MANIFESTO DA DIRECÇÃO: Este blogue “www.sortesdegaiola.blogspot.com”, tem como objectivo primordial só noticiar, criticar ou elogiar, as situações que mais se distingam em corridas, ou os factos verdadeiramente importantes que digam respeito ao mundo dos toiros e do toureio, dos cavalos e da equitação, com total e absoluta liberdade de imprensa dos nossos amigos cronistas colaboradores.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

3º conto hoje- De V. Velha prá tourada no Montijo e prò estádio da luz...

Os Sete de Vila Velha de Santa Gaiola, três dias em Lisboa... 













A um Sábado, depois do jantar, juntaram-se no Café Central, dos sete amigos da inspecção, os cinco que viviam na vila. A páginas tantas, alguém perguntou ao eng. Bernardo se agora ia ficar na vila algum tempo, ao que este respondeu que só ficaria até sexta-feira, pois queria ir à corrida ao Montijo e assistir ao Benfica - Sporting no Sábado seguinte.
Pergunta o Aurélio : " E se fôssemos todos?", ao que o eng Bernardo responde " eu volto Domingo e se formos todos levo a minha carrinha de 8 lugares e dormimos lá em minha casa…". O Aurélio diz logo "eu vou", o Bruno Miguel afina pelo mesmo diapasão, o Larilas acrescenta “eu vou também, nunca assisti ao vivo a uma tourada nem nunca fui ao Estádio da Luz e quero ver como é” Por fim, o Rúben diz : " Eu também vou… não sou menos que vocês …" e acrescenta : "Está a andar está a puta armada!!! ", o que na linguagem da terra quer dizer que a ideia está a rolar.
O eng. Bernardo acrescenta : "Vamos telefonar já ao Rui e ao Tatonas para saber se alinham e amanhã marco os bilhetes para a corrida e para a bola."
O dr. Rui achou a ideia formidável, adiantando que Sexta-feira, a partir da hora do almoço, esperava por eles. O Tatonas respondeu que à corrida nem pensar, mas que talvez se vissem no Montijo… e à bola também não ia, porque o futebol, tal como é hoje, é mais um factor de alienação das massas. No entanto, gostava de almoçar ou jantar com eles no Sábado... 





Voltando à viagem, por volta da uma e meia da tarde, juntaram-se em casa do eng. Bernardo, tendo o Larilas chegado dez minutos atrasado, o que não foi valorizado, sobretudo depois de uma sua desculpa esfarrapada, esfarrapada como são todas as desculpas de gente que não é pontual.
O eng. Bernardo apareceu de botas de elástico feitas em Almeirim, calças verde seco de veludo cotelê, pullover de Caxemira e, por cima, um blusão de botões em tecido "pêlo de camelo" azul escuro, que tinha sido do senhor seu pai, e camisa aos quadrados tipo inglês, de base branca em sarja, tudo isto sem marca à vista.
O Aurélio calçava botas tipo Timberland, pullover e parka da Burberry, calças de ganga e camisa aos quadrados de popeline.
O Bruno Miguel calçava sapatos Apache, blusão de pele cor de antílope, pullover Pringle e camisa de quadrados de terylene. O Rúben calçava botas de bico com fecho-éclair atrás (novinhas em folha), camisola de decote redondo, camisa escura de xadrez e um blusão de cabedal preto aos retalhos que tinha ido comprar à feira de propósito. O Larilas calçava ténis azul celeste de sola grossa e vestia uma parka verde, azul e amarelo e uma camisa Dolce e Gabbana estampada, debaixo dum polo Gant-USA, o que suscitou do Rúben o seguinte comentário :" Gant-USA ? Nem pequena quanto mais..."
Pelo caminho, foram ligando ao dr. Rui e ao Tatonas, que nunca atendeu, e a meio da viagem o Rúben observou "Se tiverem fome, trago ali uma bucha que a minha mulher preparou".Enquanto isto, o Larilas veio quase todo o caminho a fazer telefonemas.
Encontraram-se à porta do eng. Bernardo, uma vivenda na Lapa, às 17 e 30. Cumprimentaram-se e o eng. Bernardo distribuiu os dois quartos de duas camas, que foram sorteadas. Ficou o Larilas com o Aurélio e o Bruno Miguel com o Rúben e arrancaram logo para fugir ao trânsito, mas entretanto o Larilas decidiu não ir, dizendo que não estava ainda mentalizado para assistir a uma tourada e além disso gostava de ir tomar um copo com uns amigos ao Lx Factory, que nem conhecia.
O dr. Rui ia todo em marcas, botas de Valverde del Camino, calças da Hacket, camisa de riscas Ralph Lauren, rematado com um cinto de La Martina daqueles com muitas cores, por cima vestia o belo Cardigan ( da loja Labrador) azul marinho e à cautela levava na mão um corta-vento da Paul and Shark.
Eram já quase 20 horas quando passaram a Ponte Vasco da Gama e o tempo na opinião do eng. Bernardo tornava-se apertado para jantar, ao que o Rúben respondeu : "Está ali na mala a bucha da viagem que com certeza é farta. Paramos o carro e comemos o que lá vem". Bem dito bem feito, pararam debaixo de um plátano em posição de saírem rapidamente no fim, já que tinham combinado encontrar-se com o Larilas numa casa de fados às duas da manhã. 


A bucha deu para os cinco, e se fossem os sete também chegava, e constava de iscas de cebolada, bacalhau albardado (pequenas postas de bacalhau passadas por ovo e farinha e depois fritas em azeite), torresmos do véu, petingas fritas temperadas, escabeche frio ( vinagre caseiro, azeite e muito alho picado, que se juntam ao peixe acabado de fritar), entrecosto frito, ovos cozidos, chouriças e um naco de lombo assado temperado com pimentão e vinho branco, pratos de papel, duas facas, dois garfos, uma broa merendeira, um pão escuro, maçãs da Beira (não há melhores), uns queijinhos secos e de meia cura, um garrafão de vinho da terrinha e litro e meio de água do Luso.
Durante a bucha, o eng. Bernardo declarou que oferecia o almoço de sábado e o dr. Rui acrescentou que, no mesmo dia, a seguir à bola, o jantar seria por conta dele.
Esperavam encontrar o Tatonas na manifestação anti, que não se realizou, o que levou logo a este comentário do Rúben : "São uns cobardolas de merda, esses gajos...”
A corrida foi uma boa corrida. A. Ribeiro Telles foi muito apreciado pelo eng. Bernardo, seu amigo pessoal, e o dr. Rui enalteceu a classe de Ana Batista, enquanto os outros deliraram com as fintas (quiebros) de Filipe Gonçalves, do par a duas mãos e do cavalo a bater palmas. Os dois grupos de forcados da terra pegaram cada um um toiro à 1ª e dois à 2ª tentativas.
Saíram rapidamente, chegaram aos fados às duas e um quarto, sendo já esperados pelo Larilas, sentaram-se e pediram um bife à casa para cada um, que acompanharam (todos menos o Larilas, que bebeu uma cervejola) com um bom vinho do Douro, rematando, todos menos o Larilas, a ceia com um whisky. O Larilas pediu um Baileys, o que suscitou uma frase demasiado ordinária por parte do Rúben.
Já passava das quatro da manhã quando recolheram a casa, tendo ouvido por último uma fadista a cantar com raça notável: 

Cantarei até que a voz me doa
Pra cantar, cantar sempre meu fado
Como a ave que tão alto voa
E é livre de cantar em qualquer lado 

Todos gabaram a interpretação, mas o Aurélio, além do que tinha ouvido, vinha fascinado com as mamas da fadista...
Ao outro dia, levantaram-se ainda antes das dez - não estavam habituados a levantar-se tarde - tomaram o pequeno almoço em casa do eng. Bernardo, que este tinha pedido à mulher que tomava conta da casa. Dois termos, um com café e outro com leite, um jarro de água e outro de sumo de laranja ( autêntico), duas variedades de pão do dia, manteiga a sério com sal, marmelada e compota de cereja caseiras e um frasco de mel. No aparador da sala estava uma torradeira ligada a uma ficha para quem se quisesse servir, bem como uma fruteira de fruta da
época. Entretanto chegou o dr. Rui que, apesar de ter tomado o pequeno almoço em casa, para fazer companhia se arranjou com um café.
Montaram no carro já passava das onze e foram dar um passeio pela zona da Expo, que o Rúben não conhecia. O eng. Bernardo ia de condutor e o dr. Rui de guia. A certa altura diz o dr. Rui "aqui é o famoso Pavilhão Atlântico hoje Altice Arena". Comentando o Rúben “este é que é aquele pavilhão que o genro do Cavaco comprou por uma tuta e meia e ninguém sabe como ??? “ 










Já passava da uma quando finalmente chegaram aos Restauradores, estacionaram o carro e se dirigiram para o "Solar dos Presuntos", eleito pelo eng. Bernardo, por se comer bem e por o dono ser o famoso Evaristo, que ficou conhecido por ter sido cozinheiro da seleção e com o qual podiam tirar selfies.
A mesa estava marcada e a ementa escolhida, nisto o Evaristo viu o eng. Bernardo e saiu de trás do balcão para o cumprimentar efusivamente enquanto dizia : "o senhor tem tido falta… já para aí há duas semanas que cá não vem…" 







Sentaram-se e caíram na mesa duas Santolas Recheadas, um prato de
camarão de Espinho, outro de percebes granjolas e dois cestinhos com pão acabado de torrar com manteiga, enquanto outro criado abria uma garrafa de verde "Alvarinho" Palácio da Brejoeira. Logo que os comeres da mesa se estavam a finar, apareceram dois criados, um que trocou os pratos e outro que serviu três camarões tigres a la plancha a cada um, o que mereceu do Rúben o seguinte comentário " Nunca vi gambas deste tamanho…"
Depois de saborearem os tigres, veio uma tacinha pra cada um com água morna e uma rodela de limão. Substituíram de novo os pratos e foi apresentado a cada um um bife da vazia de carne maturada de rês de raça Salers, acompanhado com umas putas dumas batatinhas fritas cortadas em palitos grossos e uns grelinhos salteados.
Ninguém quis sobremesa… pudera. Tomaram o seu café, vindo o próprio Evaristo à mesa largar uma garrafa de whisky Old Parr,, enquanto dizia, sirvam-se à vontade, isto é oferta da casa.
O jogo começava às 5 e meia, o eng. Benardo e o Rúben eram sportinguistas, o eng. Aurélio e o Bruno Miguel eram benfiquistas, o dr. Rui era do Porto e o Larilas não era de nada.
No fim a opinião era unânime, o jogo foi uma merda, muito táctico e as equipas empataram a zero . 














Seguiram para a avenida da liberdade para o "JNCQuoi" ,situado entre a Louis Vuitton e a Dior. O dr.Rui não deu hipótese de escolha, iam comer o menu de degustação, que ele tinha experimentado e que transcrevemos de seguida. Como amuse bouche, Ferrero Roché de Fois Gras e Macarón de Caviar Tobiko... num prato muito fumegante de gelo seco. Um consumé de lavagante servido numa caneca, que levou logo como comentário que podia levar uma massinha.. Magret de pediz em cama de canónigos com redução de mirtilos da Beira Baixa…. De pré-fish encaixaram um quadradinho pequenino de estopeta de atum Bluefin ao natural (podiam ter cozinhado esta merda, disse o Rúben baixinho ao Bruno Miguel ) no meio de um prato transparente muito grande.. seguiu-se um rabinho de carabineiro com bisque rico do mar... Serviram para intervalar e limpar o palato um sumo de calamansi das Filipinas (como se alguém estivesse cheio). De pré-carne surgiram umas molejas de vaca e por fim o bife de minhota galega enrolado em couve lombrada DOC do Bombarral e risoto de cânhamo.. De sobremesa, um cheesecake de queijo da ilha com uma compota de abóbora e castanha de Trás-os-Montes, café e um petit four que era um pastel de nata ao contrário para sujar mesmo as mãos... Tudo isto foi acompanhado por brancos despeliculados e feitos com uvas tintas, rosés
feitos com moscatel roxo e outras tantas invenções e modernizações enológicas, terminando, como não podia deixar de ser, com uma botelha de Moet & Chandon Brut Imperial…. Escuso-me por uma questão de decência a reproduzir os comentários feitos pelos residentes em Vila Velha, durante a viagem de regresso, em que quiçá o mais suave foi este do Rúben : " Se o Rui metesse aquilo tudo no cu é que tinha feito bem…" 









Depois do jantar finérrimo e caríssimo, decidiram por curiosidade do Aurélio ir beber um copo a uma casa de que lhe tinham falado, conhecida por Elefante qualquer coisa… Chegaram à dita casa, mulheredo era mato, loiras, morenas, mulatas, brasileiras, espanholas, ucranianas, kosovares, romenas, etc, etc, etc, e também portuguesas… Os olhos da malta de Vila Velha rodavam a grande velocidade em todas as direcções, fazendo lembrar as slot machines. Nisto há um sururu entre uma brasileira e um homem. O Rúben levantou-se e foi lá perto ver o que se passava, meteu conversa com a brasileira, que lhe contou ter ido para a cama com o gajo e que este se pirara sem pagar, respondendo o Rúben : Ó filha, és nova nisto, de contrário saberias que nessa vida é dinheiro na mão e cu no chão..”
O Larilas, com ar de inveja, criticava os penteados de todas. Foram os últimos clientes a sair da casa, pese embora o ar de enfado do eng. Bernardo e do dr. Rui, que ao entrar no carro lamentou o Tatonas não ter aparecido, ao que o Rúben contestou : " Puta que o pariu…"