interpretações dos citados fados são simplesmente inegualáveis...
Ao recordar o Senhor D. Vicente veio-me á ideia um poema celebre de Cesar de Oliveira do qual extrai estes dois versos :
Ser fadista... é o destino que chora
Nascido na mesma hora em que o fadista nasceu
Este FADISTA, este amigo, que humildemente pretendo homenagear, foi mais do que o muito que para sempre representará no fado, foi um homem de paixões, e se alguém tivesse dúvidas do homem apaixonado, estas desvaneciam-se se tivessem o privilégio de visitar a sua loja de antiguidades, onde cada peça nos era apresentada com paixão pela história, que quase nos transportava á época em que cada uma dessas peças foram moldadas, esculpidas, pintadas ou talhadas.
Senhor D. Vicente, até um dia, e se nos viermos a encontrar , gostaria de voltar a ouvir o fado "Valada do Ribatejo" para saborear de novo, a sua guitarra, o timbre e musicalidade da sua voz que se fundiam nas suas interpretações, nessa clara forma de dar sentimento ás palavras cantadas.
Morreu um SENHOR Fidalgo, e com este meu escrito quero dar um pequeno contributo "Pra que a terra não o esqueça..."