MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

quinta-feira, 30 de abril de 2020

O Toino faz hoje anos...





Tenho 3 filhos fantásticos e o toino é um deles. Bem educados, gente de princípios e valores. Qualquer um deles têm feito amigos á séria em todas as actividades que  têm desenvolvido.
O que posso desejar mais ???
 O Toino antes de terminar o curso e começar a trabalhar, deu uma excelente colaboração a este blogue.

 Parabéns Toino com um abraço do pai que sempre te estremece  

6º conto- Vila Velha meses depois das eleiçoes...

O Mundo Anda, Vila Velha Roda
Corrida de toiros em Vila Velha 


Passaram poucos meses sobre as eleições autárquicas em que o povo destronou o partido que se eternizara, substituindo-o por pessoas indicadas por um movimento cívico, e a vila nao parece a mesma. À entrada da povoação pode ver-se um cartaz com o símbolo da vila e a frase "O Mundo Anda, Vila Velha Roda”. E roda mesmo, deu-se início às obras de ampliação do Centro de Saúde, de melhoramentos nos balneários do campo de futebol e, nos quatro hectares à entrada da vila, pertença do eng. Bernardo, começaram já as terraplenagens destinadas à zona industrial que ali vai ser construída. Para fins culturais, a câmara adquiriu um lagar de azeite abandonado e está a recuperá-lo para ali fazer nascer um museu e uma biblioteca. Gente da terra que pertencia a bandas filarmónicas da região e o maestro de uma dessas bandas foram convidados para fazer renascer a banda de Vila Velha, que tinha acabado por falta de apoio da autarquia, começando a ensaiar no pavilhão gimnodesportivo, enquanto as instalações até então votadas a actividades musicais foram recuperadas.
A única coisa prometida pelo dr. Rui fora uma corrida de toiros (organização conjunta da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia) e essa promessa foi cumprida.
Um Telles, um Núncio, um Cortes, Paulo dos Santos, Mara Pimenta e a nortenha Soraia Costa toureavam a corrida, que era pegada em solitário pelos Académicos de Coimbra. Os toiros eram um de cada ganadaria, sendo três do baixo Mondego e os outros de ganadarias ribatejanas e foram escolhidos por um amigo do eng. Bernardo entendido na matéria, com a recomendação de que fossem de apresentação digna, sem estarem demasiado grandes. Abrilhantaria a corrida a recém criada Banda de Vila Velha.

Antes de traçar as linhas mestras da organização, o Presidente falou com o Manuel José ( desde que fora eleito nunca mais, nem em privado, tratara este por Larilas) e disse-lhe que caso ele se sentisse violentado por trabalhar na organização duma tourada o dispensava. O Manuel José respondeu que trabalho é trabalho e que não misturava os deveres de funcionário com as suas convicções e que, além disso, desde a viagem a Lisboa e das conversas que tinham tido no carro, estas haviam feito mudar a sua postura perante as corridas.
A publicidade foi entregue ao Rúben, que, com a experiência adquirida na campanha eleitoral, quase andou de porta em porta e, desta vez, com os carros do som nos concelhos limítrofes. 

Feiras Novas… calor no ar e na arena! | MINHO DIGITAL

À hora do almoço no dia da corrida já não havia bilhetes e quando esta começou havia umas centenas de pessoas à porta sem poder entrar. O Larilas ficou de conduzir forcados e toureiros ao Pavilhão Gimnodesportivo, para eles ali mudarem de roupa, já que na terra não havia, por enquanto, nem hotel nem pensão e informou que depois da corrida ali seria servido um jantar oferecido pelos engenheiros Bernardo e Aurélio, antigos estudantes de Coimbra.
A corrida foi um sucesso e mesmo aqueles que nunca tinham assistido ao vivo a nenhuma estavam encantados. O Larilas estava fascinado com os forcados, apertava as mãos na cara e ao mesmo tempo os joelhos um contra o outro sempre que havia uma pega e quase desfazia as mãos a bater palmas. Ao intervalo, o dr. Rui desceu à arena, entregou uma lembrança comemorativa a cada um dos intervenientes, pediu o microfone para chamar à praça o eng. Bernardo, que tinha estado sentado na barreira a seu lado, e disse, dirigindo-se aos seus conterrâneos: “ Dados o êxito da iniciativa e a oferta deste terreno pelo sr. eng. Bernardo, para o próximo ano espero que a corrida seja já realizada numa praça que aqui vai ser erigida e que ficará como património da Misericórdia e dos Bombeiros e que terá o nome de Praça de Toiros Eng. Bernardo Soromenho”. Foi o delírio.
Os toureiros e ganaderos reduziram o cachet para menos de metade, tendo-se apurado mais de 30 mil euros limpos, montante com que se iniciou a conta para a construção da praça, tendo sido aberta uma conta na Caixa, em que qualquer um podia fazer um depósito de pelo menos 200 euros, com isso garantindo a colocação do seu nome num azulejo a fixar na parede. Aos donativos mais valiosos corresponderia a 1ª fila, os outros ordenar-se-iam segundo a sua importância.
O jantar, com a presença de toureiros, forcados e seus familiares, mais o dr. Rui, a vereação e os membros da Junta de Freguesia, não podia ter sido mais animado. O Larilas sentou-se na mesa dos forcados e prometeu logo que no ano seguinte tudo faria para ser o mesmo grupo a pegar, tendo, a dada altura, perguntado se alguns dos nomes por que se tratavam eram alcunhas, ao que lhe responderam que sim, retorquindo ele que na terra lhe chamavam Larilas ou Nelinha, mas que de Larilas não gostava, enquanto a Nelinha até achava graça. Risada total, tendo o cabo sido forçado a intervir no sentido de a malta não abandalhar. 

De pé, o Rúben e o Bruno Miguel orientavam o serviço e, depois de concordarem que tudo tinha corrido lindamente, o Bruno Miguel lamentou a ausência do Tatonas, respondendo o Rúben "Puta que pariu o Tatonas"...

Cançao do dia- Bom dia tristeza...


quarta-feira, 29 de abril de 2020

Falta de respeito dos politicos- Todos téem culpa...

Estou farto de muitos lamentos e poucas acções …

PS propõe baixar o IVA das touradas, mas dá liberdade de voto - JN

As duas ultimas acções dos políticos, de desconsideração para com o mundo tauromáquico foram respondidas com protestos que nada adiantaram. Estou-me a referir ao aumento do IVA e á convocatória  feita pelo 1º ministro dos agentes de espectáculos artísticos em que a tauromaquia foi ignorada.

COVID-19: Álvaro Covões revela que eventos "vão acontecer quando ...

Não tenho nada contra a Prótoiro, mas se eu mandasse tinha convocado um punhado de aficionados para estar nesse dia nas galerias do Parlamento que se manifestassem ruidosamente quando fosse a votação. Do mesmo modo, no que toca á reunião do Costa com os agentes de espectáculos artísticos, convocaria um representante de cada associação tauromáquica para estarem presentes e tentarem entrar junto com os demais e caso não lhes fosse permitido manifestar-se-iam á porta junto com quem os esperasse.


Estas acções por mim preconizadas, teriam com certeza resultados. Estou-me a lembrar de quando o Dr. Alberto Martins a 17 de Abril de 1969 (crise Académica) interrompeu o presidente da Republica pedindo o uso da palavra que antes lhe tinha sido negado, sendo preso de seguida mas despoletando consciências que conduziram á revolução. Por outro lado, todas as palavras mansas e os arreganhos faceboquianos, fazem-me lembrar aqueles que fugiram antes de serem ocupados, aqueles que não estavam em Rio Maior, em Santarém e na Alameda, aqueles que se refugiaram no Brasil, em Espanha e na Suiça e que hoje debitam papaias a esmo. Estes são os mesmos que não votam por comodidade e com esse comportamento deixam chegar as coisas ao ponto em que se encontram.

Isto não vai com atitudes trauliteiras - folclóricas ou com imposturices no FACE, só vai com gente que os tenha verdadeiramente no sitio... 


Para os saudosistas do antigamente...

Com a devida vénia publico esta crónica de Clara Ferreira Alves:

E foi neste mundo que eu nasci:
Clara Ferreira Alves - Portal da Literatura
"Anda por aí gente com saudades da velha portugalidade. Saudades do nacionalismo, da fronteira, da ditadura, da guerra, da PIDE, de Caxias e do Tarrafal, das cheias do Tejo e do Douro, da tuberculose infantil, das mulheres mortas no parto, dos soldados com madrinhas de guerra, da guerra com padrinhos políticos, dos caramelos espanhóis, do telefone e da televisão como privilégio, do serviço militar obrigatório, do queres fiado toma, dos denunciantes e informadores e, claro, dessa relíquia estimada que é um aparelho de segurança. Eu não ponho flores neste cemitério. Nesse Portugal toda a gente era pobre com exceção de uma ínfima parte da população, os ricos. No meio havia meia dúzia de burgueses esclarecidos, exilados ou educados no estrangeiro, alguns com apelidos que os protegiam, e havia uma classe indistinta constituída por remediados. Uma pequena burguesia sem poder aquisitivo nem filiação ideológica a rasar o que hoje chamamos linha de pobreza. Neste filme a preto e branco, pintado de cinzento para dar cor, podia observar-se o mundo português continental a partir de uma rua. O resto do mundo não existia, estávamos orgulhosamente sós. Numa rua de cidade havia uma mercearia e uma taberna. Às vezes, uma carvoaria ou uma capelista. A mercearia vendia açúcar e farinha fiados. E o bacalhau. Os clientes pagavam os géneros a prestações e quando recebiam o ordenado. Bifes, peixe fino e fruta eram um luxo.

A fruta vinha da província, onde camponeses de pouca terra praticavam uma agricultura de subsistência e matavam um porco uma vez por ano. Batatas, peras, maçãs, figos na estação, uvas na vindima, ameixas e de vez em quando uns preciosos pêssegos.
As frutas tropicais só existiam nas mercearias de luxo da Baixa. O ananás vinha dos Açores no Natal e era partido em fatias fininhas • para render e encharcado em açúcar e vinho do Porto para render mais. Como não havia educação alimentar e a maioria do povo era analfabeta ou semianalfabeta, comia-se açúcar por tudo e por nada e, nas aldeias, para sossegar as crianças que choravam, dava-se uma chucha embebida em açúcar e vinho. A criança crescia com uma bola de trapos por brinquedo, e com dentes cariados e meia anã por falta de proteínas e de vitaminas. Tinha grande probabilidade de morrer na infância, de uma doença sem vacina ou de um acidente por ignorância e falta de vigilância, como beber lixívia. As mães contavam os filhos vivos e os mortos era normal. Tive dez e morreram-me cinco. A altura média do homem lusitano andava pelo metro e sessenta nos dias bons. Havia raquitismo e poliomielite e o povo morria cedo e sem assistência médica. Na aldeia, um João Semana fazia o favor de ver os doentes pobres sem cobrar, por bom coração. Amortalhado a negro, o povo era bruto e brutal. Os homens embebedavam-se com facilidade e batiam nas mulheres, as mulheres não tinham direitos e vingavam-se com crimes que apareciam nos jornais com o título ‘Mulher Mata Marido com Veneno de Ratos’. A violação era comum, dentro e fora do casamento, o patrão tinha direito de pernada, e no campo, tão idealizado, pais e tios ou irmãos mais velhos violavam as filhas, sobrinhas e irmãs. Era assim como um direito constitucional. Havia filhos bastardos com pais anónimos e mães abandonadas que se convertiam em putas. As filhas excedentárias eram mandadas servir nas cidades. Os filhos estudiosos eram mandados para o seminário. Este sistema de escravatura implicava o apartheid. Os criados nunca dirigiam a palavra aos senhores e viviam pelas traseiras. O trabalho infantil era quase obrigatório porque não havia escolaridade obrigatória. As mulheres não frequentavam a universidade e eram entregues pelos pais aos novos proprietários, os maridos. Não podiam ter passaporte nem sair do país sem autorização do homem. A grande viagem do mancebo era para África, nos paquetes da guerra colonial. Aí combatiam por um império desconhecido. A grande viagem da família remediada ao estrangeiro era a Badajoz, a comprar caramelos e castanholas. A fronteira demorava horas a ser cruzada, era preciso desdobrar um milhão de autorizações, era-se maltratado pelos guardas e o suborno era prática comum.
De vez em quando, um grande carro passava, de um potentado veloz que não parecia sujeitar se à burocracia do regime que instituíra uma teoria da exceção para os seus acólitos. O suborno e a cunha dominavam o mercado laborai, onde não vigorava a concorrência e onde o corporativismo e o capitalismo rentista imperavam. Salazar dispensava favores a quem o servia. Não havia liberdade de expressão e o lápis da censura aplicava-se a riscar escritores, jornalistas, artistas e afins. Os devaneios políticos eram punidos com perseguição e prisão. Havia presos políticos, exilados e clandestinos. O serviço militar era obrigatório para todos os rapazes e se saíssem de Portugal depois dos quinze anos aqui teriam de voltar para apanhar o barco da soldadesca. A fé era a única coisa que o povo tinha e se lhe tirassem a religião tinha nada. Deus era a esperança numa vida melhor. Depois da morte, evidentemente. "

Clara Ferreira Alves.

Cançao do dia- Como vai voce...


domingo, 26 de abril de 2020

5º conto 3º capitulo- Estrondosa vitória...

O Movimento " Gente Nova da Terra Para Uma Vila Velha Nova "venceu as eleições com 87 por cento dos votos.
Uma retumbante vitória para a hIstória…


O largo da vila encheu-se de gente. As ruas eram como afluentes que convergiam para o mesmo lago, elevando, pelo número de pessoas, o nível das águas. Uns levavam garrafões de vinho, outros grades de cerveja, o pai do dr. Rui mandou comprar tudo quanto havia na vila de espumantes, espumosos e copos de plástico, o Rúben já tinha em casa, de prevenção, foguetes de todo o tipo, com grande incidência nos morteiros, e até 14 foguetes de luzes. O gaiteiro da Atalaia ( quase em todos os distritos há uma terra com esse nome) apareceu espontaneamente a tocar êxitos do "Quim Barreiros". Os foguetes, as aparelhagens sonoras da campanha, o gaiteiro, as garrafas de espumante e espumoso a abrir e o ruído do povão a falar criaram um ambiente ensurdecedor e uma explosão de alegria indiscritível. O Rúben, sempre incansável, com um martelo na mão e uma caixa de pregos de solho na outra, dava ordens ao electricista para montar a aparelhagem enquanto ele ia improvisando um palco.



Já havia aqui e ali elementos dos partidos vencidos a tentarem apanhar o comboio da vitória, felicitando os vencedores e acrescentando frases do tipo “eu vi logo que vocês ganhavam, o povo estava farto do mesmo gajo, que nem é de cá e do mesmo partido. Ainda quis desistir, mas já era tarde, no entanto estou disponível para ajudar no que for preciso”.
O sr. Costa, pai do dr. Rui não conseguia falar… só chorava.
Eis que chega o grande momento. Em cima do reboque de um tractor está o núcleo duro. Ao centro está o dr. Rui com a mulher à esquerda e o eng. Bernardo à direita, secundado pelo Chicharro, ao lado da sua mulher está o padre Alberto e junto a este o director do centro de saúde, distribuindo-se os outros, incluindo os outros presidentes de Junta de Freguesia eleitos, de forma aleatória.
Começa o dr. Rui, depois do silêncio possível:
Caros conterrâneos, sim, porque eu nasci e cresci nesta nossa terra ( palmas ensurdecedoras e gritos em uníssono de Viva o Movimento).
Para vencer, não foi preciso atacar os adversários nem fazer promessas, bastou-nos afirmar que tentaríamos fazer mais e melhor.
Quero fazer dois agradecimentos especiais ao Rúben e ao Manuel José Marques (Larilas), pelo excelente trabalho desenvolvido durante a campanha.
Quero também, com vossa licença, dedicar esta vitória à minha mulher e ao meu pai ( selando em público a dedicatória pública à mulher com um beijo piroso, enquanto o pai, no meio dos amigos, continua a chorar, desta vez mais copiosamente).
Não me vou alongar, porque o que todos queremos hoje é festa. Só quero afirmar aqui, neste momento, solenemente, que tudo faremos para não vos desiludir.
Viva o nosso movimento
Viva Vila Velha
Viva a Santa da Gaiola
Viva Portugal 


No meio das palmas e dos vivas acontece um reboliço. A mãe do dr. Rui desmaia... dá-lhe uma coisa. O dr. Arcílio e a mulher do dr. Rui saltam imediatamente do reboque, vão para a lado da senhora, nisto chega a ambulância, para a qual levam a senhora, já de olhos abertos, e sobem os dois médicos, seguindo os três para o hospital local da Misericórdia. Depois da bateria de exames possível num hospital de província, os médicos concluem que tudo não passara de uma baixa de tensão. Neste momento, encontrando-se já no hospital, o dr. Rui e o pai, que continua a chorar, recebem a boa nova, o que faz o sr. Costa acelerar o seu pranto para uma fase convulsiva.
No largo continua a festa rija e esta mais animada fica quando anunciam pelo altifalante que a d.ª Isabel, mãe do nosso presidente, se encontra já completamente restabelecida.
Os comentários durante a noite são de vária índole, começando por um grupo de rapazes que disserta sobre os atributos da mulher do dr. Rui, seguindo a pedrada de um deles que tinha dito que “a mulher do presidente é bem boa ..." 


Quando o Rúben, já noite alta, vai para casa descansar, de um grupo de bêbados surge a pergunta “ então Rúben, que é feito do Tatonas ?”. Ao que o Rúben responde: “PUTA QUE PARIU O TATONAS..”-

Cançao do dia- Café da manhá....


sábado, 25 de abril de 2020

5º Conto (2º Capitulo) Campanha eleitoral...

O movimento cívico "Gente nova da terra por uma Vila Velha Nova" apresenta uma enorme e surpreendente dinâmica" 



O dr. Rui, além de esperto, inteligente e com grande capacidade de trabalho, tem mostrado em cada dia que passa uma habilidade enorme para a coisa política, começando pela originalidade de não querer fotos de ninguém nos cartazes, panfletos e autocolantes.
Despiu as roupas de marca e passou a apresentar-se de calças de ganga, camisa de quadrados discreta, polar verde seco, um casaco de oleado ensebado e botas de elástico com sola de borracha.
Ele, que sempre cumprimentara toda a gente, continuou a fazer o mesmo mas de forma mais exuberante, tratando pelos nomes os que conhecia bem e distribuindo beijos a esmo a tudo quanto eram velhas e criancinhas.
Pediu ao Larilas que o informasse sempre que houvesse um funeral e lá ia ele de forma discreta, naturalmente sem fato e gravata.
Numa reunião com o núcleo duro, deu a entender que era importante irem ao domingo à missa.
Foi com o Larilas à feira da vila - Os 20 de Vila Velha - e à da freguesia de Berrendos - Os 27 de Berrendos - levando sempre consigo o Rúben ( pela popularidade deste) e mais um ou dois do grupo. Aí comprou cebolas, alhos, meias e quando viu o Rúben a negociar um porco meão para engordar e matar no Natal, disse-lhe se mo engordares, eu pago o que tu disseres, também compro um e comprou sem discutir preço.
Atrás da comitiva, a uma certa distância, vinha um grupo de rapazes e raparigas arregimentado pelo Larilas, a distribuir panfletos e autocolantes.
Logo na primeira reunião, pediu ao Larilas que escolhesse várias hipóteses de um hino para a campanha.
O Larilas no dia seguinte apresentou os exemplos que se seguem : 



O dr Rui analisou e escolheu " Somos filhos da madrugada", achando os outros demasiado ridículos, além de que à letra original do " Somos filhos da madrugada"  bastava adaptar pouca coisa, que na essencia tinha mensagem forte. 

O pai do dr. alugou para ele viver uma vivenda mobilada dum emigrante quase em frente à loja e casa onde vivia. No fim da semana, já a médica tinha, devidamente formalizada, a transferência para Vila Velha. No domingo já foram juntos à missa com os filhos.
Tudo o que era trabalho menos limpo e necessitasse habilidade e descaramento foi entregue ao Rúben, negociar trabalhos tipográficos, pequenas chantagens, aluguer das aparelhagens, convidar o pai do Tatonas, etc. Um dia o dr. disse ao Rúben que precisava de falar com o pai deste, o António José Chicharro, respondendo o Rúben que àquela hora o pai estaria com certeza a jogar uma suecada na tasca da "Bufa Sapateira". O dr. pensando rapidamente disse, vamos lá ter com ele e tu depois de eu lhe dar o recado que tenho para ele, sugeres alto e bom som que ele me convide para uma cartada. Chegados à taberna, a Deolinda (Bufa Sapateira) com ar de espanto disse : Olha o Ruizito, acrescentando dr. Rui, como eu me lembro de si quando aqui vinha comprar rebuçados e jogar matrecos… O dr. abriu os braços para ela perguntando : “Ti Deolinda, posso dar-lhe um beijo? “e vá de beijar a velha. Falou com o Chicharro o que tinha a falar e no fim o Rúben cumpriu o combinado, sugerindo que convidassem o dr. para jogar uma partida. Convite feito, convite aceite. Ocupando o lugar do Chicharro, sentou-se, fez par com o que estava de parelha com o pai do Rúben e deu-se início a uma cruz de 4 bolas, adiantando ele que quem perdesse pagava a rodada.Entretanto, segredou ao Rúben que mesmo que ele ganhasse o Rúben se antecipava e pagava por ele. Ganhou e o Rúben cumpriu a missão.
Há que salientar um aspecto importante. O dr. Rui só tratava por tu quem sempre assim tratara.
As semanas passavam e o movimento cívico seguia imparável, o Rúben ia aliciando gente de outros partidos com promessas veladas, acima de tudo alguns descontentes que tinham sido banidos das listas dos partidos, incluindo o do poder, para as eleições que se iam realizar. O dr. cada dia almoçava num sitio diferente, correndo desde o melhor "Nova Aurora" à tasca mais humilde, o "Tarde Piaste"...
No segundo domingo já comungou, bem como a mulher, e à medida que as semanas passavam só o Rúben não comungava, enquanto o eng. Bernardo sempre o fizera.
De fundo de maneio já havia 30 mil euros. O pai do dr. fazia campanha à sua maneira, dizendo que o filho se candidatava por amor à terra, porque em Lisboa já era quase ministro. 



A médica fazia os domicílios urgentes e não urgentes, media a tensão a toda a gente, passava baterias de análises, mesmo perante uma simples gripe, e chegava todos os dias a casa com o carro carregado de batatas, ovos, hortaliças, galinhas, patos, coelhos, chouriças e queijos.
Os partidos de esquerda abandonaram a luta, o trauliteiro nem concorreu e os de direita apareciam já em público como que admitindo a derrota. Nos últimos dias, os carros da propaganda, ao som dos filhos da nação gritavam " Gente nova da terra por uma Vila Velha nova... 

No penúltimo dia de campanha, a euforia estava instalada e foi então que o dr. Rui terminou a reunião dizendo” tenho pena que o Tatonas não esteja aqui connosco”, ao que o Rúben respondeu : PUTA QUE PARIU O TATONAS..

Cançao do dia - sempre Actual...


sexta-feira, 24 de abril de 2020

5º Conto (1º capitulo) - Autarquicas em V. Velha...

Os sete, menos um, decidiram criar um movimento cívico e participar nas eleições autárquicas.


 O tempo ia correndo e o núcleo duro dos amigos da "Inspeção" continuava a encontrar-se quase diariamente no Café Central. O eng. Bernardo, quando estava na vila, também não faltava à noite à hora da bica e o dr. Rui, independentemente do contacto telefónico quase diário que mantinha de forma aleatória com um dos do grupo, quando vinha à vila também não faltava e era vê-lo a debitar novidades do governo e do resto do mundo em termos de politíca internacional.
Um dia, no decorrer de mais uma conversa mole, chegou-se ao tema das eleições autárquicas e ao facto de o Presidente da Câmara já não se poder candidatar novamente. O eng. Aurélio opinou que o delfim do presidente não tinha carisma e que, além disso, não era do concelho. Nesse momento, o Bruno Miguel interveio para dizer: " Nenhum de nós é filiado em nenhum partido nem deu aval político a nada de partidário e, para mais, o povo está farto de partidos. E que tal criar um movimento cívico e apoiarmos nós uma candidatura?... Até já tenho mote, Eu vou à bola com a Santa da Gaiola" ou então "Nasceu cá, vive cá, jogou cá à bola, respira e sente a Santa da Gaiola".
O eng. Bernardo declarou, para que não houvesse dúvidas, que para quaisquer cargos não contassem com ele, porque nunca os aceitaria depois da morte do Estado Novo, quando muito deixava que lhe usassem o nome numa comissão de honra, para atestar a idoneidade dos amigos.
O eng. Aurélio proclamou que quem dava um bom candidato à Câmara era o dr. Rui, propondo para a Junta de Freguesia o Bruno Miguel Coito, com o slogan "Todos no Coito" ou então "O Coito é bom". Todos concordaram e o eng. Bernardo ficou de comunicar com o dr. Rui, a fim de que este se deslocasse à vila no sábado.
O dia seguinte foi de uma enorme agitação, com todos a estabelecerem, desde logo, contactos com pessoas proeminentes da vila, para as sondarem, não podendo os resultados ter sido mais animadores. Enquanto tudo isto se passava, chegou a noticia, via eng. Bernardo, de que o dr. Rui chegaria na sexta feira ao fim da tarde e, mais, o eng. Bernardo, se isto fosse avante, cederia uma loja sua situada no centro da vila, loja essa que lhe tinha sido entregue por morte do arrendatário.
Para sexta-feira à noite ficou marcado um encontro/reunião na adega do eng. Bernardo às 21 horas. Chegaram quase todos ao mesmo tempo, com o dono da casa à porta, que logo os mandou entrar. Em cima da mesa, havia um bloco de papel, uma esferográfica, duas garrafas de whisky, dois baldes de gelo, copos e dois pratinhos com biscoitos. O dr. Rui admirado perguntou : " A que se deve esta reunião?" Foi então que o dono da casa explicou a ideia mãe...
O dr. Rui inicialmente surpreendido, falou e disse : Estava à espera de tudo menos isto, aceitar esse desafio não pode ser uma decisão tomada de ânimo leve - embora eu goste de desafios - e os meus amigos têm à partida uma aliada que é a minha mulher, que está farta de viver em Lisboa e me sugere frequentemente o regresso às origens. Só não dou já o sim porque quero ouvir a opinião dela e a do meu pai. Esmiuçaram o tema e ficaram de se encontrar no dia seguinte às 15 horas no mesmo sitio se possível, já com ideias alinhavadas. O dr. Rui obteve facilmente o apoio da mulher e do pai, que com as lágrimas nos olhos lhe disse : “Vais conseguir filho e comigo contas para o que calhar...”
Até à hora da reunião, foram muitos os telefonemas dos amigos para o dr. Rui, com as mais variadas sugestões, tendo havido um, mais importante, do eng. Aurélio, lembrando que fazer constar o Larilas na lista de candidatos talvez não fosse boa ideia, atendendo à sua fama de gay numa sociedade conservadora como a de Vila Velha, ao que o Dr. Rui respondeu que nunca marginalizaria um amigo do grupo, mas que já tinha uma solução para esse caso. Perguntou ainda ao eng. Aurélio em nome de quem estava a empresa dele, respondendo este estar em nome do sogro.
A reunião iniciou-se às 15 horas, como estava previsto. O dr. Rui puxou duma agenda que trazia na pasta e começou a ler: “Meus amigos, é com muita honra que aceito o vosso convite, havendo, no entanto, uma série de condições das quais depende o meu sim definitivo. A saber:
1º - Quero contar com a vossa colaboração total e absoluta e, mais, que jurem não ir haver entre nós invejas e muito menos traições;
2º - Embora prometa que todas as grandes opções serão democraticamente discutidas entre nós, em última instância serei sempre eu a decidir, contando com a vossa solidariedade;
3º - Será para todos ponto de honra desenvolver uma campanha séria, pela positiva ( que será a primeira do género no nosso País), isto é : referirmo-nos aos nossos adversários sem criticas, dizendo, por exemplo, as ideias deles são boas ou não são más, mas nós queremos fazer melhor… Para abandalhar, já basta os outros, agora reforçados por um trauliteiro;
4º - Quanto às nossas posições nas listas, serão as seguintes: Para a Câmara serei o 1º, o Aurélio o 2º (pelouro das obras,), o Bruno Miguel (cultura, desporto e bem estar) em 3º e o Rúben (parque de máquinas e viaturas e pessoal adjacente) em 4º. O Manuel José ( Larilas) não irá na lista porque tenho para ele um lugar mais importante, que será o de meu chefe de gabinete na campanha e depois na Câmara. Quanto ao eng. Bernardo, gostava de o convidar para presidir à Comissão de Honra, caso isso não colida com os seus princípios;
5º - Para a presidência da Junta, sugiro que se convide o Sr. António José Pimenta, pai do Rúben;
6º Seria bom que cada um, dentro das suas possibilidades, avançasse com algum capital para despesas, devendo falar-se com o pai do Bruno para abrir uma conta lá onde trabalha, conta essa que só poderá ser movimentada com a minha assinatura e de mais dois de vocês. Eu entro já com 1.500 euros (cada um passou ali mesmo um cheque, somando tudo mais de 5.000 euros).
7º – Prometo, por minha honra, que nas festas da vila deste ano haverá uma corrida de toiros, de organização conjunta da Câmara e da Junta de Freguesia..
8º - Para terminar proponho que o nosso lema seja :
" GENTE NOVA DA TERRA, PARA UMA VILA VELHA NOVA"
Aplaudido de pé pelos amigos, que um por um o abraçaram e felicitaram, começaram a definir tarefas. 


O eng. Bernardo disse que aceitava o convite e que na segunda-feira ia mandar ligar a água e a luz na futura sede e mandaria para lá móveis para decorar as quatro divisões.
O eng. Aurélio e o Bruno Miguel ficaram encarregados de arranjar patrocinadores e as assinaturas necessárias para poderem concorrer. O Rúben ficou encarregado de arranjar dois ou três carros velhos para montar aparelhagens sonoras. O Larilas ficou de pintar em madeira o lema do movimento e pregá-lo na parede e de comunicar à imprensa regional e se possível ao Correio da Manhã a realização de uma reunião (conferência) no sábado às 18 horas, para apresentação do programa e dos candidatos no pavilhão gimnodesportivo, etc. O dr. Rui disse que ia a Lisboa no domingo, mas voltaria na segunda-feira à noite.
Vamos agora contar as conversas de cada um dos do grupo na intimidade do lar.
O dr. Rui disse à mulher que já tinha falado com o médico director do centro de saúde (70 anos de idade e 40 de serviço), a quem prometeu uma sessão solene em que lhe seria outorgado o titulo de cidadão honorário de Vila Velha, na presença das autoridades distritais. Ela pediria já a transferência do Centro de Saúde de Lisboa para Vila Velha e ele encarregar-se-ia de agilizar esse processo.
O eng. Aurélio comentou para a mulher que ainda bem que a firma estava em nome do pai dela por causa das incompatibilidades. Com o pelouro que lhe seria atribuído, podia mexer-se à vontade no meio que tão bem conhecia, enquanto a mulher teria com certeza uma avença da Câmara, para a prestação de apoio jurídico
O Bruno Miguel sugeriu à mulher que se desfiliasse do PS, passando a apoiar o movimento, que tudo faria para que ela fosse nomeada coordenadora das creches e lares de 3ª idade do concelho.
O Rúben disse ao pai que deixaria de conduzir e cumprir horários e à mãe e à mulher prometeu que vassouras só em casa, na Câmara passariam a ser continuas com farda e tudo.
O Larilas disse aos pais que ia para um lugar de responsabilidade, deixando assim de aturar mulheres.
O eng. Bernardo sugeriu à mulher que esta poderia vir a ser a responsável da biblioteca e do museu a ser criado, ao mesmo tempo que dizia que talvez agora fosse possível urbanizar aquela parcela de cinco hectares de vinha velha e olival que tinham à entrada da vila.
No domingo, antes de o dr. Rui partir para Lisboa, foram conhecer a sede, para organizar os espaços, e alguém disse que era pena o Tatonas não ter aderido ao projecto, ao que o Rúben respondeu : “Puta que pariu o Tatonas...” 


NOTA : Dada a complexidade do tema, este conto terá 3 capítulos. Este que acabam de ler hoje, sexta-feira, outro no sábado, subordinado ao tema "O Movimento Civico em Campanha" e no domingo " Estrondosa Vitória do Movimento GENTE NOVA DA TERRA, PARA UMA VILA VELHA NOVA".